Mostrar mensagens com a etiqueta Serra Mapé. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Serra Mapé. Mostrar todas as mensagens

segunda-feira, 20 de abril de 2020

Os trabalhos liquidatários e o adeus a África, por Paulo Lopes


Paulo Lopes




Luís Leote, sem te querer massacrar, toma lá a resposta à tua pergunta, extraindo do livro apanhando o final de um capítulo e o início de outro! :-) :-) :





A partir da Beira, eu, o capitão Salgado e o primeiro sargento, separámos-nos da restante Companhia e iniciámos os nossos (?) trabalhos liquidatários. 




Por muito estranho que possa parecer, ao despedir-me da restante família que ia tomar rumo às suas casas — verdadeiras casas — cortou-se, como por encanto, o cordão umbilical de tanto tempo, de companheiros de tantas lutas, de tanto sofrer. 
Parecia que apenas nos tínhamos conhecido numa esplanada de um qualquer café, numa conversa banal e apenas isso! 
Estranho! 
Estranhamente estranho! 
Mas foi isso mesmo que eu vivi nesta despedida! 
Não sei como teria sido se tivesse ido com todos até Lisboa. 
Se a forma de despedida seria diferente. 
Não sei... Também não sei o dia exacto em que eles partiram da Beira para Lisboa pois já estávamos vagueando pelas burocracias da tal liquidatária, passeando com documentos na mão, com total desconhecimento do seu conteúdo e do que fazer com eles. 
Ainda hoje não sei bem o que eram! 




Sei que voávamos entre Porto Amélia, Beira, Nampula e Lourenço Marques. Tanto eu como o capitão, pouco ou nada "liquidatávamos", deixando esse soberbo prazer ao primeiro-sargento que, empenhadamente, tratava de toda a papelada! 
E que papelada! 





Aqui sim... aqui nestes quartéis e repartições sim... aqui já vi aquelas lustrosas fardas, coloridas com divisas de belo parecer. 
Aqui já conseguia detectar verdadeiros heróis (da banda desenhada).
Devidamente fardados e duma apresentação invejável que colocavam o nosso exército numa plataforma de grande representação militar Portuguesa! 
Altos defensores da pátria. 
Mas mesmo assim nunca os vi a fazer grande coisa! 
Azar meu! 

Chegava sempre na altura do merecido descanso destes bravos combatentes e então via-os nas ruas da cidade, ou a saírem das repartições, nas suas (nossas) luxuosas viaturas conduzidas por escravos feijões verdes a caminho dalguma operação de combate no seio dos seus familiares, que os esperavam na difícil batalha de tirarem as espinhas ao belo peixe assado no forno, cozinhado e servido por outros escravos que trabalhavam nas suas (nossas) luxuosas casas.


UM ADEUS A ÁFRICA (que nunca foi, não é, nem será minha) 

Afinal não tinham sido capazes de destruir completamente os sentimentos humanos que tinha trazido comigo quando saí de Lisboa.
Qualquer coisa de bom ainda tinha ficado dentro de mim: sem saber porquê nem porque não, entrou no meu pensamento — enquanto navegava pelas ruas das diferentes cidades de Moçambique, ainda de camuflado já gasto e calejado encostado à minha pele— uma constante e preocupada pergunta: como é que teria corrido a primeira picada de regresso à Mataca aos nossos substitutos?
O meu pensamento voou pelo imenso território e transportei o desejo sincero de que tudo tivesse corrido bem!

Apesar do estado de espírito ser bem diferente daquele que me tinha acompanhado durante largo e vasto tempo, começava a ficar com uma enorme ansiedade no corpo por tanta demora para a definitiva partida.

Acabaram em princípios de Julho de mil novecentos e setenta e quatro, todos estes trabalhos liquidatários.

Finalmente, tínhamos viagem marcada para Lisboa: dia vinte e oito de Julho de mil novecentos e setenta e quatro saímos de Nampula com destino à Beira para, no mesmo dia, apanharmos o avião até Lisboa.
E assim foi... Assim foi mas só para o capitão e o primeiro-sargento.
Eu fiquei!
Um engano mecanográfico mantinha-me preso e à espera de nova marcação.
Mais uns dias de separação do abraço aos meus!
Mas, dia um de Agosto de mil novecentos e setenta e quatro (o meu verdadeiro vinte e cinco de Abril) saí da Beira com destino a Lisboa: uma lágrima de alegria escorria pela minha face.



Um adeus a África que nunca foi, não é, nem será, minha!

In "Memórias dos Anos Perdidos ou a Verdade dos Heróis"

sábado, 28 de março de 2020

QUEM ESTEVE NA MATACA PARA APANHAR O PULSO..., por Paulo Lopes

QUEM ESTEVE NA MATACA PARA APANHAR O PULSO.
===================
TEXTO DE PAULO LOPES.
===================

Este post do amigo e sempre presente Rui Briote, levou-me a procurar uma passagem pelas terras da Serra de Mapé onde tive a oportunidade de "olhar" bem para as estrelas. 



E aproveitei também para "calar" o Sr. Duarte Pereira em relação a que já há muito que não se publica nada sobre a guerra! Então vai daí e sabendo que poucos vão ter a paciência de mais um meu longo texto, tomem lá que é de borla e fresquinho!!   




Já se vinha comentando desde algum tempo a necessidade de proceder a algumas reparações na picada que nos ligava a Macomia, já que nalguns pontos se tornava quase impossível transpor com as Mercedes 404 sendo necessário, diversas vezes, a utilização do guincho incorporado nessas mesmas viaturas para se conseguir a deslocação na subida da serra, porque a picada estava de tal forma desnivelada e esburacada que punha em risco a progressão da coluna com um provável "capotanço" de um ou mais carros se estes não fossem conduzidos com a máxima perícia, muita coragem e perseverança dos condutores que, para além de terem que conduzir com a máxima atenção, tinham também a tarefa de estarem atentos a possíveis emboscadas já que estes eram os que mais alto iam e por isso alvos mais fáceis. 

Tudo isto se embrulhava nos seus cérebros adicionando a forte hipótese de saltarem do banco, sem serem eles a fazer por isso, se porventura fizessem accionar uma mina anti-carro! 
Urgia tratar desse efectivo problema para não se correr o risco de ficarmos sem reabastecimento de mantimentos já que sem esta picada minimamente funcional só os poderíamos ter de pára-quedas ou de alguns voos de helicóptero o que eu ponho muito em dúvida que tal fosse autorizado ou realizado! 
Foi dada a autorização necessária para essa reparação. 
Este género de trabalhos era efectuado com o auxílio de civis que para tal eram recrutados. 
Claro que só poderiam efectivar esse trabalho com a nossa protecção visto que se o fizessem sozinhos não estariam lá um só dia. 

Seriam logo atacados, capturados e reencaminhados para as machambas ou recrutados para as fileiras de guerrilheiros da Frelimo. 
O meu grupo foi o primeiro a fazer essa protecção e coube-me a mim, para lá da protecção, orientar também os trabalhos, qual capataz de obras. 

Iniciou-se a reparação a partir do cimo da Serra de Mapé, indo encosta abaixo. 
Daquele local tínhamos acesso a uma visão global da extensa e interminável floresta. 
Já tinha passado muitas vezes por aquele mesmo caminho, mas as circunstâncias nunca eram propícias à apreciação da real beleza das paisagens que aquela serra nos proporcionava e que, não fosse o constante alerta para os possíveis embates, nos daria uma enorme paz de espírito. 

Tinha agora uma forte hipótese de apreciação a tão agradável e deslumbrante visionamento que não descurei e aproveitei da melhor forma até iniciarmos a descida serra a baixo: a verdade da pura natureza!
Um mar de arvoredo espesso e verdejante salpicado aqui e ali por outra cor tirando o uniforme tom, como que a obrigar a nossa visão a fixar-se naqueles pontos que brotavam fora do contexto primordial. Mar calmo como a serenidade duma baía que se prolongava num horizonte sem limite na nossa observação. 
Podia dar asas à imaginação e descobrir uma embarcação flutuando na ondulante folhagem de movimentos lentos e incertos proporcionados pela leve brisa do vento, originando um suave murmúrio entrando no peito desvanecendo-se instantaneamente em calma e transportar-nos para lado nenhum. 
Os homens iam descendo a encosta da serra pela picada desbravando terra de um lado para tapar buracos no outro. 

Nós íamos patrulhando os laterais, protegendo os trabalhadores. 
Quanto mais íamos descendo maiores eram as dificuldades de arranjo. 
As ferramentas de trabalho que aqueles trinta homens recrutados possuíam para realizar aquela tarefa restringiam-se a módicas catanas, picaretas, pás e uma boa dose de pouca vontade de cavar ― proporcional ao pagamento que iriam auferir ―. Com este tipo de ferramenta adicionado à inexistente competência dos construtores de estradas recrutados à população nativa —não esquecendo o capataz, ou seja, eu— pouco, para não afirmar que mesmo nada iria beneficiar esta única forma de nos deslocarmos com as viaturas: revolvia-se a terra de um lado para a colocar em buracos mais profundos. Desbastava-se mato e arvoredo. 
Tentava-se nivelar o máximo possível o rodado de passagem mas, olhando depois para o que ia ficando para trás dos trabalhos, não se visionava grande alteração deixando antever que tudo ficaria igual assim que a próxima chuvada fizesse desencadear uma avalanche de água serra abaixo. 

Por uma questão de segurança, quando chegou o fim de tarde, regressámos ao cimo da serra para pernoitarmos. 
Montado todo o habitual mas sempre alertado esquema de segurança, de cama preparada, quando a escuridão da noite misturava a infindável floresta com o firmamento e as estrelas brilhavam num turbilhão de vida e encanto, pude vislumbrar toda a visão nocturna que podíamos observar daquele local privilegiado da serra. 
Paisagem que eu, citadino lisboeta dos sete costados, onde até a simples estrela polar se torna complicado descobrir quando é escondida pela altura do betão armado, nunca tinha oportunidade de desfrutar nem mesmo na Serra de Sintra ou no perto Monsanto. 

De luzes artificiais, apenas, muito ao longe, as luzes dos focos do nosso estacionamento virados para o lado de fora do arame farpado. 
Lá estava a nossa casa: Mataca. 

Tudo o mais era natural: Estrelas, muitas e deslumbrantes estrelas. 
Silêncio, absoluto silêncio que nos permitia ouvir a respiração dos já adormecidos e o abanar da folhagem das árvores mais altas que uma leve e suave brisa proporcionava. 
Fiquei algum tempo a observar o espaço, desviando por vezes o olhar para os pontos de luz que, lá longe, na Mataca, salpicavam a escuridão que se encontrava por baixo das brilhantes estrelas, como se alguém tivesse pintado umas pequenas pinceladas de amarelo num enorme fundo, agora tornado negro. Deitei-me na minha improvisada cama de capim a pensar: Como isto tudo poderia ser ainda mais belo se eu não estivesse de braços apoiados no carregador da minha G3,

In "Memórias dos Anos Perdidos ou a Verdade dos Heróis"
paulo lopes

domingo, 2 de fevereiro de 2020

Descida da Serra do MAPÉ..., por José D'Abranches Leitão

Esta foto faz-me recordar! (Sou eu mesmo ao lado do condutor )
Nota: esta foto saiu numa crónica/memória minha no CM...sobre a guerra colonial!
A jornalista agora "usa-a"...para o artigo dos milhões que Portugal gastou na dita guerra...
Mais eis o que recordo...e que escrevi em tempos.

A imagem pode conter: texto que diz "Para quê. .I? CORREIO CMJORNAL.PT Guerra colonial custou 21,7 mil milhões de euros a Portugal"
"..."
Descida da Serra do MAPÉ ! Picada Macomia -Mataca! 1971
Mais uma coluna...
...de pé ao lado do Condutor Menezes.
Assustava o declive!
O 404 com os travões na "miséria"! 
O Menezes, gago "até à quinta casa"...vai dizendo que não consegue segurar o Unimog! 
Vou_lhe dizendo que encoste à barreira e seja o que Deus quiser! 
Felizmente chegamos à Mataca! Uff.



Serve esta memória para recordar um episódio já depois do 25 de Abril, em que este "artista" me encontra em Lisboa.em 1975, jogava a minha ACADÉMICA com o Benfica no Estádio da Luz. 
Com um grupo de amigos, e à boleia, sem capa e batina, estando numa fila para a bilheteira, sou incomodado pela garupa de um cavalo da GNR. 

Como isto se repetiu varias vezes, viro-me para o GNR que montava o cavalo e disparo: - Oh Senhor Guarda, por favor tenha mais cuidado com o cavalo!!

Lá nas alturas...e olhando bem para mim, com um rasgado sorriso, responde : - Oh meu Furriel sou o Mene...o Mene... Menezes ..., da 2752!

Nem queria acreditar no que estava a ouvir. 
Eu de barbas bem longas, jeans e com um "visual" bem diferente dos tempos do "camuflado " sou reconhecido por um amigo, que identifiquei logo dada a sua gagez! 
Era o condutor, me me conduziu tantas e tantas vezes, naquelas temíveis picadas de Cabo Delgado.

Após ter pedido autorização ao graduado, apeou ...e trocamos um forte abraço. 
E a emoção foi grande !
E tive direito a uma "pala" militar !

Vim a saber mais tarde, que tinha ingressado na GNR, com a influência do Capitão da Companhia.
Enfim mais uma "memória" antes que os neurónios se f******!!!!
Nota - Os astericos significam "fundam"..."queimem"!!!!
Abraços
...48 anos depois ....ainda respiro! !!!!!

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Querem peixe? Vão ao mercado..., por Paulo Lopes


Boa tarde!

Claro que nada do que vou contar terá interesse comum a não ser para os pescadores como o amigo João Novo (ou pecadores) mas, quer queiram quer não, vou contar o meu dia de ontem:
Agarrei nas minhas canas de pesca; mochila devidamente preparada com todos os apetrechos necessários e convenientes para o que tinha idealizado (incluindo o farnel) e tudo para dentro da minha velha carripana que serve exactamente para estas funções (e outras)! 
Desloquei-me ao local indicado para "apanhar" o comparsa que arquitectou esta saída (não fosse ele arquitecto) e prego a fundo que se faz tarde!

Estrada para Alfarim, desvio para os Fornos, direitos à Praia das Bicas!
- Não, o mar está muito luso, não dá! 
Dizia-me o arquitecto que também sabe pescar sem réguas nem espaldar!

Estrada com o "bicho"! 
Caminhamos para norte, direitos ao Cabo Espichel por caminhos sinuosos que o velho Tempra não se fez rogado (mas eu desconfiado que não tarda ficamos aqui num buraco).
Chegados ao local previsto, vai de mirar o mar lá em baixo no seu ondear constante fabricando uma branca espuma num vai e vem que só o mar sabe fazer!

Vamos experimentar - disse o meu comparsa (porque ele é que entende destas coisas de mar e mar há ir e voltar, com ou sem peixe)!
E descemos, ziguezagueando os trilhos já batidos (tal serra de Mapé), em direcção aos peixes!

O tempo que demorámos não contabilizei! 
Sei que nem pousámos as canas nem tirámos as mochilas que já começavam a fustigar as costas: 
É pá!!! 
Isto está muito bravo!!! 
Não dá para pescar! 

Eu sempre disse que o homem percebe da poda e realmente, pescar ali, era passaporte para ficarmos sem material, bem molhados e quiçá, coisa pior!

Volta a subir em direcção a Norte do cabo e direitos a outro pesqueiro!
Mais um sobe e desce, desce e sobe! 
Caminha, caminha pescador que o peixe está mesmo ali ao virar da rocha! (Caminha era onde eu estava bem há umas horas a trás).

E lá chegámos a outro pesqueiro: um abismo a não sei quantos metros do mar (e o peixe lá em baixo à espera dos nossos anzóis carregadinhos de camarão que ainda não tinham saído da mochila)!
Finalmente as costas aliviaram do peso e, antes de mais nada, ataque ao farnel que já eram horas!

A maré é só à 15:30! 
Se começarmos a pescar duas horas antes já é bom! 
Claro que isto dizia-me o comparsa porque, para mim, a altura de pescar é quando chego ao local!
Farnel meio desgastado e sorvido; canas a postos com boias pesadas para se conseguir atingir o mar, lá em baixo, muito em baixo!

Primeiros lançamentos, menos mal: atingiu o objectivo: água!
- Estão a picar! Falou o arquitecto! ( a mim não, pensei eu). 
Mas se picavam, não ficavam!
Segundo lançamento de minha parte: boia nas rochas! 
Boia perdida agarradinha ao anzol cheio de camarão!

O vento levantou-se do seu adormecer e soprava!
Soprava cada vez mais forte e nós em cima do precipício a olhar o mar cheio de peixe que não apanhávamos!
Canas arrumadas! 
Mais umas trincadelas em qualquer coisa comestível! 
Uma boa dose de água porque o caminho era longo e sinuoso num sobe e desce, desce e sobe pelos trilhos já recalcados (já disse que são idênticos aos da serra de Mapé, não disse??).

Ao fim de "muito" tempo de longo caminho (tão longo como este texto), lá estava, sossegadinho, o "burro" para transportar dois burros que tiveram a esperteza de não apanhar peixe só para não terem ainda mais peso nas costas já cansadas.
Querem peixe??? 
Vão ao mercado!

quinta-feira, 1 de junho de 2017

1° ferido em combate O Vellasco Martins, por José Leitão

José Leitão para PICADAS DO CABO DELGADO


Sao passados quase 47 anos...e este "filme" ainda me tira o sono!

1° ferido em combate O Vellasco Martins.

África…Serra do Mapé.... 
O cheiro cálido e acolhedor da floresta, o cheiro meio metálico, meio resinoso do trotil deflagrado e o cheiro fresco, acre e doce da carne dilacerada. 

É pedida evacuação urgente. 

Passados muitos minutos, cerca de 1 hora e 30 minutos...começamos a ouvir o som, este som sincopado e sibilante, do helicóptero que se avoluma abafando tudo e uma nuvem de poeira em rodopio que se adensa rapidamente, encobrindo de todos o mundo inteiro. 

Surge uma maca e é erguido do chão por mãos invisíveis e entra, planando, no helicóptero. 

Num impulso, que deverá permanecer para sempre completamente incompreensível, tenta agarrar-se ao capim para impedir que o levem. 

Nota: Isto aconteceu a 1 de Outubro de 1970…eram decorridos 21 dias de “inferno”!!!

Jose Leitão
CCAV 2752



quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Sonhos recorrentes..., por Armando Guterres


Da minha parte, afirmo que o Picadas e o Batalhão Cavalaria 3878 me levaram a retificar algumas das coisas em que eu próprio participei.


Nunca tive pesadelos, mas sonhos recorrentes. 
Um deles sobre os últimos dias na Mataca, antes da rendição.



Principalmente a seguir ao arame farpado do lado do aldeamento era tudo muito alterado ou com grande ribanceira ou um monte e a Frelimo sempre por ali. 

Eu sempre à procura da roupa e dos sapatos, que a arma estava junto à cama ou no ab...rigo, da minha secção, que ia mudando de sítio e formato. 

Os carros formados para arrancar (naturalmente baseado na chegada em Fev 72 e muito longe do regresso em Março de 74). 

Os sonhos uns sem tiros e outros havia, sempre sem consequências. 

{Altura para acordar e fechar o sonho}. 

Isto anos. 

A realidade: os últimos dois meses estive na ponte Muacamula - Macomia. 


Portanto, recebi os checas na ponte. .

terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Faz hoje 42 anos (11/3/2016)..., por Livre Pensador

Boa noite.

Faz hoje 42 anos que a Ccav.3508 realizou pela 2ª. e última vez o trajecto Macomia - Ancuabe - Porto Amélia.


Após no dia anterior ter realizado o trajeto Chai-Macomia.


Faz hoje 42 anos que a Ccav.3508 se livrou definitivamente da guerra.





Faz hoje 42 anos que eu pude dizer (em Ancuabe) "PORRA ... DE GUERRA JÁ NÃO MORRO"!



Faz hoje 42 anos que eu vivi o dia mais feliz da minha vida.


quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Mais poemas, por Paulo Lopes

Paulo Lopes 
Amigo Rui Briote
Foi, é e será isto o mundo que me faz pensar
  • POR TI ME FAZ PENSAR

    Desobediente floresce
    na claridade negra
    de uma análise interna.

    A realidade

    E a culpa recaída
    sobre a cabeça de ninguém
    revolta as veias paradas
    no seio da distância
    que por ti me faz pensar.
  • Eis-me aqui a assistir
    à interior evolução
    do poema

    Desde não sei quando aqui cheguei
    a minha luta se trava
    em batalhas de semântica

    Para aqui vim por cá fiquei
    habito a terra
    e fui semente

    Colono a desvendar esta floresta
    de dúvidas - vou habitando
    o sonho que me mente

    quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

    A CONVITE DO FILHO, UMA PRAIA NA "COMPORTA", por Duarte Pereira


    OLÁ BOA TARDE OU BOA NOITE,
    HOJE GOSTARÍAMOS DE CONTAR UMA HISTÓRIA PASSADA COM O SR DUARTE, MULHER, FILHO E NETOS.

    ESTAVA COMBINADO PARA HOJE, A CONVITE DO FILHO DO CASAL, UMA PRAIA NA "COMPORTA".


    COMO SABEM O SR DUARTE POUCO SAI DE CASA, MAS ACEITOU O DESAFIO. 
    SEU FILHO TINHA PROMETIDO SURPRESAS NO PASSEIO.

    LÁ CHEGARAM A SETÚBAL E PERDERAM O FERRY VERMELHO E TIVERAM DE APANHAR O VERDE. 

    A "COISA" NÃO ESTAVA A COMEÇAR BEM. 
    O FERRY EM VEZ DE IR PARA A SAÍDA À DIREITA PARA TRÓIA FOI PARA O LADO ESQUERDO PARA OUTRO LOCAL DE DESEMBARQUE.

    QUANDO DESEMBARCARAM, AQUILO PARECIA A "QUINTA DO LAGO" QUE O SENHOR DUARTE NÃO CONHECE. 

    A MÃE DOS NETOS ESTAVA EM COIMBRA EM SERVIÇO PROFISSIONAL.

    ALGUMAS FOTOS FORAM TIRADAS E COM ALGUNS ENIGMAS. 

    COMO O SR RUI BRIOTE FEZ, TERÃO DE DESCOBRIR OS PRATOS QUE FORAM PARA A MESA. 

    DOIS SÃO FÁCEIS E SÃO IGUAIS E ESPECIALIDADE DAQUELA REGIÃO (SETÚBAL). 


    A SURPRESA ERA DE NOVO O RESTAURANTE "O PESCADOR" EM "LAGAMEÇAS" E O SR DUARTE AINDA VIU UMA PLACA A DIZER "CAJADOS". 

    ESTRANHO, O RESTAURANTE SÓ ABRE À HORA DO ALMOÇO. 

    FICA NO "CU DE JUDAS". 
    TEM UMA PARTICULARIDADE, NUM PATAMAR MAIS ACIMA TEM TRÊS MESAS GRANDES SÓ PARA "VIPS". VIPS ??? ( VENS INSPIRADO @ PASSA POR SESIMBRA). 

    IRÃO VER ALGUMAS FOTOS NO FILME QUE VAMOS FAZER QUE NADA FICAM A DEVER AOS TRABALHOS PROFISSIONAIS DO SR FERNANDO LOURENÇO. 

    JOVENS DE TRÊS E SEIS ANOS FIZERAM A SUA REPORTAGEM POSSÍVEL.

    À VOLTA O FILHO DO SR DUARTE DISSE QUE IA DAR DOIS BEIJINHOS A UMA SENHORA PARA OS SESSENTA ANOS. 

    PASSAMOS POR TERRAS DE FERNANDO PÓ, MUITAS VIDEIRAS. 
    FOMOS PARAR À HERDADE DE "D ERMELINDA. 
    MÃE DA ACTUAL PROPRIETÁRIA, QUE POR ACASO ESTAVA NO BRASIL. 

    LÁ SAIU O "FILHOTE" COM DUAS GARRAFAS DE TINTO NUMA EMBALAGEM QUE OFERECEU AO PAI.

    DIA ESTAVA A FICAR CANSATIVO, MAS NÃO COM FALTA DE LÍQUIDOS.

    sábado, 26 de novembro de 2016

    A minha G3..., por Duarte Pereira


    NOTA PRÉVIA.
    ESTE ARTIGO "A G-3", NÃO É PARA TENTAR DIMINUIR OS OUTROS EX-COMBATENTES, QUE LUTAVAM COM OUTRAS ARMAS PARA O BEM COMUM.

    UNS ESTARIAM MAIS EXPOSTOS.
    PODERÁ TER SIDO O "DESTINO", OS QUE, ACREDITAM E ACREDITARAM NELE, QUE TERÁ MUDADO AS NOSSAS VIDAS.

    A MINHA G-3



    EM SANTARÉM ANDAVA COM UMA G-3 QUE PASSOU MAL...
    CHUVA, ESGOTOS, RIACHOS, POEIRA, CALOR DE VERÃO.

    DISSERAM-ME QUE A G-3 TERIA DE SER TRATADA COMO UMA MULHER.

    HAVIA INSPEÇÕES PERMANENTES À SUA MANUTENÇÃO.
    MUITO ÓLEO E ESCOVILHÕES PASSARAM POR ELA.

    A QUE ME FOI DISTRIBUÍDA NUNCA RECUSOU UM TIRO.

    FUI MOBILIZADO. 
    NÃO SEI SE LEVEI A MESMA.
    ERA VELHINHA. 
    JÁ DEVERIA TER FEITO UMAS COMISSÕES.

    EM SANTA MARGARIDA OU JÁ EM MOÇAMBIQUE FIZ UM CONCURSO DE TIRO AO ALVO.
    CLARO QUE GANHEI. 
    FIQUEI EM TERCEIRO. 
    GANHOU O AMÉRICO COELHO QUE JÁ USAVA ÓCULOS. 
    EM SEGUNDO O FERNANDO LOURENÇO. 

    A CORONHA DA G-3 DO AMÉRICO COELHO ACHO QUE ERA PRETA.

    EM MOÇAMBIQUE CONTINUEI A TRATÁ-LA COM CARINHO, ASSIM COMO AS MINHAS BOTAS.

    NOS LONGOS DIAS DA OPERAÇÃO OMO1 NA SERRA DO MAPÉ, CHEGUEI AO FIM COM CANSAÇO MAS OS PÉS ESTAVAM BEM.



    SEMPRE INCUTI NOS SOLDADOS A MEU CARGO A MINHA EXPERIÊNCIA.
    MUDEM OU NÃO MUDEM DE CUECAS. 
    TENHAM CARINHO COM A VOSSA ARMA.
    ANDAVA TRISTE COM O MEU 3º LUGAR NO CONCURSO DE TIRO AO ALVO.

    A CONSTRUÇÃO DA ESTRADA MACOMIA/MUCOJO ABRIA CLAREIRAS DONDE TIRAVAM A TERRA PARA A NOVA ESTRADA.

    NÃO ME LEMBRO, MAS PENSO QUE DE TRÊS EM TRÊS MESES RENOVÁVAMOS AS MUNIÇÕES DOS CARREGADORES.

    AVISÁVAMOS MACOMIA QUE IRÍAMOS FAZER FOGO.



    UM DIA SOZINHO "COMO EU ERA CORAJOSO" FUI PARA O ALTO DE UMA TERRAPLANAGEM E COLOQUEI UMAS LATAS DE CERVEJA LÁ NO MEIO.
    NÃO POSSO CONFIRMAR SE ERAM 50 M. OU 100 M OU MAIS...
    COLOQUEI A ALÇA DE TIRO NO BURAQUINHO DOIS. 
    FIQUEI FELIZ. 
    AS LATAS VOAVAM. 
    PODIA ATÉ NÃO ACERTAR. 
    COM O IMPACTO NA TERRA, ELAS ABANAVAM E CAIAM. 
    O MEU AMOR PRÓPRIO TINHA VOLTADO DEPOIS DAQUELE VEXAME DO CONCURSO DE TIRO.

    QUANDO ENTREGUEI A G-3 NA BEIRA, TIVE DE A ATIRAR PARA UMA MOLHADA. 
    CONFESSO QUE NA ALTURA NÃO CHOREI E NEM SEQUER FIQUEI COMOVIDO.
    MAS É O QUE ME ACONTECE AGORA QUANDO LEMBRO AQUELA CENA.
    NÃO SEI SE ELA ME DEFENDEU? EU DEFENDI-A.

    ALGUÉM QUE A SEGUIR A MIM A APANHASSE PODERIA TER A CERTEZA QUE ESTARIA EM BOAS CONDIÇÕES.

    NÃO FOI UM "DIVÓRCIO", GOSTARIA DE A TER TRAZIDO PARA CASA E FICAR AO LADO DE UM STICK DE HÓQUEI EM PATINS QUE GUARDO RELIGIOSAMENTE.
    VOU COM ESSE STICK À PORTA QUANDO ALGUÉM BATE À PORTA A PARTIR DA 1 HORA DA MANHÃ.

    MORAL DA HISTÓRIA: PROCUREM TRATAR BEM OS DE QUE POSSAM VIR A DEPENDER ( OU NÃO ).

    Paulo Lopes Até acredito que tenhas tratado bem da tua "G3" mas, de forma alguma posso acreditar que tenhas tratado da mesma forma o teu "stick" de hóquei já que apenas te serviste dele para andar à "marretada" numa bola!!
    Pois eu também, em ocasiões espaçadas, gostaria de ter a G3 em meu poder (apesar de ser só garganta e provavelmente só mesmo em casos de extremo instinto de defesa é que a utilizaria! 
    Mas que existem alguns que bem precisavam de experimentar, lá isso há!). 
    Mas, foi um enorme prazer abandonar essa amante do ultramar!
    Quanto à pontaria com a G3 e em semi-automático, estariam os alvos à vontade comigo até porque, salvo erro, o cano era de estrias o que originava uma saída de bala aos círculos! 
    E não posso colocar de parte que eu era da secção de dilagramas! 
    A arma que segundo afirmavam os "canhanhos lá de Tavira" que eu fiquei muito bem classificado, foi a HK21.
    Moral da "minha" história: não sirvo para militar!

    Américo Condeço A minha história com a G3 já foi contada há muito tempo atrás, mais propriamente com a coronha da dita cuja, mas a minha guerra era outra e a menina só servia para fazer aquele fogo na carreira de tiro para desenferrujar o cano e queimar munições que não estariam em condições, como disse a minha Guerra era outra a SAÚDE de todo o pessoal, VACINAÇÃO trimestral de toda a gente contra a cólera , distribuição semanal de antipalúdicos e a assistência médica e medicamentosa aos enfermos que aparecessem, lembro-me que por força da minha especialidade assisti a alguns partos efectuados no hospital civil que existia em Macomia, e de um em especial pois implicou uma evacuação quase ao anoitecer de uma parturiente negra que estava há já dois dias para ter a criança e já não tinha forças para ajudar a mesma a nascer, avião na pista parturiente lá dentro e avião no ar, imediatamente o piloto informou que a criança tinha nascido ainda o avião não tinha acabado de subir, ordens dadas pelo Dr. voltem para trás nós tratamos do resto, o rapaz era bem grandão creio que com 3K e 900 Gramas e tudo acabou em bem.

    Luís Leote Tive uma má experiência com a minha G3 a disparar um dilagrama.
    Coloquei a minha mão esquerda no guarda mato mas de forma imprópria. A membrana que liga o polegar ao indicador, ficou entalada entre o guarda mato e a estrutura da arma, e no momento do disparo, rasgou a m.... da membrana.
    Ao princípio ñ senti nada, mas depois senti a mão molhada e pegajosa.

    Luís Leote A minha Companhia teve alguns percalços na campanha, mas tivemos muita sorte em não escrever nenhum nome na nossa pedra

    Gilberto Pereira NÃO POSSO COMENTAR PORQUE NÃO SEI O QUE É "G3".

    Livre Pensador Infelizmente a minha companhia deixou 6 nomes escritos numa qualquer pedra!

    Luís Leote Livre Pensador, Ribeiro infelizmente, não posso gostar do que disseste mais acima.

    Gilberto Pereira OBG QUEM É QUE IRIA GOSTAR, SÓ UM LOUCO

    Livre Pensador Eu também não amigo Leote, até porque alguns deles gravaram o seu nome nessa pedra quando estavam ao meu lado e, portanto, podia até ter sido o meu nome a ser gravado. Ribeiro.

    Luís Leote Podia ter sido o teu nome a ser gravado, mas, ficou-te gravado na memória até hoje!!!

    Gilberto Pereira É PÁ DEIXEM-SE DESSAS MERDAS QUE ATÉ PODE DAR AZAR !


    Fernando Bernardes eu lembro que recebemos a G 3 completamente nova dentro de um saco plástico na Beira.

    Armando Guterres mas sem balas ... essas chegaram em Porto Amélia antes de subirmos para os carros de (gado) no meu caso.

    Fernando Bernardes É verdade Armando Guterres recebemos as munições em Porto Amélia e fomos sempre a fazer fogo até Macomia e depois até ao Chai.