quinta-feira, 18 de junho de 2020

O Abrigo e as Pulgas..., por Livre Pensador

Livre Pensador
17/06/2020

O aquartelamento do Chai, onde a Ccav. 3508 esteve sediada desde Fevereiro de 1972 até Março de 1974, tinha vários abrigos distribuídos pelas suas instalações.


Mas os abrigos sempre tiveram uma dupla finalidade. 

Serviam para defesa dos ataques de morteirada e também serviam de "hotel" aos vários cães que permaneciam no aquartelamento. 


Este que se vê na foto estava localizado em frente da messe de sargentos.

Protegeu-nos de vários ataques (pelo menos 4, nas datas de 11/7/1972 - 8/8/1972 - 9/6/1973 - 14/10/1973), mas também fez com que sempre fossemos atacados por uma enorme praga de pulgas que eram companheiras dos cães que lá dormiam. 


No final de cada ataque era obrigatório tomar um bom banho para ficarmos livres de tantas pulgas.


O Livre Pensador


domingo, 7 de junho de 2020

Chegou a vez de eu comentar e tenho de recuar uma geração, por Duarte Pereira

07/06/2020
José Guedes - Chegou a vez de eu comentar e tenho de recuar uma geração. 

Não conheci os meus avós paternos, nem sequer os nomes, seriam de Oliveira de Azeméis e o meu pai acabou por migrar para Lisboa para trabalhar na Fábrica de Vidros Gaivotas, em frente à boca do forno. 

Cheguei a conhecer a minha avó materna de seu nome Marianinha, tinha o cabelo mais branco que a neve da Serra da Estrela, o meu avô materno fez um casal de filhos, emigrou e esqueceu-se da minha avó. 

Foi criada na Freiria, Concelho de Torres Vedras e por volta dos seis anos andei de burro com uma cilha e não sei ainda se era de sua propriedade. 



Constatei que havia por lá um barracão com umas pipas de vinho.

A irmã da Marianinha de seu nome Gertrudes emigrou para Lisboa para uma casa senhorial a que agora chamam Palácio Ratton e que nós chamávamos a casa do Rua do Século.



Como a pobreza grassava, a minha tia Gertrudes deve ter chamado a minha mãe para aprender costura e trabalhar em linho e fazer berliques e berloques nos lençóis da fidalguia que lá morava.

A minha mãe Lourdes e o meu pai Armando conheceram-se e tiveram um casal. 

Eu na maternidade Alfredo da Costa em Lisboa e a minha irmã Teresa seis anos depois na Maternidade do Monte Estoril.

Com os dois filhos a minha mãe ficou em casa e o meu pai arranjou outro emprego como empregado de mesa na pastelaria do marido da Gertrudes e à noite ainda ia trabalhar para o cinema Académico, também em Cascais a arrumar as pessoas nos lugares, nos intervalos no bar e ainda arranjava o jardim do empreendimento.

Ambos são falecidos e acho que nunca tiveram férias.

Vidas difíceis que eu nunca conseguiria agradecer.

Conseguiram dar o 7º ano do Liceu à minha irmã ( sem chumbar), e um curso de dactilografia e estenografia.

Eu fiquei com o 5º ano do liceu e não me façam perguntas quantos anos demorei a fazê-lo 

Nota : E as praias ali tão perto.



Faz hoje 49 anos..., que um comboio me transportou até há Figueira da Foz..., por José Guedes

José Guedes
07/06/2020

Bom dia gente boa, hoje é domingo mas faz hoje 49 anos era segunda feira, foi nesta estação que um comboio me transportou até há Figueira da Foz com os seus respectivos transbordos,. 

Dia em que os meus Pais deixaram de me dar ordens e passei a obedecer a gente que nunca se importaram de mim quando andava descalço e passava fome porque naquela altura não existia subsídios para quando não se podia trabalhar porque os Invernos eram rigorosos e não havia abono de família,. 

Logo eu que nunca tinha saído da minha terra e tive que enfrentar gente já muito vivida mas aos poucos lá me tive que ir integrando e já mobilizado para o ultramar mesmo com toda aquela tristeza nem tudo foi mau, conheci uma nova família que ainda hoje nos vamos encontrando e vamos comunicando e ao mesmo tempo abriu-me um pouco os olhos para que pudesse trabalhar noutra área que não a lavoura,..
Como o tempo passa e já lá vão estes 49 anos, caso para pensar que estou a ficar velho,.. 

um bom domingo e bom apetite para o almoço,. 
abraço a todos os amigos,,.

quarta-feira, 3 de junho de 2020

O içar e arrear da bandeira..., por Livre Pensador

Livre Pensador
03/06/2020


Apesar da Ccav. 3508 estar colocada no "inferno" do Chai, isso não impedia que determinadas "burocracias militaristas" ficassem esquecidas, como era o caso do içar e arrear da bandeira portuguesa todos os dias. 

Aqui está a foto com o comprovativo dessa habitual tarefa, que neste caso é o içar da bandeira. 
Perguntarão vocês, qual a certeza de ser o içar da bandeira? 

Essa garantia é dada pela direcção das sombras dos intervenientes na cerimónia, que são: soldado Diamantino (clarim), furriel Ribeiro (sargento de dia), 1º. cabo Rodrigues (cabo de dia), 1º. cabo Ferreira e soldado Malícia.



O mundo por vezes também é pequeno..., por Fernando Lourenço


20/06/2015

Por várias vezes ao longo do ano faço os possíveis por manter o contacto com alguns camaradas e sou nisso retribuído. 

Telefono e telefonam-me, falo pelo Skype, convido e sou convidado para umas patuscadas tanto em casa como fora. 

Esta experiência humana de vital importância, esta grande riqueza que é a de ter aquele sentimento de puro desinteresse e sem egoísmos como é a amizade também tem de ser alimentada. 

E a única forma de ter amigos é ser amigo. 

Nem sempre isso é possível por várias, por vezes dolorosas razões. 
E acontecem estes convívios. 



Aí temos a alegria de rever pessoas com quem passámos algum tempo e foram importantes para nós.

Foi o caso deste convívio. 



Apareceu o Batanete. 

E se o contentamento honesto como nos abraçamos não precisasse de palavras, o Batanete fez questão, com algumas frases como só ele as sabe dizer daquela forma divertida, me fazer vir à memória os bons momentos que me fez passar. 




Também vi o José Caldeira. 
Creio que foi a primeira vez que ele foi a um convívio do Batalhão. 



A última vez que o tinha visto ainda o Campo Maior jogava na 1º divisão e eu fui fazer uma transmissão dum jogo qualquer e ele ao ver-me foi ter comigo. 
Muitas vezes ao longo destes anos eu me lembrei dele com o pensamento de que o gostava de rever. 
E aconteceu. 

Também me foram ver, e isso também o devo ao Jose Capitao Pardal, amigos que tenho em Estremoz, que ao saber por ele que eu ia lá, fizeram questão de me ir ver. 



A razão de eu mencionar isto é por estes meus amigos serem amigos também de alguns elementos do Batalhão e suas famílias e só agora ao fim de 40 anos terem sabido disso. 

O mundo por vezes também é pequeno.

Mais uma... HM125 Nampula, por José D'Abranches Leitão

Mais uma...
Fevereiro de 1971.
HM125 Nampula
Recordo a minha “estada” no Hospital Militar de Nampula HM125, numa cadeira de rodas, após uma intervenção cirúrgica aos pés, Seriam um mês vinte e seis, naquele Hospital.

Recordo-me que fui operado no dia 31 de Janeiro de 71, e ainda com “anestesia local”, (na altura não havia outra no bloco operatório e tive de assistir à operação!!!) e assim que me colocaram na cama fui parar ao chão pois tinham tirado as pernas da cama! 
Praxe esta que viria a ser continuada por mim, sempre que alguém vinha para o meu quarto, saído do bloco operatório.



Nos primeiros dias, as “petidinas”, derivado da morfina atenuam, e de que maneira, as dores! 
Mas depressa me tornei um dependente desta maravilha que me deixava em extâse! 
Sentia-me a levitar!!! 
Que maravilha!

Ao fim do 3º dia, sou informado pelo Enfermeiro Henrique (de Coimbra) que não podia dar-me mais “petidinas”, por ordem do médico, pois estas eram necessárias para o pessoal que, diariamente chegava de heli, quer de Cabo Delgado, quer de Tete, quer do Niassa!!!

Foi o fim da “picada”! 
Sob a ameaça de que lhe daria um “tiro” logo que saísse do Hospital, lá condescendeu, a troco de umas cervejolas,  lá me continuou a “picar” de 6 em 6 horas!!! 
Que alívio!!! 
Parecia que estava no paraíso, embora encharcasse completamente o pijama e lençóis.

Vim a saber mais tarde, pelo mesmo enfermeiro, de que as ultimas injecções não eram à base de “morfina” mas sim de água destilada! 
A sugestão faz tudo!

Impressionante!
Muitas mais histórias teriam se ser contadas, vividas neste HM125.

José Leitão
CCAV 2752

A Bela e o Montro, por José D'Abranches Leitão

Memórias...HM125
Fevereiro 1971
Outras teria para contar, desde a malta que baixava ao hospital para fazer a circuncisão (seriam 8 dias fora do teatro da guerra)! 
Aqui mais uma vez a minha "terapia” resultava, ou talvez não! 
Quando chegavam ao quarto, este estava todo embelezado (paredes, tecto, chão, mesinha de cabeceira, etc) com fotografias da Playboy e similares, para animar o pobre diabo que saia do bloco operatório com 2 ou 3 pontos na cabeça do dito! 
A terapia seguinte, sem qualquer sadismo, era a de chamar o “vela” para ir buscar um balde e  mergulhar os pulsos em água fria!
Os ânimos, e não só, acalmavam!

Um belo dia chega o Furriel Carvalho do Esquadrão de Cavalaria com as duas pernas e um braço partidos! 
A “Panhard” tinha accionado uma “bomba de avião”, dos nossos Caças, que não rebentava ao cair no solo (vegetação serrada?) e o IN aproveitava para as colocar debaixo de uma anti-carro!!!

Após várias intervenções cirúrgicas, eis o Carvalho todo engessado! 
Naquele estado não saía da cama e sempre virado para o mesmo lado!

No mesmo dia, deu entrada uma Furriel Milº muito alto, que vinha de Tete, que aparentemente não tinha nada! 
Esperavam-no umas consultas de psiquiatria!

Intitulava-se “miss Katty”, nome artístico e era “travesti” !!? 
Como logo passou a usar a frente das nossas camas como “passarelle”, pavoneando-se e fazendo
inveja a muita “Stripper”, organizei uma sessão artística sob o tema “A Bela e o Monstro”. 

Foi difícil convencer a personagem que fazia de Monstro, pois a Bela só queria que fosse o Furriel Milº Lencastre, que estava naquele hospital, com os dedos da mão direita todos partidos! 
Segundo se constava por causa de um murro dado numa parede para não esmurrar a cara de um Sarg Chico.

Noite de lotação esgotada, pois foi feita uma boa propaganda do evento nas outras enfermarias e quartos do HM125!!!

Claro que o “desastre” aconteceu quando a Bela queria descascar o Monstro! 
Este mesmo com o gesso na mão, desferiu valente murro “na pobre Bela”, que caiu sobre a malta que estava “apinhada” em cima de cadeiras na entrada do quarto!

No dia seguinte, Katty lamentava o rasgo numa das peles de raposa prateada, com que iniciava o Show!!! 

Segundo ele, peles muito caras, vindas do Brasil para os seus espetáculos!
José Leitão
CCav 2752