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terça-feira, 28 de novembro de 2017

O nascer do dia no Alto da Pedreira..., por Duarte Pereira

Duarte Pereira 
O NASCER DO DIA.
Mais um dia iria nascer.

Muitos soldados ficaram de vigia ao relento, tentando não adormecer.
Frio, chuva, humidade, nevoeiro e uma ansiedade constante....

O que nos calhará hoje na "rifa". ?

A nossa agenda chegaria no posto de rádio.

Coluna que viria?, até onde iria.?
Quem ficaria ou quem seguia. ?
Altura de alguns regressarem a Macomia.

Organizar a protecção às obras da construção da estrada.

Entretanto a base já fervilhava com as "canecas de metal", para se tratar do "mata bicho". 

Quando chovia, corridas curtas de um lado para o outro, para procurar abrigo.

Chegava a coluna, que era saudada pelos que estavam a proteger os trabalhos na estrada.

Nova saudação quando entravam na base.
Confesso que eram dos momentos mais alegres e que esquecíamos por momentos aquela "prisão" onde vivíamos.

Se a coluna continuaria para o Mucojo, muitos "voluntários", se ofereceriam para a reforçar. 
Não me lembro de ter comido uma refeição quente no Mucojo.
Só me preocupava com a pesca e andar dentro de água.

Parece que haveria um bar com cervejas frescas.

Altura de formar a coluna para o regresso, paragem no Alto da Pedreira e os "sortudos" seguiriam para Macomia.

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Clima de Moçambique

Clima tropical. 
A estação seca prolonga-se desde abril até outubro, com temperaturas mais baixas (de 15°C a 20°C).

O clima se torna cálido e húmido durante a estação chuvosa de novembro a março. 
As temperaturas, então, oscilam entre 26°C e 31°C, aumentando para o norte de Moçambique. 
As chuvas também são frequentes no norte e no centro (planalto, interior do país) mais que no sul de Moçambique.

Geralmente, os dias costumam ser ensolarados.



Pegas - Este texto traz algumas recordações ?

Leonel Pereira Silva Bom dia Duarte Pereira que abriste a porta mais uma vez e me transportaste mais uma vez para aqueles locais no norte de Moçambique, o alto da pedreira não fez parte das minhas colunas. 
Um abraço e bom dia.

Duarte Pereira Leonel Pereira Silva - Se te tivesses "portado mal", podia ser que o Major te mandasse para lá de "castigo", como aconteceu ao Américo Condeço, que não era da minha companhia.

Leonel Pereira Silva Portei-me sempre bem, mas a caderneta tem lá umas "escritas" a vermelho porque os "chicos ladrões" andavam a abusar no que dizia respeito ao "rancho" e eu fui dos que ateei a fogueira para fazer-mos levantamento de rancho. Mas para compensar depois deram - me um louvor.

F.D.P.

Pegas Albino Sêm dúvidas Duarte isso existe por todo o lado ,,

Duarte Pereira Pegas Albino - Há mais "malta" da 3509 no Grupo, mas não sei se irão ler.

José Guedes Boa tarde Duarte e todos os outros que vão aparecendo ou espreitando pela página,. mais uma vês gostei do teu entretimento na escrita, ainda tens boas lembranças e boas iniciativas,. eu sem castigo tive que ir muitas vezes ao Mucojo e tenho memória daquela picada mas não me recordo nada do alto da pedreira,.. essa parte ficou esquecida na minha memoria,...


Armando Guterres apanhei chuva do Mucojo até ao Alto da Pedreira ... ia enxuto na berliet, suponho que de pé agarrado à grade da frente. 
Quando virámos à direita, a nuvem apanhou-nos e tão molhado como os outros ...

Não entrei nessa de escalas, e ainda menos, de protecções que não houve. Só na preparação da op machamba, no gabinete do sargento, entrei na feitura da lista que "ME ACOMPANHARIA" ao Quiterajo.

Manuel Martins Fonseca Boa tarde Duarte Pereira e a todos que por esta página vão aparecendo, como sempre um texto bem escrito, e a recordar algumas peripécias, passadas numa guerra que nada tinha a ver connosco, para mim foram roubados alguns anos da minha mocidade, acho que também para todos os jovens que estiveram nessa guerra de interesses governamentais e acção psicológica e não só, também para encher os bolsos aos chamados Chicos, pena foi os que por lá ficaram, mas felizmente estamos cá nós, e vamos vivendo o dia a dia com comentários e algum humor, porque este brinquedo (facebook) assim nos permite, por vezes até dá a impressão que alguns camaradas se conhecem uns aos outros o que é algo de muito bom, eu pelo menos com a excecção da CCS poucos conheço das companhias operacionais, mas temos tempo pessoalmente, para pormos algumas conversas em dia nos próximos convívios, isto se aparecerem os mais ausentes, caso do Duarte PereiraGilberto Pereira e mais alguns. 
Por hoje finalizo este meu texto, não sei se bem ou mal mas é isto que tenho na ideia, tenho apenas o 2º grau ou 4ª classe como preferirem. 
Meus amigos desfrutem desta terça-feira o melhor que puderem. Um grande abraço de amizade para todos

Gilberto Pereira Queres é apanhar-me por aí para ajustares contas Manuel Martins Fonseca 

Américo Condeço BEM ESGALHADO este texto .


Duarte Pereira Uma acção pode desencadear uma reacção. 
Neste caso foi bom que, depois da minha publicação , alguns se preocupassem em escrever mais de uma palavra. Manuel Martins Fonseca, uma quarta classe (antiga) "bem tirada", corresponde agora a um 12º ano. 
Quem tiver dúvidas , leia o teu texto. 
Abraço. 
Nota - Eu, o Gilberto Pereira , o Fernando Silva e Horácio Cunha, sentados na mesma mesa nos anos ? : 
Organização do João Novo e do Fernando Bento

Não foi assim há tanto tempo.


Duarte Pereira Seria a tenda de transmissões?
Latas de cerveja vazias junto à minha bota esquerda -  . 

Atrás a tenda dos géneros, um alguidar a sair para a rua?. 
Uma cobra a querer entrar na tenda ? 

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

A nossa visita de hoje ao Alqueva, por Duarte Pereira




Vamos dedicar este texto ao Sr Marcelino, que amanhã há muitos anos, começou a estar cá.
GRANDE AVENTURA
...
Quando chegamos ao Alqueva estava todo molhado.


As paredes da frente estavam húmidas de suster a água que levava atrás.
Todo o ano a bater na parte de baixo das costas deve dar um certo desconforto.
Quando pode largar o repuxo à frente será uma sensação indescritível quase sexual.


Queríamos dar € 5,00 ao Sr que tomava conta daquilo para abrir as torneiras.
Ele disse que não, por causa das turbinas, no nível da barragem mais não sei o quê.

Gostámos do dia.
Na volta até viemos devagar.

A palhinha do garrafão estava tão dura que até parecia de plástico.
Foi com vinho e regressou com água do Alqueva, para vender aos turistas.

Ao fim de um tempo o Toino viu uma brigada da G.N.R. e resolveu parar para lhes dar os parabéns.
Sim senhores, bela auto-estrada, nem passei os 120 Km/h.

Resposta do agente - O senhor acaba de sair de uma estrada municipal. Venha mas é soprar o balão. 
O Toino rebentou com três e não foi multado.

Ainda ouviu um recado via rádio para as outras patrulhas, para não nos mandarem parar. 
O material está caro.

Lá chegamos a casa. 
Vamos descansar duas horas e depois logo se vê.

domingo, 12 de novembro de 2017

Ó Manel! cómer é tan bom e drumir???, por Armando Guterres

Armando Guterres 
para BATALHÃO DE CAVALARIA 3878
Ó Manel! cómer é tan bom e drumir???

Em 25 meses, vivi no aquartelamento da Mataca, no quartel de Macomia.

Dormi antes e depois de uma operação no Quiterajo.

Dormi muita vez na ponte Muagamula e poucas no Alto da Pedreira.

No mato da Mataca foram muitas noites, quase todas, bem sossegado.

E à cidade da Baía de Pemba fui cinco vezes levantar os dinheiros da companhia.

Abancávamos os quatro (um por companhia) na pensão Rosas.

Nas férias, sempre em casas particulares, de familiares e amigos.

Restou a primeira noite, no fundo de um corredor, em cima de um monte de colchões no quartel de Porto Amélia.


segunda-feira, 8 de maio de 2017

Agradecimento do Sr. Duarte, por Duarte Pereira

Duarte Pereira
2014-
QUERO AGRADECER A TODOS OS AMIGOS QUE SE LEMBRARAM DE MIM NESTA DATA DO MEU ANIVERSÁRIO.

TAMBÉM NÃO É DIFICIL, COM A PUBLICIDADE QUE ESTÁ FEITA NA PÁGINA DO BATALHÃO.

É DIFICIL AGRADECER UM A UM .

ESTOU A PENSAR FAZÊ-LO LÁ MAIS PARA A NOITE.

NOTA: É CAPAZ DE TER HAVIDO UM POUCO DE EXAGERO NESTA MINHA COMEMORAÇÃO.

REALMENTE HOUVE SURPRESAS E NÃO ESTIVE METIDO NISSO.
OBG.

O QUE É QUE É ??
LEMOS NO NOSSO EMAIL OS COMENTÁRIOS QUE FORAM FEITOS NA NOSSA AUSÊNCIA.
...
SIM. FOMOS CONVIDADAS PARA O ALMOÇO DE FAMÍLIA DO SR DUARTE.

LEMOS PALAVRAS SIMPÁTICAS DE MUITOS DE VÓS.
DEPOIS LEMOS UM TEXTO SOBRE "AMIZADE".
NÃO IREMOS FAZER CONSIDERANDOS SOBRE O MESMO.
JÁ HOUVE MUITOS COMENTÁRIOS E OPINIÕES.

PARA NÓS "AMIZADE" É UMA PALAVRA MUITO ESPECIAL
DURANTE A NOSSA JUVENTUDE PODEMOS TER TIDO MUITOS AMIGOS, DEPOIS NO EMPREGO, (QUANDO HAVIA).

HOUVE O CASO ESPECIAL DOS EX-COMBATENTES.



PARA NÓS HÁ TRÊS INIMIGOS POTENCIAIS PARA UMA QUEBRA DE AMIZADE.
PARA OS HOMENS - MULHERES, FUTEBOL E POLÍTICA.
PARA AS MULHERES - AMIGAS, MULHERES E AMIGAS DO CORAÇÃO.

DEPOIS DOS NOSSOS QUARENTA ANOS AS AMIZADES JÁ DEVERIAM ESTAR SOLIDIFICADAS.

O SR DUARTE PERDEU OS AMIGOS DA SUA JUVENTUDE, ALGUNS JÁ FALECERAM.

PERDEU OS AMIGOS DO SEU EMPREGO.
FOI MORAR PARA LONGE E OS ANOS AFASTARAM-NOS.

GUARDA OS QUE LHE FIZERAM "COMPANHIA" EM MOÇAMBIQUE.
UNS MAIS, OUTROS MENOS.

AGORA A NOVIDADE QUE ACABA POR NÃO O SER.
FOI ESTA "COISA" DO GRUPO DO BATALHÃO QUE APROXIMOU O SR DUARTE DOS ALMOÇOS.

DESDE 2002 FEZ GAZETA ATÉ 2012.
AGORA FEZ TRÊS SEGUIDOS E ESTÁ MAIS OU MENOS COMPROMETIDO PARA 2015.

A AMIZADE CONSTRÓI-SE E CULTIVA-SE.

BEM HAJA QUEM CRIOU ESTE GRUPO, PORQUE O SR DUARTE E NÓS PODERÍAMOS ANDAR NA CLANDESTINIDADE.

BEIJINHOS A TODOS.

domingo, 23 de abril de 2017

A arte do desenfianço, por Gilberto Pereira


" JORNAL DA CASERNA "

NA SUA EDIÇÃO DE HOJE PODEMOS LER UM PEQUENO TRECHO INTITULADO:
" O MILITAR DESENFIADO "



DECERTO TODOS O CONHECIAM, ODIADO POR UNS AMADO POR OUTROS.
(Gilberto Pereira?...)

NÃO TENDO RESISTIDO AO EXCESSO DE ALCÓOL A FIM DE ESQUECER A MATILHA MILITAR, FOI VITIMA DE FEBRES ALTAS, TENDO SIDO EVACUADO PARA HM MUEDA E POSTERIORMENTE TRANSFERIDO PARA O HM NAMPULA.

AÍ FOI INSTALADO NUMA SUITE MILITAR E TEVE OS CUIDADOS MÉDICOS DE ACORDO COM A SUA PATENTE.

FORAM SEIS MESES DE LUTA CONTRA A DOENÇA, MAS AO MESMO TEMPO SEIS DE DESCANSO E LAZER.


ESTES DIAS ERAM PASSADOS DO SEGUINTE MODO:

ÁS NOVE HORAS DA MANHÃ A FEBRE APARECIA E IA ATÉ AOS
41,5º FAZIA EXAMES E ANÁLISES ORA NO HM ORA NO HC.

Á TARDE POR VOLTA DAS 4/5 HORAS A FEBRE DESCIA ATÉ AO
NORMAL. 

DEPOIS UM DUCHE UM "LANCHITO" E A FUGA PELO ARAME FARPADO EM DIREÇÃO Á CIDADE NA COMPANHIA DE OUTROS CAMARADAS TAMBÉM MUITO DOENTES.

UMA VEZ CHEGADO À CIDADE UMA PEQUENA GULOSEIMA NO PORTUGAL, UNS MORANGOS COM CHANTILY VITAMINAS CONTRA OS ANTIBIÓTICOS QUE A SANITA ENGOLIA.

DEPOIS UMA VOLTINHA LÁ PARA BAIXO QUE VOCÊS CONHECEM BEM AFIM DE MANTER A FORMA FISICA. 

DEPOIS TÁXI PARA CIMA EM DIREÇÃO À "FLORESTA" UM JANTAR PARA RETEMPERAR FORÇAS. 

JÁ É NOITE UM CINEMA DE VEZ EM QUANDO E PARA FINDAR A NOITE NADA MELHOR QUE UNS CAMARÕES E UMAS BAZUCAS NA "MARISQUEIRA A TAL PONTO QUE O REGRESSO AO HM TERIA DE SER FEITO EM TÁXI E QUANTAS VEZES NELE ENTREI DE GATAS COMO SE FOSSE AINDA MENINO.

AGORA O PIOR ESTAVA PARA VIR: E COMO ENTRAR NAQUELE
ESTADO SE AO CIMO DA RAMPA NO PORTÃO ESTAVA UM CHECA? 

NÃO HAVIA DISPENSA NEM PAPEL NENHUM COMO FAZER? 

A CABEÇA QUADRADA, AS PERNAS NÃO AJUDAVAM MUITO E O DESEQUILÍBRIO ERA CONSTANTE A PONTOS DE A MEIA RAMPA VIRAR PARA BAIXO.

APÓS ALGUMAS TENTATIVAS E PERANTE O OLHAR ATERRORIZADOR DO CHECA LÁ CONSEGUIA CHEGAR AO PAU DO PORTÃO QUE ME SERVIA DE BENGALA, E AGORA?

O CHECA DE ARMA APONTADA DIZIA: A SUA DISPENSA? E EU RESPONDIA: QUAL DISPENSA QUAL ???..........., MOSTRAVA O CARTÃO MILITAR E PUXAVA DUM MAÇO DE NOTAS E ENTREGAVA UMA DIZENDO TENS AÍ A DISPENSA E AMANHÃ HÁ MAIS--------.
E ASSIM ENTRAVA ENQUANTO ELE SORRIA PARA A NOTINHA E DIZIA BOA NOITE.

TODOS OS DIAS A HISTÓRIA SE REPETIA ATÉ QUE AO FIM DE SEIS MESES ESTAVA TESO E FINALMENTE A DOENÇA ESTAVA DESCOBERTA. 

IAM-ME DAR ALTA E EU IA PARA OS ADIDOS. 
ENTRETANTO JÁ TINHA PEDIDO MAIS DINHEIRO QUE CHEGOU NA HORA CERTA. 

AO CHEGAR AOS ADIDOS Á ESPERA DE TRANSPORTE PARA MACOMIA, FUI INFORMADO PELO OFICIAL DE DIA QUE SÓ TINHA COLUNA PARA MUEDA NA PRÓXIMA SEMANA E QUE ESTARIA DE SERVIÇO NO OUTRO DIA, AO QUE RESPONDI: NÃO NÃO FAÇO SERVIÇO NENHUM, TIRE ESSA IDÉIA DA SUA CABEÇA E ELE RESPONDEU: ENTÃO NÃO VENHAS VER A ESCALA NÃO!

COM DINHEIRO NO BOLSO FUI COMPRAR PASSAGEM DE AVIÃO NO MESMO DIA VOEI PARA PORTO AMÉLIA E Á TARDE DE TÁXI AÉREO PARA MACOMIA. 

APRESENTEI-ME COM O PAPEL DA BAIXA E TUDO FICOU BEM. 
ESTAVA ENTÃO DE VOLTA Á CASA MATERNA. 

ESTÁVAMOS POR VOLTA DOS ANOS 73 CREIO NÃO SOU MUITO BOM EM DATAS, MAS PELO PAPEL QUE TINHA DEVIA SER ISSO.
TEMPOS QUE JAMAIS ESQUECEREI.....

AS SAUDADES FORAM TANTAS QUE MAIS TARDE VOLTEI LÁ (HMN).
DESTA VEZ POR MENOS TEMPO, A METRÓPOLE ESTAVA PERTO.

MUITA COISA FICOU POR DIZER, JÁ VAI LONGA A CONVERSA E O VOSSO TEMPO É PRECIOSO.

UM ABRAÇO A TODOS.

domingo, 19 de março de 2017

Memórias da Guerra Colonial, por Manuel Neves Silva


O Cachicha (Soldado GE, Maconde)- Memórias da Guerra Colonial

Por Manuel Neves Silva-Furriel Miliciano GE

Todos os soldados do meu Grupo Especial (GE) eram macuas muçulmanos, á excepção de dois que eram macondes e católicos, o Cachicha e o Chitapata. Esqueci-me completamente do nome do primeiro e se agora ainda a minha memória o chama de Cachicha é culpa minha, assumidamente minha porque o nicknomeei assim mesmo, de Cachicha. E à força do hábito e facilitismo de assim o chamar, este nome virou verdade, o outro ficou esquecido.

Ele, o Cachicha era de estatura baixa, afável, sempre com um sorriso na sua cara tatuada e de dentes afiados. Do seu uniforme camuflado apenas o quico lhe enchia a cabeça, o resto, calças e camisa sobravam muito para além da altura breve do seu corpo. Aceitou prontamente a alcunha, imposta como castigo, por querer partilhar sempre uma das minhas latas de salsicha, uma das poucas viandas que se tragavam na ração de combate para além da sardinha portuguesa e da enlatada carne de vaca” Fray Bentos” made in South África.

O Cachicha, maconde e como tal “católico”, não tinha problemas em comer carne de porco. Os outos macuas islamizados dispensavam o pecado por respeito a Alá, embora outro tanto não fizessem em relação à cerveja, quando esta aparecia no pacote. Este pecado do álcool, talvez Alá tolerasse. Talvez, por ser um pecado mais líquido, mais fluido, menos encorpado, mais evaporável. As salsichas eram sólidas, de aspecto fálico e eram mesmo o pecado da carne, da carne do sujo porco.

Era comum entre macuas e macondes a troca de latas de sardinha por latas de salsicha, cambio sempre inflacionado a desfavor dos macuas. A Manutenção Militar do Exército nunca teve em conta a confecção das rações de combate em função da religião destes soldados. Eles como não comiam as pecaminosas salsichas, ou as deitavam fora ou teriam de aceitar o preço de troca imposto pelos macondes que geralmente só abriam mão de uma de sardinha em troca de duas ou até três de salsicha.

 O Cachicha gostava de comer. De tudo comia na ração de combate. Seus dentes afiados de maconde davam-lhe todas as vantagens nessa tarefa. E mesmo depois de barganhar aos seus camaradas macuas duas ou três latas de salsicha, por apenas uma de sardinha, quase sempre abeirava-se de mim com o mesmo discurso: Siliva, nosso pai, anipe cachicha moja.

Depois de tantas vivências de tantos perigos partilhados, de tantos minutos com estatuto de horas, de tantas esperanças de que o pior não iria acontecer e que o melhor estaria sempre para chegar, eu já entendia a outra língua, para eles mais espontânea, mais corrida, mais natural. Neste crioulo suaíli-macua-português, eu o Silva que me orgulhava de ser tratado de pai por todos eles, macuas e macondes, acabei por entender: Silva, nosso pai dá-me uma lata de salsicha. Deste saboroso crioulo e do engraçado modo como corrompia a palavra salsicha, e ainda porque o seu original nome maconde se tornava difícil ao meu chamamento, assim mesmo o renomeei: Cachicha.

 O Cachicha aceitou. E Cachicha ficou “oficialmente” a ser Cachicha.

Cachicha, digo-te que hoje eu já não sei se recordo a guerra, ou já recordo as recordações da guerra. Na minha memória há uma linha ténue onde se misturam e confundem as vivências passadas com os pesadelos presentes. Nessa bruma esbatida ainda te revejo camuflado na tua demasiada farda, de G3 aperrada ao peito de olhos e ouvidos sempre em alerta.

 Cachicha gostava de ver-te, de abraçar-te, de falar contigo em Suaíli ou português. Sei que a vossa esperança de vida aí em Moçambique é curta, e tu eras bem mais “kokuana” do que eu. Possivelmente já por aí não estás, mas onde quer que te encontres quero deixar-te um abraço e manifestar-te a minha gratidão. Gratidão pelas vezes que me salvaste a vida com os conselhos e avisos de quem sabia de cor cada palmo dessa terra, porque nela nasceste, cresceste e te fizeste soldado, talvez no lado errado da guerra se é que essa guerra teve algum lado certo. Foram os anos onde os jovens do meu e do teu país morriam e matavam por razões que nem eu sentia, nem tu entendias.

 Bem hajas Grande Cachicha! Tenho “maningue” saudades vossas.

Manuel Neves Silva-




Manuel Neves Silva
-Furriel Miliciano GE
-MEMÓRIAS DA GUERRA COLONIAL
Manuel Neves Silva carregou um ficheiro.
Penso que já publiquei este meu texto sobre as minhas vivências da guerra. 
Se assim for ,volto a postá-lo de novo e dedico ao Duilio Caleca, que partilhou comigo a célebre coluna de Nangololo e tb ao Jose Monteiro, que passou por Mueda antes de mim, camaradas que conheci há uns meses atrás num restaurante de Lisboa. 
Dedico de igual modo a todos os elementos do Picadas.
  • Pedro Inácio Excelente texto. Parabéns!!!

  • Augusto Mota Gostei, PARABÉNS.

  • Jose Monteiro Manuel Neves Silva, adorei o teu texto.
    Será que iremos a tempo de ver o Cachicha e outros Cachicas de Moçambique??? 
  • Um abraço.


  • Duilio Caleca Bem haja a quem consegue retratar por escrito os sentimentos de grande amizade e companheirismo que todos nós deixámos por lá.
    Manuel Neves Silva tocaste num ponto que é a grande realidade. Será que na guerra haverá lado em que se devia de estar????
    Aquilo que me baralhou completamente essa ideia, foi que alguns "amarelados" fizeram de tudo para que "matássemos" o inimigo. 
    Pós 25 os mesmos "amarelados" disseram para nos darmos bem com o inimigo.

  • Januario Batista Jorge Muito obrigado por nos falares do teu Cachicha Maconde para nos relembrarmos dos outros "Cachichas ". O meu tinha o nome de Saíide, era macua e era mainato na messe do quartel do Chai. 
    Quando Saíide fazia algo muito bom o prémio era de loucura: um copinho de "água de Lisboa " (aguardente), que o MNF fazia o favor de transportar aqui de Castelo Branco para o Chai sem grandes demoras. 
  • Um dia estava eu sentado na messe a ler um "Seculo Ilustrado", que tinha sido recentemente enviado daqui e na pagina central tinha uma foto da Praça do Comercio, tirada do TEJO para cá. 
  •  Saíide estava a espreitar a foto e disse : Paliota maningue grrrandeeeee. 
  • E depois perguntou... Isto é teu terra pá? 
  • Sim isto é a minha terra; 
  • Isto é Lisboa e este rio é o Rio da água de Lisboa. 
  • Saltou para a minha frente, ajoelhou-se, juntou as mãos e disse : Faz favor ... leva mim teu terra ... eu jura mesmo... morre neste rio! 
  • Saíide ficou no Chai... possivelmente a sua alma já visitou o seu rio da "água de Lisboa " mas nunca me falou da sua vinda. 
  • Mas eu tenho saudades e deixo um abraço.

  • Manuel Neves Silva Bonita história,sabiamente contada. 
    Quem por lá andou e sofreu entende e sente esta tua prosa Januario Batista Jorge.

  • Januario Batista Jorge 
  • ESTA É SÓ PARA OS EX-COMBATENTES... Saìde era gente grande no Chai.
  • Mainato di nosso Alferi e di nosso Furieri na messe. 
  • Tinha pernas de gazela e como elas movia-se de forma ligeira e graciosa. 
  • Andava sempre limpo e com roupa que nós lhe dávamos, tinha algum dinheiro, óculi escuro e rádio. 
  • E a crescer na escala social dos Macuas. 
  • Régulo deu ordem para Saìde comprar mais um mulheri .Passava a ter dois mulheri. 
  • O Régulo tinha 3.

  • Januario Batista Jorge Estávamos a comentar isto e Saíde chegou e nós dissemos: Tu tens que ver o que é uma mulher branca para saberes realmente como é bom. 
  • Saíde, com as suas pernas de gazela, começou aos saltos que quase parecia a Margot Fonteyn e dizia... eu já vi!... eu já vi passarinho. 
  • Eu no Mueda era mainato de nosso Sargento. 
  • Um dia senhora no banho, chama...Saìde?... Saìde?.. traz toalha a sinhora. 
  • Saìde levou toalha e viu senhora branca. 
  • E faz favor pá, meu xoriço cresceu 30 kilos pá .

  • Francisco Mota Dores Ahahahahahahahahahahahahahahahah

  • Manuel Neves Silva Gosto do teu modo de escrever...as histórias estão muito bem contadas...Continua tens muito jeito Januario Batista Jorge

  • Manuel Neves Silva Francisco Mota Dores, Obrigado pelo esforço, mas ainda assim o meu texto "Cachicha Maconde" visualiza-se melhor no documento "docx" que postei.

  • Francisco Mota Dores Já clicou em cima das fotos ?

  • Manuel Neves Silva Já. mas o docx abre maior e com mais nitidez