sábado, 1 de março de 2014

RECORDAR É VIVER - AS MINHAS FÉRIAS MILITARES EM JUN73 - 2ªParte, por Gilberto Pereira


 
RECORDAR É VIVER

AS MINHAS FÉRIAS MILITARES EM JUN73 - 2ªParte

Após 3 dias em Porto Amélia, viagem até à Beira com destino a Lisboa.

A viagem decorreu sem sobressaltos e á chegada ao aeroporto da Portela, um suspiro de alegria como que a dizer "gente cheguei ".
 
Aeroporto da Portela (Lisboa)
 
Pais e namorada esperavam ansiosos e não faltaram abraços e beijos, com lágrimas á mistura.
 
Depois é o regresso a casa, são os abraços dos amigos e pôr a conversa em dia lá no café da aldeia.
 
Tinha documentos a tratar e viagens em mente pelo que tive necessidade de alugar uma viatura que consegui na Ijala, representante da Toyota.
As viaturas disponíveis eram duas: um Peugeot 403 e um Carocha.
Optei pelo Peugeot porque já estava escaldado com carochas.
O Peugeot estava com bom aspeto e era engraçado, até as mudanças eram ao volante.
 


 
Um dia cheguei á noite ao café e um amigo meu o Luís disse-me: vamos a Óbidos beber uma Ginjinha...
E lá fomos.
 
 Óbidos
 
Chegados lá entramos, ficámos sentados numa mesa daquelas que são tipo banco corrido.
No canto oposto estava uma jovem senhora com um velho a beber uma Ginjinha.
 


 
Estávamos á conversa e nisto o Luís sussurra baixinho dizendo: ela não tira os olhos daqui...
Nisto eles levantaram-se e saem.
O Luís diz: Vamos á perseguição a ver o que isto dá.
 
Quando chegámos cá fora e os vimos entrar num bruto Mercedes, com ela ao volante, hei meu Deus...
Ele diz vamos para os não perder de vista...
Perseguição em direção ás Caldas.
 
 
Peugeot prego a fundo e a perder terreno...
Antes da rotunda das Caldas puf puf puf paf puf...
A porcaria do carro arrebentou, ficou a trabalhar com 3 cilindros sem força.
 
Adeus perseguição, adeus carro, adeus senhorita, adeus tudo, nem sei como aquilo chegou a casa.
No dia seguinte fui lá trocar de carro porque aquele já tinha pifado.
Não houve problema nenhum e deram-me o Carocha.   
        
Até fiquei a pensar: será que eles não têm coragem para arrebentar com os carros e estavam á minha espera?!!!...
A viagem para o Algarve vai ser de carocha e promete, mas só na 3ª parte.

Para o Pessoal do Bcav 3878 um forte abraço.
 
RECORDAR É VIVER
AS MINHAS FÉRIAS MILITARES EM JUN73 - 2ªParte

Após 3 dias em Porto Amélia, viagem até à Beira com destino a Lisboa.
A viagem decorreu sem sobressaltos e á chegada ao aeroporto da Portela
um suspiro de alegria como que a dizer " gente cheguei ". Pais e namorada
esperavam ansiosos e não faltaram abraços e beijos, com lágrimas á mistura.
Depois é o regresso a casa e são os abraços dos amigos e pôr a conversa em 
dia lá no café da aldeia.
Tinha documentos a tratar e viagens em mente pelo que tive necessidade de alugar viatura que consegui na ijala representante da toyota. As viaturas disponíveis eram 
duas: um peugeot 403 e um carocha. Optei pelo peugeot porque já estava escaldado
com carochas. O peugeot tava com bom aspecto e era engraçado, até as mudanças eram ao volante. Um dia cheguei á noite ao café e um amigo meu o Luis disse-me :
vamos a Óbidos beber uma ginginha e lá fomos. Chegados lá entramos e ficámos
sentados numa mesa daquelas que são tipo banco corrido. No canto oposto estava 
uma jovem senhora com o velho a beber uma ginginha. Estávamos á conversa e nisto o Luis sussurava baixinho dizendo ela não tira os olhos daqui, nisto eles levantaram-se e saíram, e o Luis vamos á perseguição a ver o que isto dá. Quando
chegámos cá fóra e os vimos entrar num bruto Mercedes e ela ao volante, hei  meu Deus, e ele diz vamos para os não perder de vista. Perseguição em direção ás caldas,
Peugeot prego ao fundo e a perder terreno e antes da rotunda das Caldas puf puf puf paf puf a porcaria do carro arrebentou, ficou a trabalhar com 3 cilinddros sem força, adeus perseguição adeus carro, adeus senhorita, adeus tudo, nem sei como aquilo chegou a casa. No dia seguinte fui lá trocar de carro porque aquele já tinha pifado. Não houve problema nenhum e deram-me o carocha.              
Até fiquei a pensar: será que eles não têm coragem para arrebentar com os carros e estávam á minha espera!!!  
A viagem para o Algarve vai ser de carocha e promete, mas só na 3ª parte  
Para o Pessoal do Bcav 3878 um forte abraço.
 

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

A minha partida para Moçambique, por Paulo Lopes



Algures por aqui, o Duarte Pereira, diz que tem algumas perguntas a fazer sobre a partida para e chegada a África!...
 
RI 3 . Regimento de Infantaria 3 (Beja)
 
 
A minha foi mais ou menos isto e tenham lá a paciência de ler mais um pouco do livro:

Eram 19 horas, quando cheguei ao Aeroporto de Figo Maduro, nas traseiras da Portela e não fosse a farpela a rigor de militar e alguns dos meus companheiros de viagem estarem vestidos da mesma maneira (mais galões, menos galões, com eles ou sem eles), poderia julgar que ali se estava a preparar um embarque para umas férias num qualquer país distante.
 
Aeroporto de Figo Maduro - FAP (Lisboa)
 
Fomos chamados, para nos apresentarmos na sala de embarque e as despedidas que tive com os meus pais, foram rápidas e de forma a que fossem, vou ali e já volto, para não dar origem às lágrimas que, sabia, iam ser muitas após a minha partida.

O ambiente não era, de forma alguma, aterrorizador nem idêntico aquelas partidas de barco que saíam do Cais da Rocha Conde de Óbidos, até porque, os militares eram em muito menor número e na sala de embarque, misturados com as fardas, encontravam-se vestes simpáticas e sofisticadas: familiares de militares que os acompanhavam para as cidades do Ultramar, o que deixava desde logo transparecer que a grande maioria não se deslocava para a guerra mas sim, para a vida normal que tinham abraçado, havia algum tempo, nas terras ultramarinas.
 
Cais da Rocha Conde de Óbidos - Embarque de Tropas para Ultramar
 
Sabiam precisamente para onde iam e lá, nesse local, nada tinham a temer em relação à guerra.
 
Não como eu que ia para uma vida nova.
Nem sabia, tão pouco, para onde ia: — Vais para Moçambique. — Disse-me o meu comandante do quartel de Beja.
— Apresenta-se no Quartel General em Porto Amélia.
— Disseram-me no quartel dos adidos na Ajuda.
Era tudo o que tinha para meu conhecimento!
Sentia-me completamente aturdido, adormecido e inconsciente de que vida me tinham preparado para a minha nova mudança ao serviço do exército.
Ao serviço da Nação.
 
 
O avião levantou voo, precisamente às vinte horas e cinquenta e cinco minutos.
Já comodamente instalado no meu lugar do avião da TAP, um Boeing 707 fretado pelo exército para transporte de militares e familiares (dos graúdos), sentou-se a meu lado um 2º sargento.
 
A viagem previa-se num espaço de tempo longo.
—Nove horas!
— Alguém me tinha informado.
Estava também prevista uma escala em Luanda e portanto muito tempo teríamos para falar de coisas banais, sem interesse, para passarmos as próximas longas horas.
Fizemos, como parecia ser obrigatório e estava previsto, escala em Angola, mais precisamente em Luanda, não só para deixar alguns militares e seus familiares que ficariam por ali mas também para reabastecimento do avião.
Operação que demorou o tempo suficiente para irmos até ao bar do Aeroporto onde, por desconhecimento dos hábitos e preços do marisco em África, mandei vir um prato de camarão para acompanhar com uma cerveja pois, pelo preço apresentado no placar afixado na parede do bar, pensei ser um pires com meia dúzia mal medida, de carapaus de bigode, aos quais nunca perdia, se isso me fosse monetariamente possível, uma ocasião de poder apreciar o seu sabor.
Mas afinal o prato era mesmo um prato e bem recheado.
Nada mau para a minha primeira refeição em terras Africanas.
 
 
Devorei-os sem precisar de ajuda, nem de tempo extra para limpar o fundo ao prato.
Até Moçambique faltava apenas um pulo e assim, às doze horas do dia 7 de Julho de 1972, estava na Beira.
Tinha chegado a Moçambique.
Na Beira, depois daquelas burocracias habituais e extremamente aborrecidas de fazer, soube quando partiria para Porto Amélia, no distrito de Cabo Delgado.
 
Para mim, completamente desinformado da geografia Africana, tal nome nada me dizia, mas como o mal logo se sabe, fiquei esclarecido e para que constasse, Cabo Delgado era um dos principais distritos do norte de Moçambique onde a guerra estava bem implantada.
Começava a acordar de vez!
Mas que poderia esperar um atirador?
 
Aeroporto da Beira
 
Três dias depois, aterrava no Aeroporto de Porto Amélia, capital do distrito de Cabo Delgado.
 

Porto Amélia (Pemba) - Moçambique
 
Entre apresentações e avisos do que havia a fazer, depressa fiquei conhecedor do meu pouso definitivo: — MATACA, junto à Serra do Mapé.

 
Restava-me saber quando e como iria.
 
Ninguém me deu agradáveis notícias de tal paradeiro: uns não conheciam tão pouco Mataca, mas da dita Serra, não me auguravam nada de aceitável.
Outros diziam que era no meio do nada e simplesmente faziam uma careta expelindo dos seus lábios um enorme chiiiiiiii...
Messalo-4.jpg
Outros, os mais conformados, diziam que era igual a tantos outros aquartelamentos espalhados pelas matas de Cabo Delgado.
 
Fiquei a saber o que já sabia...nada!

paulo lopes
in "Memórias dos Anos Perdidos ou a Verdade dos Heróis"

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

O Carocha, por Gilberto Pereira...


 
RECORDAR É VIVER

AS MINHAS FÉRIAS MILITARES EM JUN73

Depois de 6 meses de férias extras, em Nampula no HM (Hospital Militar), decidi gozar as minhas férias militares em Portugal.
Mais um mês para descansar e restabelecer.
 

Tomei o táxi aéreo em Macomia, com destino a Porto Amélia....
Em Porto Amélia tinha que esperar 3 dias pelo próximo voo e fiquei então hospedado numa Pensão na parte baixa da cidade, onde era habitual os militares aterrarem.
 
Aí fiz logo amigos, aliás vocês sabem como é a conversa entre a malta donde vens, vais de férias, como é que vai aquilo lá para cima, etc. etc..
 
 

Formámos logo ali um grupo e fomos lá para cima, para o bar do Hotel Cabo Delgado, mas ainda é um bocado longe e a subir, pensei logo, isto não são férias.
Conversa puxa conversa e o criado de mesa disse: ali em frente tá a ver aquele táxi o senhor aluga carros.
---- Ok ---- , com dinheiro à farta no bolso e que não me tinha custado a ganhar aí vou eu falar com o tal taxista para alugar o carro.
O homem olhou para mim e disse-me:
Sabe conduzir?
- Claro que sei e tenho carta fresquinha aqui de Moçambique, respondi eu;
- Nesse caso 3 dias custa, já não me lembro quanto.
Paguei logo tudo e ele disse: pronto o carro é aquele tome as chaves e depois entrega aqui o carro.
Tudo bem.
Mas quando olhei para o carro e vi essa porcaria que vocês vêem na foto pensei, este vai pagar as favas.
 

Peguei no carocha e passei no Cabo Delgado (Hotel) e disse aos meus amigos: já temos carro vou atestar já volto.


E lá fui eu em direção ao aeroporto onde havia uma bomba de gasolina.
Parei, veio o senhor e eu: é cheio.
Nisto pára do outro lado um gipão meio velho e quando eu reparo era um conterrâneo meu, fiquei tão contente, imaginem tão longe e encontrar alguém da nossa aldeia.
- Ó Rui tás bom?
Então não é que o cabrão não me passou cartucho.
Fiquei pior que estragado e nisto acelero o vw avenida abaixo e quando vou a passar no Cabo Delgado, os meus amigos levantaram-se tudo a gritar com os braços no ar e eu todo contente a acelerar.
Depois de passar olhei pelo retrovisor e vi o carro a arder, fiquei maluco, já tava a conduzir pela direita e tudo, um gajo teve de se desviar e virei na rua á esquerda, subi o passeio direito às àrvores e parei.
Iam dois gajos no passeio que tiveram que se desviar, abri a mala do motor, para pôr terra em cima das lavaredas para apagar e imaginem que os dois que me ajudaram, foram os examinadores que me deram a carta em Macomia ----IRONIA.
 

Daí a bocado apareceu o dono do carro a barafustar, que a gente dava cabo da vida dele, etc., e eu disse-lhe, que culpa tinha eu, daquela merda arder e que tivera muita sorte, de a gente apagar aquela porcaria, então acalmou e lá arranjou outro carocha.

Este portou-se bem, eu e os meus amigos de manhã para a praia e de tarde umas voltas.
 

Esta foi a 1ª parte das férias, a 2ª parte é já em terras de Portugal.
A narraçao da 2ª parte ficará para outro dia.
Para o pessoal do Bcav. 3878, um abraço.

 
RECORDAR É VIVER
AS MINHAS FÉRIAS MILITARES EM JUN73
Depois de 6 mêses de férias extras em Nampula no HM decidi gozar as minhas
férias militares em Portugal, mais um  mês para descansar e restabelecer.
Tomei o táxi aéreo em macomia com destino a Porto Amélia.
Em Porto Amélia tinha que esperar 3 dias pelo próximo vôo e fiquei então 
hospedado numa Pensão na parte baixa da cidade, onde era habitual os militares
aterrarem. Aí fiz logo amigos, aliás vocês sabem como é a connversa entre a malta
donde vens, vais de férias, como é que vai aquilo lá para cima etc etc.
Formámos logo ali um grupo e viémos cá para cima para o bar do Hotel Cabo 
Delgado, mas ainda é um bocado longe e a subir, pensei logo isto não são férias.
Conversa puxa conversa e o criado de mesa disse: ali em frente tá a ver aquele táxi
o senhor aluga carros---- ok ---- , com dinheiro à farta no bolso e que não me tinha
custado a ganhar aí vou eu falar com o tal taxista para alugar o carro. O homem
olhou para mim e disse-me: Sabe conduzir?--- claro que sei e tenho carta fresquinha
aqui de Moçambique, respondi eu; nesse caso 3dias custa já não me lembro quanto. mas paguei logo tudo e ele disse: pronto o carro é aquele tome as chaves e depois entrega aqui o carro. Tudo bem mas quando olhei para o carro e vi essa porcaria que vocês vêem na foto, e pensei este vai pagar as favas.
peguei o carocha e passei no Cabo Delgado e disse aos meus amigos: já temos carro
vou atestar já volto. E lá fui eu em direção ao aeroporto onde havia uma bomba de gasolina. parei, veio o senhor e eu é cheio, nisto pára do outro lado um gipão meio
velho e quando eu reparo era um conterrâneo meu, fiquei tão contente imaginem tão
longe e encontrar alguém da nossa aldeia---- ó Rui tás bom---- então não é que o cabrão não passou cartucho----- fiquei pior que estragado e nisto acelero o vw avenida abaixo e quando vou a passar no Cabo Delgado, os meus amigos levantaram-se tudo a gritar com os braços no ar e eu todo contente a acelerar, depois de passar olhei 
pelo retrovisor e vi o carro a arder, fiquei maluco, já tava a conduzir pela direita e tudo
um gajo teve de se desviar e virei na rua á esq. subi o passeio direito às àrvores e parei; iam dois gajos no passeio que tiveram que se desviar----- abri a mala do motor
para pôr terra em cima das lavaredas para apagar----- imaginem que aqueles dois que me ajudaram foram os examinadores que me deram a carta em Macomia ----IRONIA.
Daí a bocado apareceu o dono do carro a barafustar que a gente dava cabo da vida dele etc, e eu disse -- que culpa tenho de esta merda arder-- teve muita sorte de a gente apagar esta porcaria, então acalmou e lá arranjou outro carocha. Este portou-se bem, eu e os meus amigos de manhã para a praia e de tarde umas voltas.
Esta foi a 1ª parte das férias, a 2ª parte é já em terras de Portugal. 
A narraçao da 2ª parte ficará para outro dia.
Para o pessoal do Bcav., um abraço
 

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Poemas I, de Paulo Lopes

 
 
A divulgação de todas as atrocidades têm de estar sempre presentes!
Denunciar repetidamente porque isso é necessário mas, e porque há sempre um mas, oferece-me dizer:

LARANJA MECÂNICA


Na insipiência
dos blocos de frio
cimento:
a cidade.

O amor não existe
e o homem esconde-se de si próprio.

paulo lopes (1974)

ou também que:

VIVER OU NÃO VIVER

Vivemos assentes
em matemática
pertencemos
à engrenagem de uma
máquina.

paulo lopes (1970)

domingo, 23 de fevereiro de 2014

VIDA de um não MILITAR, por Armando Guterres



 
VIDA de um não MILITAR

Quinta 02/07/1970 - Banho na ribeira - primeiro ato militar com os catorze mancebos da aldeia.

Sexta 03/07/1970 - Inspecção sanitária, no velho edifício dos Bombeiros Voluntários do Fundão. Resultado previsível "todo o serviço" - não conseguido, segundo os interesses deles.
Santarém - terça feira 12/01/1971 - como recrutado.
Não recortaram grande cousa....
 
Sábado 03/04/1971 - Recruta pronto.
 
Domingo 11/07/1971 - 1.º cabo miliciano - Apresentação no RC4.
Missão pastar a vaca, com um intervalo de 3 semanas em Tancos no Curso de Buracos e Alçapões. Continuação de pastar a vaca - um trabalho que levei a sério e cumprimento segundo o RDM.
Sargento de dia num Domingo - Arrear da Bandeira: um puxão para baixo + dois para cima e depois de três tocaduras ...
Não faço ideia de quem a pôs cá em baixo.
 
Segunda feira 20/09/1971 - no gabinete de um capitão.
Tínhamos chegado atrasados dez "pastores".
Conforme iam dando justificações, iam levando dez dias.
Chegou a minha vez e dei a razão de ter perdido o comboio, que de propósito não tentei encontrar (festa civil na aldeia).
Mostrei o pulso e disse "MEU CAPITÃO O PONTEIRO DOS MINUTOS CAIU E POR ISSO CHEGUEI ATRASADO AO APEADEIRO".
Fiquei muito admirado da sua cara simpática a mandar-me retirar.
Os restantes continuaram a colecionar dez dias.
Terça feira 08/02/1972 - Teatro Vitória uma secção da Revista e corrida para Santa Apolónia. Abrantes - Santa Margarida de táxi.

Quarta feira 09/02/1972 - Furriel Miliciano Graduado - embarque no Figo Maduro - Luanda.
 
Quinta feira 10/02/1972 - Chegada à Beira de manhã.
Saída do quartel para cidade num autocarro de 2 pisos que tencionava ir vazio (abanou o suficiente até abrir as portas).
Andei sozinho à procura de uns primos que não encontrei.
Disse a um VCC que tinha uma nota de mil e ele foi comigo a uma cervejaria e fez questão de pagar as Laurentinas.
Jantar numa cervejaria com muita da nossa malta.
Um Alfero comando, chegado de Tete, pede ao n/capitão-proveta autorização para uivar.
Endireitou as facas de peixe que o empregado lhe ia dando.
Sexta feira 11/ 02/1972- Entrega das G3.
Voo fretado à DETA.
Último voo em que serviram bebidas alcoólicas nesses fretes.
Bebeu-se toda e qualquer que ia embarcada. Coitadas das hospedeiras!!!!
Porto Amélia debandada de armas e bagagens para pensões e hotéis.
Fui um dos que dormiram no quartel (num canto num monte de colchões).
 
Sábado 13/02/1972 - Queixa às autoridades militares, porque o pessoal invadiu a praia da messe dos oficiais e de fato de banho, uns de cuecas e outros nem isso.
Ao anoitecer recebemos as munições.
Trepámos para as viaturas atribuídas, transporte de gado com os respectivos taipais.
Paragem em Ancuabe para formar a coluna com a devida protecção.
Domingo 13/02/1972 - Recepção pelos velhinhos.
Saída para a Mataca.
Muito bom acolhimento no resort.
Terça feira 15/02/1972 - Os velhinhos leváramos para Macomia.
Quinta feira 17/02/1972 - Regresso à Mataca ...

 

sábado, 22 de fevereiro de 2014

E assim começa o livro, por Paulo Lopes


 
 
Rui Briote! Nem eu e já escrevo (para mim, principalmente) há muito tempo e, neste meu livro que uma plateia restrita leu e que agora, a conta gotas, os meus companheiros de "guerra" vão tendo a paciência de ler, começo por dizer:
Como é evidente, tod
os os nomes constantes neste romance (se for esse o titulo que se lhe possa ser atribuído) são inventados, assim como também tudo o resto, e o resto nem sempre é tudo o que sobra, porque sobra ainda a veracidade das cidades, vilas, lugarejos e pontos esquecidos nos mapas convencionais.

Tudo o que poderá parecer ,não o é, e será isso sim, uma pura e simples coincidência.

Coincidências aplicadas a nomes de tantos jovens feitos homens prematuros que já não podem; não querem; ou não conseguem, ler estas palavras que descrevo.
 
Digo eu que tenho, quando em vez, de dizer coisas.

Não sou escritor, porque a capacidade para tal está tão longe como África.

Apenas e ao longo de anos, juntei folhas rascunhadas, rasguei e voltei a rascunhar, dando origem a este amontoar de frases que, unidas, têm a intenção (pensamento secreto e reservado) de ser uma simples crónica transformada em livro!

 
Apenas e somente isso:
intenção (pouca).

E assim começa o livro.