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Escola Prática de Cavalaria - Santarém |
... a diferença entre a instrução de Lamego e de Santarém não seria assim muita. A diferença mais notória estaria na forma como se interpretava essa instrução.
Mas já que falei de Santarém e uma vez que já alguns camaradas aqui contaram a sua experiência sobre o 1º. dia de tropa, eu aproveito a oportunidade para contar também a minha vivência desse mesmo dia que nos marca a todos.
Bem sei que não tenho dotes de escritor, mas é costume dizer-se que "quem dá o que tem a mais não é obrigado".
Aqui vai, então a minha aventura do famigerado 1º. dia.
Ele ocorreu a 11 de Janeiro de 1971.
Este mancebo dirigiu-se ao destacamento da Escola Prática de Cavalaria, em Santarém.
Após as devidas apresentações fui encaminhado juntamente com outras 29 vítimas para um pequeno recinto retangular, ao ar livre, onde se procedeu à distribuição do respetivo fardamento.
Quem por lá passou decerto que se recordará desse pequeno espaço.
Mas dizia eu que fomos levados para esse recinto para que nos fosse atribuída a indumentária que nos iria acompanhar durante os 3 meses de recruta do curso de sargentos milicianos.
Dispostos em "U" ao redor desse recinto, fomos sendo presenteados com as várias peças que compunham esse mesmo fardamento.
Para os novos donos do nosso destino próximo, pouco importava se a nossa constituição era maior ou menor.
Todos recebíamos a indumentária que era distribuída aleatoriamente.
Para os novos mancebos ficaria, à posteriori, a tarefa de trocarem entre si as peças do fardamento grandes ou pequenas, de modo a que ficassem o melhor "ataviados" possível.
Embora estivéssemos atentos a todo aquele desfile em que as últimas criações da moda inverno 71 eram depositadas aos nossos pés, eis senão quando, surge numa das extremidades do referido recinto, alguém que nos pareceu fardado a rigor, calçando botas altas próprias da cavalaria, blusão de cabedal bem lustroso, e com algumas listas amarelas brilhantes e cintilantes em cima dos ombros.
Creio que cada um dos 30 mancebos (falo pela minha reação) ficou a olhar para o vizinho do lado na tentativa de receber uma ajuda sobre qual a patente daquele cavaleiro.
Porém, rapidamente ficámos concentrados na insólita personagem, pois de imediato se ouviu um berro que dizia : « Óh seu cabrão, desencoste-se daí que me suja a parede»!!!
Tornou-se evidente que algum de nós (pobre mancebo) estaria encostado à parede que seria pertença daquela magna pessoa.
Imediatamente e, sem mexer nem pestanejar, tentei perceber qual das outras 29 vítimas estaria a cometer semelhante "crime".
Concentrado que estava nesta prospeção, chega aos meus ouvidos e dos restantes companheiros de infortúnio, nova frase saída do mesmo bocal: « Não ouviu, seu cabrão ?
Já lhe disse que me suja a parede »!!!
É então que reparo em 58 olhos de mancebos que se encontram focados em mim e, instintivamente, através dum pulo ou dum salto (ainda hoje não sei bem) desencostei-me da referida parede e assim parei de contribuir (segundo a teoria da tal personalidade) para a degradação do património do estado.
De imediato concluí que o tal cabrão era apenas e só EU !!!
Passado que foi este "agradável" encontro, o nosso anfitrião teve a amabilidade de se apresentar, dizendo bem do alto da sua "superioridade": « sou o tenente Capão e serei o vosso comandante de esquadrão durante o tempo da recruta, tempo esse que será para vós de sangue, suor e lágrimas »!
E mais não disse.
Virando as costas, saiu tão depressa como chegou e deixou em todos nós a convicção de que estaríamos entregues à bicharada durante os tempos mais próximos.
Foi assim o meu primeiro dia de tropa.
Sim, digo bem, o dia.
É que a primeira noite foi bem pior para todos nós, mas essa história ficará para outra oportunidade se todos vós tiverem interesse em que eu a descreva aqui na nossa página.
Obrigado pelo tempo de antena que me disponibilizaram e um abraço para todos.
Ribeiro.