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quarta-feira, 29 de junho de 2016

O DIA D de Enfermeiro, por Américo Condeço

Américo Condeço
 
O dia até corria normalmente lá pelos lados da enfermaria, depois de um grande jogo de Voleibol contra a equipa das transmissões e de tomado o respectivo banho, estava tudo preparado para um fim de tarde sereno e de recuperação de forças.
 
Eis senão quando, entra pela enfermaria dentro um soldado negro para fazer o injetável que andava a fazer para tratamento de um problema que tinha contraído.
 
 
Depois da aplicação da PENICILINA o dito cujo, sentou-se na marquesa e... agarrou-se á garganta e começou a inspirar pela boca e nada de expirar, denotando uma dificuldade enorme em respirar tendo-se inclusive notado o acentuar da cor escura da pele (Começou a ficar ROXO).
 

De imediato corri para a casa que ficava no exterior do quartel, mesmo em frente á porta de armas (Cancela ) e bati á porta chamando pelo Dr. que nessa altura era o Cardoso.
 
O mesmo estava a descansar meio fardado meio por fardar e foi assim mesmo que correu para a Enfermaria, tendo de pronto aplicado o antídoto para aquelas ocasiões, o elemento militar da província safou-se por pouco, estivemos cerca de duas horas de volta dele, e quando começou a dar sinais de vida, todos respiramos de alivio.
 
No entanto o militar esteve internado na enfermaria mais de 8 dias acompanhado bem de perto por todos nós os enfºs e maqueiros.
 
Constantemente tínhamos que aquecer água para meter no saco para aquecer o menino e durante todo o tempo que esteve internado tomava de 8 em 8 horas um xarope anti alérgico para ajudar a desintoxicar.
 
 
(Escusado será dizer ,que apanhei um susto do CARAÇAS, olha se tenho matado o pobre...), este terá sido o meu dia D em todo aquele tempo que por lá passei.
 
O DITO FEZ UM EPISÓDIO ALÉRGICO À PENICILINA .

domingo, 5 de junho de 2016

FALO DO QUE SEI OU PENSO QUE ME LEMBRO, por Duarte Pereira

Duarte Pereira
 
PARA OS MAIS NOVOS NA PÁGINA,
AS COMADRES ATIRAM-ME CONSTANTEMENTE ABAIXO, MAS QUERO DEFENDER A MINHA HONRA.

FALO DO QUE SEI, OU PENSO QUE ME LEMBRO.

A 3509 FOI FAZER A PROTEÇÃO A UMA ESTRADA QUE CONDUZIA DE MACOMIA AO MUCOJO.

OS "VELHINHOS" DIZIAM QUE A ESTRADA (PICADA) ERA PERIGOSA.

ERA ESTREITA E COM CAPIM QUASE A BEIJAR AS VIATURAS.

OS MACACOS QUE POR LÁ ANDAVAM. ERA SÓ ESTICAR OS BRAÇOS PARA NOS APERTAREM OS PESCOÇOS.

NA ALTURA TÍNHAMOS A MG-42 NA BERLIET.
RECONHECIMENTO, MONTES DE DISPAROS A CORTAR O CAPIM, DAVA UMA FALSA SENSAÇÃO DE SEGURANÇA.

A ESTRADA IA AVANÇANDO PROPORCIONANDO AS EMBOSCADAS.

EM 13 DE JULHO DE 1972 ESTÁVAMOS DE CERTEZA NO ALDEAMENTO DE NAMBINE. LEVARAM-ME PARA DORMIR EM COMA ALCOÓLICO PARA MACOMIA (NESSA NOITE EM MACOMIA HOUVE PORCARIA).

JÁ EM 1973 COMPETIA-ME A ORGANIZAÇÃO DE ALGUMAS COLUNAS.

O TERRENO MAIS ALARGADO ESTAVA MAIS PROPÍCIO A EMBOSCADAS ÓPTIMO PARA O "TIRO AOS PATOS".

MINHA ESTRATÉGIA.
OS UNIMOGS EM VEZ DE LEVAREM MILITARES AGUERRIDOS COM AS SUAS G-3 EM POSIÇÃO AMEAÇADORA, LEVAVAM INTERCALADOS, "MOÇOILAS " ENTRE ELES.

OS "TURRAS" TAMBÉM TERIAM FILHAS.

GRAÇAS A DEUS TUDO CORREU BEM PARA MIM E NOS PELOTÕES POR ONDE PASSEI,

O 3º PELOTÃO EM 1973 DEIXOU DE TER EMBOSCADAS.
TINHA TIDO PROBLEMAS EM 1972.
POR ONDE ANDEI NUNCA REBENTOU NENHUMA MINA.
ALGUMAS FORAM DETETADAS E REBENTADAS.
PRÉMIOS DE LEVANTAMENTO ?? COMIGO NÃO.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

O CONTRIBUTO DA EXPERIENCIA MILITAR PARA O ENRIQUECIMENTO DA DIMENSÃO HUMANA II, por António Ferraz


Luís Leote
Texto de António Ferraz .
Fiz e sofri a guerra.
 
No chão tive sempre total autonomia de comando.
Vivi 40 meses integrado nas Forças Armadas dos quais 26 em Cabo Delgado (Moçambique) na área do Batalhão de Macomia, de Fevereiro de 72 a Março de 74.
 
Fui ferido em combate e transporto na mão, e no braço direito e na cabeça alguns dos estilhaços duma granada de mão com que a FRELIMO me presenteou numa emboscada, junto ao Rio Diquide, afluente do Messalo, em 12 de Novembro de 1972.
 
Um mês antes, chamados pelo cantar repetido dum galo, seguindo um trilho fresco, iluminados pelo luar, desprezando possíveis minas anti-pessoais e armadilhas, desconhecendo se o acampamento inimigo estava armado, mas sem um único tiro, acordámos e capturámos os residentes desse acampamento inimigo.
 
A nossa imprudência teve sorte, pois soube-se mais tarde, o único guerrilheiro da Frelimo que aí fora dormir, teve a sensatez de se esconder e não disparar.
 
Capturámos 10 mulheres, 10 crianças e 3 homens que desde 1964 no início da guerra, ficaram sob o controlo da Frelimo e foram após a operação então entregues á administração portuguesa.
 
Mais outros três golpes de mão bem sucedidos, e praticamente sem uso das armas, a não ser na resposta, quando vieram no nosso encalce, lembro com orgulho.
 
Seria mais fácil e de menos riscos entrar a varrer, do que sujeitarmo-nos em mera fracção de segundo a levar um tiro de quem mais atento já tivesse dado conta da nossa presença.
 
Com este orgulho de na guerra poupar vidas, a 18 de Março último na povoação de Ilala (antiga Cobre) entre Mucojo e Quiterajo, chorei mas de alegria: 37 anos depois voltava a abraçar o pequeno Ali Aín que em Março de 1973 capturámos com o Alid e deles fizemos os meninos da Companhia, permanecendo e vivendo connosco nas pobres instalações de nosso aquartelamento.
 
Não esqueço os momentos de profundo desgosto e desespero pela morte do alferes Lopes em 15 de Junho de 1973, pois cumprindo o exemplo de todos os oficiais da Companhia seguia ao lado do condutor do rebenta – minas e a equipa de picagem não encontrou a mina anti-carro que o matou.
 
Não esqueço a prostração pela morte do Ângelo Pequenino, que após passagem de oito camaradas pelo mesmo trilho accionou uma mina anti-pessoal e que fui buscar já morto na picada para Mocimba da Praia num pincher.

 
 
Lembro-me bem no Alto da Pedreira, do meu primeiro guarda – costas, o Castro, pastor da Beira Baixa, quando ao entregar uma granada de morteiro ao alferes Fortes, que me substituíra, após minha graduação, no comando do meu grupo de combate, quando a dita granada deflagrou no chão entre os dois.
 
O Fortes no solo com o peito desfeito e olhos vítreos! e o Castro caminhando e amparando por baixo as tripas que lhe saiam do ventre, dizia para o Alferes Coelho:
- «Meu Alferes que grande desgraça! o nosso Alferes Fortes está a morrer!...»
 
E assim tombou um grande soldado que nas últimas palavras, não cuidava de si, mas do seu superior.

 
 
Não esqueço o assalto comemorativo do início da guerra que a Frelimo fazia todos os anos e que em Cabo Delgado em 1973, teve por objectivo o meu aquartelamento e Posto Administrativo fronteiro de Quiterajo em 20 /09.
 
Após bombardear em 01 de Agosto Mocimba da Praia, utilizou pela segunda vez o canhão sem recuo B-11.
A Frelimo com guerrilheiros dos Bases de Gaza e Ibo terá juntado efectivos a norte de Messalo, calculados em mais de 200 guerrilheiros fortemente armados com morteiros 82, aquele canhão, RPGs 7, além das habituais Kalash, PPSH e Simonov.
O Posto Administrativo, anexos de saúde e Posto Médico, e a casa do adjunto de administração foram pilhados, mas meia dúzia de homens já experimentados, entre restantes 50 básicos que permaneciam no aquartelamento e se refugiaram nos abrigos contra morteiros, conseguimos repelir o assalto ao quartel.
- Um ajudante de cozinha com o morteiro 60 queimou as mãos com o aquecimento provocado por cerca das 100 granadas que enfiara no tubo, mas atingiu a base de fogo inimigo.
 
- Quando o alarido da vitória dos guerrilheiros já se ouvia por detrás da secretaria do Posto Administrativo encontrei o apontador do 81 a chorar porque a granada não saía do tubo. Tirei-lhe o bipé e retirando o tubo do prato base o inclinámos e recolhemos a granada.
Sem bipé, por estimativa e com granadas novas, que o soldado ia introduzindo no tubo, destruímos o telhado do Posto Administrativo mas afugentámos os guerrilheiros.
 
Deixaram um morto que sepultámos e um ferido que evacuámos por helicóptero para Mueda, e soubemos mais tarde que carregaram consigo outros sete mortos.
 
Demonstraram porém a força que a guerrilha já tinha e não tomaram certamente conta do aquartelamento, porque não quiseram sacrificar mais homens á mão daquela meia dúzia que bravamente preferia morrer combatendo, do que deixar-se aprisionar vivo.
 
São episódios da vida militar e da guerra como estes, tantas vezes contados e repetidos por aqueles que fizeram e sofreram a guerra, que marcam a existência dos combatentes.
 
Daqui alguns inferem que nos nossos encontros comemoramos ou temos saudades da guerra.
Nada mais errado.
O que nós comemoramos e a vida militar de combatente nos recorda, e nos enriqueceu foi:
- a capacidade de suportar o sacrifício que nos moldou a personalidade;
- a solidariedade praticante;
- o respeito pela vida alheia e também pelo inimigo;
- a humildade das nossas insuficiências;
- o controle do medo que nos fez corajosos.
 
Aquartelados em barracas ou construindo as próprias instalações com o que tínhamos á mão, vivíamos tantas vezes como bichos, tantas vezes abaixo do nível do solo, acompanhados por insectos e rastejantes susceptíveis de nos provocarem graves doenças.
 
Condições de higiene infra-humanas e águas infectadas ou que tínhamos de procurar longe diariamente com risco da própria vida.
 
Rações de combate impróprias para aquele meio e por vezes impróprias para consumo.
 
Quilómetros e quilómetros percorridos com o peso das rações, da água, das armas e munições que ultrapassavam 1/3 do peso do nosso corpo, por entre capim e lianas, atravessando pântanos e rios, dormindo ou vigilantes tantas vezes encharcados até aos ossos.
 
Á frente da coluna, com as armas ás costas, os primeiros picando á procura de minas, sem possibilidade de reacção imediata, ou sentados no Unimog de peito aberto para os lados da picada, éramos alvos tão fáceis para abater!
 
A simples permanência obrigava a riscos para poder sobreviver, pois os reabastecimentos, a procura de lenha e água expunham os combatentes de então como alvos fáceis do inimigo.
 
Talvez mais que nos golpes de mão ou emboscadas que nós próprios lhes montávamos.
 
O isolamento (tantos aquartelamentos eram único local de presença humana!) criava só por si condições de anormalidade psíquica.
 
Esta capacidade de suportar o sacrifício e viver os riscos inerentes só foi possível com a solidariedade e generosidade dos que partilharam a mesma vida e as mesmas instalações.
 
Quando o amigo fraquejava era não só a palavra amiga, mas por vezes tomar o seu lugar nas operações ou na coluna auto.
Alguns encontraram a morte, que não teriam por ausência no local dela.
 
O exemplo de muitos graduados que nada mandavam fazer sem primeiro o praticarem, de assumirem as posições dianteiras, quer nas colunas, quer nas deambulações pelo mato.
Teriam certamente o mesmo medo que os demais, mas escondiam-no para efectivo controlo e incentivo do seu pessoal.
Tinham vergonha de fraquejar perante os seus soldados.
Esse controlo do medo e vergonha das suas debilidades fez deles bravos soldados e comandantes corajosos.
Não era prossecução de ideais, pois ao fim de poucos meses a quem os levava já o dia a dia lhos tinha retirado.
Não se concordava tantas vezes com aquela guerra, mas fazia-se e sofria-se a guerra, combatendo com bravura e disciplina, porque havia o sentido comum da responsabilidade pela vida dos seus camaradas.
 
Enquanto durava a metralha procurávamos destruir o inimigo, mas calados os fogos, não abatíamos os feridos.
Mesmo quando se formava uma onda de vingança, havia o comandante da força que impunha o respeito pela vida alheia, evitando o tiro certeiro ou os sevícios.
 
Do mesmo modo com as populações subtraídas ao controlo do inimigo.
No inicio da guerrilha a subtracção das populações ao seu controlo foram bastante mais frequentes e fáceis.
Mais meia dúzia depois, já bem enquadradas pelo seu controlo, as populações não só lhes asseguravam a subsistência alimentar como eram os primeiros vigilantes da aproximação da tropa.
E eficazmente doutrinados suportavam privações bem mais acentuadas do que as populações sob o controlo das nossas autoridades administrativas.
 
Apesar de nunca sabermos, se alguém que encontrássemos em território suspeito era simples machambeiro ou possível miliciano ou guerrilheiro, desde que aparecesse desarmado, a regra era procurar a sua captura.
 
Éramos humildes.
Não demonstrávamos arrogância fosse com o que fosse.
Respeitávamos as populações e procurávamos ajudá-las e apesar de termos a força das armas sabíamos respeitar o poder e as competências das autoridades administrativas.
 
A humildade das nossas insuficiências levou á superação das mesmas, motivando-nos para com os meios á mão construirmos as infra-estruturas que nos eram imprescindíveis ou nos parecessem úteis.
Foi a construção de casernas ou simples palhotas para dormir e ter os nossos poucos pertences, foi a construção de alpendres para viaturas, foi a construção dos balneários com resguardos de bambu, onde meio por cima de 4 paus ao alto sobressaíam os bidões com chuveiro, foi a construção dum cimentado com uma cobertura de macuti para refeitório… tantas e tantas coisas para além das habituais defesas da construção de valas em redor de arame farpado circundante, abrigos contra morteiros, de paióis, e postos de sentinela.
 
E não esquecemos aquilo que certamente mais significado teve: a ajuda sanitária ás populações.
 
Ainda e até hoje (posso testemunhá-lo pois em Março último estive na zona de acção da minha antiga companhia).
 
O único médico que até hoje as populações viram ou com quem tiveram contacto foi o médico militar que nos acompanhava.
 
E quando em Pemba fui á melhor farmácia para adquirir um simples creme para queimaduras solares, pude aperceber-me que a nossa farmácia dos nossos pobres aquartelamentos era mais bem recheada do que aquela que agora existia na capital de Cabo Delgado.
 
Tive um furriel enfermeiro diligente e amigo das populações.
Filho de colonos, nascido em Moçambique, fez questão até hoje de lá ficar e reivindica-se tão moçambicano como os de cor negra.
Com ele fiz a viagem de recordação atrás referida e ele lembrava os seus pedidos de medicamentos para as populações e a minha resposta:
- «Souto, desde que não falte para os soldados, podes dar-lhes tudo o que queiras!.»
 
E não se pense que a tropa prestava somente cuidados curativos.
Embora estes fossem os mais visíveis e comuns, praticava-se também os preventivos com programas predefinidos.
E posso dizê-lo era pela saúde que melhor cativávamos a população.
 
Na guerra era o trabalho da paz que mais contribuía para o respeito que as populações nos devotavam.
 
E devo aqui prestar a minha homenagem sincera, aos médicos, habitualmente alferes, mas por vezes com graduação superior quando a especialidade era rara, ou já entrados na idade.
Sem jeito ou prática de armas, o doutor garantia não só a saúde, mas dava sempre um ar de civilista entre a tropa, mesmo que entre os oficiais pudesse haver um ou outro licenciado.
Parecia que o exercício das suas funções e o seu porte amenizava o ambiente marcial.
A minha geração e as populações africanas devem muito a esses jovens médicos.
 
Mas também eles, apesar de todos os sacrifícios, acabaram por enriquecer de sobremaneira os seus conhecimentos e valorizar a sua carreira, pois muitos aí fizeram práticas de que em outro ambiente não teriam oportunidade.
 
Testemunho pois que esta experiência militar de combatente de África trouxe para mim e para toda a minha geração um enorme enriquecimento da nossa dimensão humana.
Não quero dizer que a guerra se justifica porque contribuiu para esse enriquecimento.
De modo nenhum.
 
Testemunho tão somente, que enquadrados nas Forças Armadas, os homens da minha geração souberam na guerra cultivar e praticar virtudes que honram e distinguem qualquer homem: O espírito de sacrifício e de humildade para superação das insuficiências, a solidariedade formadora dum espírito de corpo, o respeito pela vida alheia e pelo inimigo, a consciência da responsabilidade superadora do medo.
 
É momento de perguntar porque foi isso possível!
Mas antes devo interrogar-me se essas tais virtudes têm hoje sentido, numa sociedade onde as regras de comportamento se subordinam ao lucro e bem estar fácil e ao sucesso sem mérito.
 
Entendo que mais do que nunca esses predicados de sacrifício, humildade e respeito e responsabilidade são essenciais para superar as enormes e cada vez maiores dificuldades que nos apoquentam.
 
Só através duma prática alicerçada nestes princípios e na consciência duma solidariedade militante, onde cada qual saiba ocupar o seu lugar podemos viver e vencer.
 
Há quem identifique FORÇAS ARMADAS com os seus quadros profissionais permanentes.
Essa ideia é frequentemente veiculada ou induzida pela comunicação social, fazendo por vezes crer que as Forças Armadas são um peso demasiado caro nos encargos do País.
Os adeptos de tal ideia esquecem quais sejam os deveres do simples cidadão para com a Pátria.
Não é de admirar, pois muitos não sabem o que seja a Pátria, nem mesmo a Nação, e do Estado têm a noção duma entidade que só lhes retira impostos ou que é preciso enganar sugando-lhe algum dinheiro.
 
Nos termos do artigo 276º nº1 da Constituição da Republica « A defesa da Pátria é direito e dever fundamental de todos os portugueses »
E no artigo 275 precedente, no nº1 se diz : «Às Forças Armadas incumbe a defesa militar da República ».
Apesar deste direito e dever do cidadão, entende-se hoje, depois da alteração constitucional em que o serviço militar por lei ordinária deixou de ser obrigatório, que a defesa da Pátria pode ser um serviço contratado.
 
E que dizer da hipocrisia dum serviço cívico previsto nos números 3,4 e 5 do dito atrigo 276º da Constituição?
Previsto para os inaptos para o serviço militar armado e para os objectores de consciência, deixou inclusive de ser substitutivo do serviço militar dos considerados aptos.
As menores necessidade de efectivos e o direito de prosseguir uma carreira, não justificam que se tenha optado pelo serviço militar não obrigatório e que o serviço cívico seja só destinado aos inaptos e objectores de consciência.
Pelo contrário cumprindo o preceito constitucional do dever e direito da defesa da Pátria, o serviço militar deveria ser obrigatório, e os dispensados dele por desnecessidade de efectivos deveriam cumprir um serviço cívico de duração igual, e verdadeiro serviço.
 
As Forças Armadas como as entendo, não são somente os seus quadros profissionais permanentes.
Delas são e deverão ser todos os demais cidadãos chamados às fileiras, prontos e predispostos para assegurar a defesa da sua Pátria.
 
Recordo os benefícios, que os mais humildes da minha geração e as imediatamente antecedentes, os soldados, receberam da instituição militar.
Muitos completaram a instrução primária.
Aprenderam hábitos de higiene e da vivência em sociedade, ganharam autonomia e auto-estima. Aprenderam novas profissões.
Habituaram-se à disciplina, a respeitar os demais, a suportar sacrifícios, enfim valorizaram-se durante o cumprimento do serviço militar, durante o período em que pertenceram às FORÇAS ARMADAS.
Tantos e tantos cresceram e se fizeram homens no cumprimento do seu dever dentro das fileiras das Forças Armadas.
 
Miúdo, ouvi muitas vezes as frases dos velhos para os rapazes em véspera de sortes: “Na tropa abrem-te os olhos! Na tropa fazem de ti um homem.“
 
Não posso encerrar este testemunho sem trazer à discussão uma acusação que a muitos oficiais milicianos nos toca pela sua grave injustiça.
Os adeptos da continuação da guerra do Ultramar, acusam-nos de termos pervertido as Forças Armadas de então.
Que introduzimos nas Forças Armadas Portuguesas ideias revolucionárias de oposição à guerra, minando os ideais e o empenhamento dos combatentes.
Creio que esses pensadores conhecem mal o movimento associativo estudantil de então, tomaram a parte pelo todo, e não foram capazes de entender o estado de espírito da generalidade dos combatentes no final da guerra.
 
A enorme maioria dos universitários de então, integrados nas fileiras não alimentou ideias revolucionárias.
Antes, no final da guerra, os quadros permanentes estavam saturados da guerra, e o povo, apesar da falta de informação sobre ela, ou impedido de ter informação sobre ela, já não a sentia como legítima e necessária, como o fora no início dela em Angola.
O sacrifício de filhos e mais filhos, as narrativas dos que regressavam davam bem a noção que aquela guerra não tinha fim à vista.
Não discuto quem perdeu essa guerra que militarmente nunca se ganha, nem aceito que se possa dizer que foram os milicianos que provocaram o fim da guerra.
 
Da mesma forma que reconheço, pelo meu testemunho o mérito da experiência militar como enriquecimento da condição humana, entendo que os estudantes universitários integrados nas fileiras, muito contribuíram para que junto dos quadros permanentes surgisse uma visão mais moderna, mais actual e mais justa do mundo de então.
E criaram junto dos elementos mais novos desses quadros o gosto pela sua valorização, através da frequência de tantos outros cursos universitários, para além dos estudos da Academia Militar.
 
È de notar quantos militares têm hoje cursos universitários civis.

 
 
CONCLUSÕES:
 
1. As Forças Armadas Portuguesas quer na guerra quer na paz, contribuíram para o enriquecimento humano dos que passaram por elas no cumprimento do serviço militar.
2. Esse enriquecimento consistiu no exemplo de comando, na aprendizagem e prática de disciplina, solidariedade, capacidade de sacrifício, humildade nas insuficiências, respeito pela vida alheia e elevação social das populações mesmo na guerra.
3. Elevou o nível social dos nossos soldados, pela instrução, pela aprendizagem de novas profissões, e pela prática de entreajuda e auto-estima conseguida.
4. Também a passagem de membros mais estudados da sociedade civil pelas Forças Armadas as enriqueceram e deu aos seus quadros permanentes uma visão mais actual, mais moderna e mais justa do mundo, provocando neles o desejo duma maior valorização.
5. O direito e dever da defesa da Pátria, que se realiza dentro das Forças Armadas, não pode ser um serviço contratado, mas deve realizar-se através do serviço militar obrigatório.
Não cumprido, por desnecessidade de efectivos, deve ser substituído por um verdadeiro serviço cívico.
 
É ESTE O MEU TESTEMUNHO.
 
António Ferraz
 

domingo, 20 de setembro de 2015

O Silvestre Pires fez anos, por Duarte Pereira



Apanhamos mais um texto de "amizades explícitas", nas memória ocultas e ainda não escritas pelo sr. Duarte.

Sr SILVESTRE PIRES.



Quem é, quem foi e o que agora será ?
O sr Duarte diz que tem de ser escrito, para ficar para a posteridade uma, que ele acha, verdadeira amizade....

Não se sabe nada da sua juventude, nem nunca o iremos saber.


Foi mobilizado para Moçambique com o "dever" de acabar a "guerra" nos 100 anos seguintes.

Um alentejano não tem pressa. 



Foi "apanhado" num pelotão "aguerrido".
Pelo menos o primeiro ano terá sido difícil para ele e os restantes militares que o acompanhavam.
Sabemos que não tinha namorada na altura.

Escreveria talvez aerogramas para a família.

Porquê o destaque deste seu aniversário?
Primeiro, porque era da companhia 3509.
Segundo, nós "amadrinhamos" a 3509".
Terceiro, no ano passado descobrimos antecipadamente o dia do seu aniversário.
Quarto, não iremos dar mais "graxa ao cágado".


Homem de carecadas que para um graduado, na altura não era "bem visto" naquele "teatro".

Ainda por cima com bigode, que parecia que só lhe nascia o cabelo por debaixo do nariz.

Depois uma cena que nunca esqueceu ao sr Duarte.

Seria a partir de meados de 1973.
Os dois a jogarem dados na messe de oficiais, sem passar "peva" aos que pudessem entrar.




Nunca o sr Duarte se lembra de ter almoçado ou jantado naquela messe.
Alguns elementos até poderiam ser "porreiros", mas eles estavam desenquadrados. 

Esperamos num dos próximos anos fazer uma "emboscada" a Viana do Alentejo.




Parabéns rapaz.
Votos de boa saúde, para ti, para os teus e para todos nós.

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Apanhei o Armando Guterres, por Duarte Pereira

Duarte Pereira
 
FUI VISITAR A PÁGINA DO FERNANDO SILVA E APANHEI O ARMANDO GUTERRES.
 
 
 
CONTO "QUASE DE NATAL".
 
NASCEU PARA OS LADOS DA SOALHEIRA, DEVE TER TIDO UMA JUVENTUDE MUITO DIFERENTE DA NOSSA.
 
FREQUENTOU O SEMINÁRIO ONDE OBTEVE A ARGÚCIA NO SEU COMENTÁRIO. ...

 PASSOU NA TROPA POR LOCAIS ONDE ALGUNS DE NÓS PASSÁMOS, MAS SEM "LEVANTAR ONDAS". 

NÃO SE ESCONDIA NA "SOMBRA", MAS ANDAVA NA "PENUMBRA". 

FOI MOBILIZADO E ANDOU NAS "TREVAS", MAS POUCOS DE NÓS O NÃO CONHECEM.

O "CABEDAL" NÃO É GRANDE, MAS CONSIDERO-O UM GRANDE HOMEM.

FOI UM PRAZER TER ALMOÇADO E CONVIVIDO CONTIGO NO SÁBADO PASSADO, 30 DE NOVEMBRO E ESPERO QUE OS OUTROS ELEMENTOS QUE COMPARECERAM PARTILHEM DA MINHA OPINIÃO. 

OBRIGADO ARMANDO GUTERRES.
 
 

GOSTO DE PESSOAS SIMPLES "SEM PENEIRAS" . !!!!
 

terça-feira, 8 de setembro de 2015

O Elefante, por Fernando Lourenço

Duarte Pereira
 
COMO TENHO FEITO COM OUTROS MEMBROS, RESOLVI ISOLAR ESTE ARTIGO.
 
Fernando Lourenço comentou:
 
 
Recordo uma memoria que coloquei em abril de 2013.
 
Quando saía para o mato o meu maior inimigo era a sede.
Levava o que podia mas nunca era o suficiente.
 
Quando estava sediado no Mucojo saí muitas vezes em operações para uma zona, que se a memória não me falha, chamada Namarata.
Tinha sido em tempos uma zona de caça grossa e abundavam todo o tipo de animais.
 
Eu quando saía, marimbava-m...e um bocado para as coordenadas que o comando me dava e a minha maior preocupação era procurar sítios onde houvesse água.
 
Certa vez lá fui para mais uma missão com um elemento de transmissões, outro de morteiro e o resto milícias.
 
Ao fim do 2º dia já desesperava com sede e água nada.
Tinha que arranjar local para passar a noite que se aproximava e por sorte lá encontrei uma zona lamacenta.
 
Num buraco estreito feito por um elefante com a profundidade quase do meu braço foi de onde eu tirei água.
 
Saciado/s e sem muito tempo para nos deslocarmos por estar a ficar escuro, decidi ficar por ali perto numa elevação do terreno não mais de 50 metros talvez, contra a vontade dos milícias que não achavam boa ideia até porque segundo eles andava por ali um elefante... ali, ali, não vê...? mas eu na minha burrice, até porque era o comandante, molho o dedo na boca, ponho no ar e ... nããã... o vento está em sentido contrário... e toca a pôr a malta em circulo e os "branquélas" no meio.
 
Como vocês se lembram começava a escurecer por volta das 4/5 horas da tarde.
Pegar no sono estava difícil porque tinha ficado de consciência pouco tranquila com a certeza de estar a fazer uma asneirada e do barulho que pouco depois ouvia de animais em disputa também pela água.
 
Lá consegui adormecer.
 
Eram 11 horas da noite escura como breu, acordo com uma grande algazarra, os milícias todos a gritar, eu agarro na G3 e desato a correr não sei para aonde, bati com a testa num tronco, perdi momentaneamente os sentidos, tal não foi a porrada que dei com os "cornos" na árvore.
Bem feito.
 
O que é que tinha acontecido: pois bem, a gaita do elefante lembrou-se de caminhar na nossa direção e quando já estava muito perto os milícias começaram a gritar para o afugentar, o que fizeram.
Eu nem o cheguei a ver.

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Algum coisa vai mal, não , muita coisa vai mal... neste reino de Portugal, por Leonel Pereira da Silva


O LEONEL PEREIRA SILVA NA SUA PRIMEIRA LONGA METRAGEM.

Leonel Pereira Silva Comentou hoje:

Alguma coisa vai mal, não, muita coisa vai mal, Gilberto Pereira.
Mas esta do abandono a que "todos" os politicos nos deixaram soa até a vingança, como se nós os ex-combatentes não "chicos" tivéssemos tido vontade própria de ser mobilizados.

Deixa-me desabafar o que senti logo no pós 25/4/74, uma vez regressado da guerra a casa dos meus pais, quando percebi que os principiantes de po...líticos que emergiam como moscas perante um monte de excrementos.

Cheguei a temer que esses oportunistas nos perseguissem, ou mandassem, claro.
Poderia, como talvez tu também, relatar aqui casos concretos de ex-combatentes que conheço que vivem situações complicadas assim com os seus famíliares, mas não vou alongar muito este desbafo, no entanto o último que tive conhecimento foi na passada semana dia 12/6, e, como está fresco e também porque me tem inquietado bastante vou partilhá-lo aqui na página.

Estava eu, depois do almoço a tomar o meu cafézinho e a dar uma olhada no jornal numa pastelaria onde vou quase diáriamente, quando na mesa ao lado, 3 pessoas que me pareceram ser um casal mais uma senhora, pessoas que não conheço, nem de vista, de idade ligeiramente superior à nossa e o tema da conversa era precisamente o "stress pós-traumático de guerra", a senhora que não tinha ali o marido, dizia para o casal entre muitas outras coisas que - há muito anos, mas agora duma maneira quase diária e com tanta intensidade e até violência o meu marido não descansa de noite nem me deixa descansar, que além de sonhar e ter pesadelos, que tem noites em que se levanta assustado mais que uma vez, estamos a passar muito mal com a situação - , quando questionada se ele não estava a ser acompanhado pelo médico, ela respondeu que sim mas que ultimamente ele tinha dias que se recusava a tomar qualquer medicamento.


Deu perfeitamente para perceber que é mais um caso entre tantos, e que já está a chegar ao limite do admissível.

Pedi licença para entrar na conversa e sugeri que fossem à liga dos combatentes a Leiria onde ele podia ser atendido e acompanhado por um médico da especialidade, pois sei que outros o têem feito com sucesso.

Desculpem o discurso e mal "amanhado" mas é na senda dos políticos que temos tido até aos dias de hoje.


Um abraço ao Gilberto Pereira e demais amigos aqui da folha.
  • Rui Briote Já comentei este muito bom texto...é para continuar...abraço

  • Velhas DE Estremoz Alentejanas É PRECISO APOIAR OS JOVENS COM TALENTO. CONTINUAMOS À ESPERA DO SR RIBEIRO DO CHAI., LIVRE PENSADOR??? SÓ PENSA PARA ELE !!!
     
  • Gilberto Pereira JÁ LI E COMPREENDO ESSES CASOS, REALMENTE HOUVE CASOS QUE DEIXARAM MAZELAS PARA TODO O SEMPRE E SEM ACOMPANHAMENTO PIOR, MAS NESTE PAIS É ASSIM NINGUÉM QUER SABER DE NINGUÉM, É UMA PORCARIA
     
  • Velhas DE Estremoz Alentejanas AINDA PODERÁ HAVER A REVOLUÇÃO DOS INCONFORMADOS JÁ COM UMA CERTA IDADE.
  • O SR JOÃO NOVO ANDAVA NESSAS LUTAS, AGORA PARECE QUE ANDA A APRENDER A DANÇAR E A TOCAR VIOLA, ENTRE OUTRAS COISAS "MAGANO" !!!
     
  • Rui Briote Estes casos de certeza que aumentarão, pois com o avançar da idade a falta de apoio, aliado à não existência de políticas humanas os desprotegidos vaguearão ao acaso..

domingo, 15 de março de 2015

HOJE ESTOU DESOLADO, por Rui Brandão

HOJE ESTOU INDIGNADO COMIGO PRÓPRIO
 
Companheiros Furriéis que frequentavam a messe de Sargentos em Macomia, quero aqui deixar as minhas desculpas.



Acabo de constatar que no mês de Novembro de 1973 dei 51$00 de LUCRO!!!!...
Imaginem!!!!

Roubei à boca dos desgraçados dos Furriéis para meter no bolso dos "xicos" que se abotoavam com todos os trocos (seriam só trocos?...).



Resta aprovar o "rigor orçamental" (agora usa.se muito esta muleta) quando observamos que com pouco mais de 150$00 (moeda corrente na altura) se dava: pequeno almoço, almoço e jantar a entre 30 a 40 pessoas durante 1 mês.
Claro que os tempos eram outros, mas mesmo assim 30 e tal contos era uma miséria de fome para aquela malta toda.

 

Como se não bastasse, assinei um documento referente ao mês de Novembro de 1973, com data de Novembro de 1974.
Ganda "tótó"... assinava tudo o que me metiam à frente.


Já agora e ainda trazendo à baila os "trocos" para os "xicos", em agilização com os alferes que por inerência faziam de ".Oficiais de Dia", a partir de certa altura, aquando dos nossos serviços de "Sargentos de Dia", passámos a estar presentes nas pesagens dos géneros alimentícios do refeitório dos Soldados.


Meus caros amigos. Aí, bem aí, era mesmo à descarada.
"Da-se" até metia impressão.

Muito se gamou naquele quartel.
Claro que alguns de nós passámos a ser "personas non gratas", obviamente.

Começámos a exigir a colocação das pesagens de acordo com a dotação.

FOI O CARAÇAS!!!!...

domingo, 8 de março de 2015

OS GRADUADOS "LEMBE-BOTAS", por Duarte Pereira

Duarte Pereira
 
INSPIREI-ME NESTAS PALAVRAS DO GILBERTO PEREIRA PARA ESCREVER UM PEQUENO, GRANDE TEXTO QUE ACABA POR SER HISTÓRICO PARA A COMPANHIA 3509 DO BATALHÃO DE CAVALARIA 3878, MOÇAMBIQUE 1972/74.
 
FAÇO UM POUCO DE HISTÓRIA.
A ÚLTIMA COMPANHIA DO BATALHÃO (3509) ERA COMANDADA POR UM CAPITÃO DE CARREIRA.
NÃO TINHA NASCIDO PARA "AQUILO" .
 
OS QUATRO ALFERES QUE CONHECI E FELIZMENTE AINDA CONHEÇO, ERAM DE COIMBRA PARA CIMA. LOGO GENTE INTELIGENTE DOU COMO EXEMPLO, QUE TRÊS EX-ALFERES AINDA TRABALHAM EM PROFISSÕES EXIGENTES E ESPERO QUE BEM REMUNERADAS.
 
O OUTRO, EX-BANCÁRIO TAMBÉM CONTRIBUIU NA ALTURA PARA A ECONOMIA DO PAÍS.
 
RECORDO O ANO DE 1971 EM SANTARÉM.
 
APLIQUEI-ME, ESTUDEI, DEI AO CANELO NO INVERNO, PRIMAVERA, VERÃO E INVERNO.
 
FIQUEI EM 2º LUGAR NO MEU CURSO.
 
O 1º CLASSIFICADO ERA MESMO BOM E SAIU-LHE A GUINÉ.
 
EM SANTA MARGARIDA FUI O "COMANDANTE" DOS FURRIEIS NUMA VIATURA DO LIXO QUE OS TRANSPORTAVA.
 
O MEU FUTURO ESTAVA TRAÇADO.
 
 
 
JÁ EM MOÇAMBIQUE DOIS EX-ALFERES, DEPOIS DE FAZEREM A ANÁLISE DO SEU COMANDO NOS PRIMEIROS MESES, OFERECERAM-SE PARA OS GE´S.
 
HAVIA UM FURRIEL, ALTO DE BIGODE E BOAS FALAS (REBELO) E "LIGADO" AO COMANDO QUE FOI O PRIMEIRO A SER GRADUADO EM ALFERES.
 
ERA DO 1º PELOTÃO.
TEVE AZAR, ENVIARAM-NO PARA A "PORRADA" EM CABORA BASSA.
 
CONTINUAVA A FALTA DE COMANDANTES DE PELOTÃO.
 
EM NOVEMBRO DE 72 E DEPOIS DE TEREM CONSULTADO OS "ASTROS", NOMEARAM-ME.
 
O FERRAZ FOI GRADUADO CAPITÃO E FOI COMANDAR O QUITERAJO.
 
POUCO TEMPO DEPOIS, PENSO EU, O SILVESTRE PIRES TAMBÉM FOI GRADUADO PARA PERMANECER NO 1º PELOTÃO.
 
ORA EU, CÁ O RAPAZ, TINHA ESTADO QUASE UM ANO NO 4º PELOTÃO COMANDADO PELO AMÉRICO COELHO E TENDO COMO "PARELHA" O EX-FURRIEL FERNANDO LOURENÇO.
 
CONHECIA OS SOLDADOS E CABOS POR DENTRO E POR FORA, JÁ OS TINHA VISTO TOMAR BANHO.
 
QUANDO ME DISSERAM QUE IRIA PARA O 3º PELOTÃO, EMBORA CONHECESSE DE VISTA E DE FAMA ALGUNS ELEMENTOS, SERIA DIFERENTE.
JÁ ME DAVA COM O EX-FURRIEL MADEIRA QUE TOPAVA BEM O MARALHAL.
 
EM MEADOS DE 1973, RENDIÇÃO INDIVIDUAL MANDARAM PARA LÁ O "MALUCO" DO MANUEL CABRAL, QUE AINDA VINHA COM A FEBRE DO "COMANDO" DA METRÓPOLE.
 
QUASE VOLTEI AO PRINCÍPIO. DEPOIS DE UM ANO A COMEÇAR A PERCEBER O QUE CADA UM PENSAVA E O QUE PODERIA VALER EM CASO DE BRONCA NO MATO OU NALGUM ATAQUE.
 
 
ANTES QUE ME ESQUEÇA, ESTOU TRISTE.
NAS VÁRIAS FOTOS TIRADAS NO MUCOJO NÃO CONSIGO VER NENHUMA DOS QUATRO EX-ALFERES DA 3509.
 
 
TAL ERA A SUA RESPONSABILIDADE OU FALTA DE OPORTUNIDADE.
 
O TERCEIRO PELOTÃO MUDOU DE VIDA, NÃO SEI SE PARA MELHOR .(AVENTURA PASSOU A TER).
 
ATÉ AO ALTO DA PEDREIRA, EM BASES PROVISÓRIAS COM POUCA PROTEÇÃO E POUCAS CONDIÇÕES COMO JÁ FOI DESCRITO POR ALGUNS, ERA UMA VIDA DE CIGANO.
PODÍAMOS TER SIDO "APANHADOS À MÃO".
TENDAS RUDIMENTARES, ÁGUA A CORRER COM AQUELAS CHUVADAS DILUVIANAS.
A ÚNICA TENDA "DECENTE" ERA A DOS GRADUADOS.
 
ESTAR QUASE UM ANO NO QUARTO PELOTÃO, DEU-ME EXPERIÊNCIA.
A CAUTELA DO AMÉRICO COELHO, O ESPÍRITO DE AVENTURA DO FERNANDO LOURENÇO.
O TERCEIRO PELOTÃO CONTINUOU ESSA SAGA.
 
SER ALFERES!!!
TER ALGUM PODER DE DECISÃO!!
NA ALTURA NÃO SABER AINDA BEM O QUE ERA "PAGAR" PELA SUA IRRESPONSABILIDADE.
 
CONFESSO, GOSTEI DE TER "O PODER"!!
DENTRO DOS LIMITES IMPOSTOS, ESCOLHER, VAMOS, PARA AQUI, PATRULHAR AQUI, MOLHAR O "CU" ALI.
 
 
EXPERIÊNCIA ÚNICA E CONFESSO QUE GOSTEI DE SER GRADUADO "LEMBE-BOTAS".
ALGUM MAIS DINHEIRO QUE GANHEI FOI INVESTIDO EM CONSTRUÇÕES NO ALTO DA PEDREIRA E COMPRA DE CAÇA PARA A MALTA.
 
SEI QUE MUITOS NÃO IRÃO LER TUDO, TEREI ESQUECIDO ALGUMAS COISAS QUE PORVENTURA JÁ TEREI PUBLICADO.
ESTE TEXTO IRÁ PARA A MINHA PÁGINA PESSOAL DO FACEBOOK, PARA UM DIA MAIS TARDE SE CÁ ESTIVER, LER AO MEU NETO.
 
GRATO PELA VOSSA ATENÇÃO.
PODE SER QUE CONSIGA UM "GOSTO" DO FERNANDO LOURENÇO.
EU GOSTEI DE O ESCREVER.