sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Minha mãe... a verdade que deveria ser mentira, por João Marcelino


 
04 - 02 - 1997

PELAS 04H30, FUI CHAMADO AO GABINÊTE DO MÉDICO RESPONSÁVEL PELO SERVIÇO DE URGÊNCIAS DO HOSPITAL AMADORA SINTRA...

NESSA HORA E NESSE MOMENTO JÁ EU ESTAVA UM FARRAPO, DE TANTA ANGUSTIA E NOSTALGIA...
 
20 HORAS DEPOIS DE MINHA QUERIDA MÃE ALI TÊR DADO ENTRADA, EU ESTAVA ALI NA ESPERANÇA DE UMA BOA NOTICIA.
 
PORÉM ESSE DITO MÉDICO OLHOU PARA MIM, E SEM RODEIOS, CATEGÓRICAMENTE, EXCLAMOU: A SUA MÃE MORREU!!!...

ESTA VERDADE NUA E CRUA, FOI UMA VERDADE QUE EU PREFERIRIA QUE FOSSE MENTIRA,.. .

É POR ISSO MEUS AMIGOS !!!...
QUE EU DIGO: QUE HÁ VERDADES QUE SERIA PREFERIVEL QUE FOSSEM MENTIRAS,...

MAS TAMBÉM HÁ MENTIRAS QUE SERIA PREFERIVEL QUE FOSSEM VERDADES,..

UMA VERDADE PODE DOER MUITO MAIS, QUE UMA MENTIRA,..

A MENTIRA É O PODER,.. É A FORÇA DO MAL,..

A MENTIRA ATÉ PODE DESTRUIR O MUNDO !!!!!!!!....................

04 / 02 / 2014 por João Marcelino

        
  • Duarte Pereira TOMEM ATENÇÃO À DATA LÁ EM CIMA. ABRI O COMPUTADOR A DORMIR E PENSEI QUE TINHA SIDO ONTEM. E AINDA POR CIMA DIA 4 É HOJE. ISTO ESTÁ BONITO.
  • ESTÁ!!!
  • FOI DA "TAREIA" DE ONTEM COM OS COMENTÁRIOS!!!
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    Paulo Lopes Bom dia meus amigos!
    Também eu fui iludido na primeira análise!
    Amigo João Marcelino, não servindo de forma alguma de conforto, também eu tive uma idêntica situação com o meu falecido pai: levei-o para o Hospital Garcia da Horta num sábado de manhã!
  • Ficou nos cuidados intensivos onde eu permaneci até altas horas! às 8:00 de domingo informei-me do estado ao qual me disseram que já tinha seguido para a enfermaria!
  • Passado nem meia-hora, telefonaram-me do hospital para eu ir falar com o médico!
  • Minha mãe foi na mentira, eu não!
  • E lá fomos e o resultado foi o mesmo que o teu amigo!
    A própria vida, não sendo uma total mentira, é-o contudo, uma verdadeira ilusão!
    Mas amigo, a vida continua e não podemos viver do que se passou e continuemos a ilusão!
    Vou à minha bica e mais tarde penso regressar!
  • Um abraço a todos e tenham um bom dia.
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    Jose Capitao Pardal O meu também já faleceu, quando estava internado no Hospital do Espirito Santo, em Évora...
  • Também sei dar o valor a essas verdades, que deveriam ser mentiras...

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Demasiados galões para o meu gosto, por Paulo Lopes

 
 
Amigo Gilberto Pereira, boa noite!


Já por aí disse algures que o estar na Mataca era mau, mas tinha as suas vantagens!


Aproveito para chatear a malta com umas poucas linhas do livro "Memórias dos Anos Perdidos ou a Verdade dos Heróis" e que é um aludir ao que, em estilo de humor, comento em cima:
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Fizemos mais duas operações, sempre com o espírito de simples atuação de patrulhamento e nomadização. Nunca de ataque programado ou de deteção de pontos específicos.


A primeira com a duração de dois dias e a segunda de quatro dias.
Mas qualquer delas era eu quem  comandava e eram os meus homens que se expunham ao perigo (não o major ou o tenente coronel) e como tal, enfim, há os heróis procuradores de glórias e medalhas e os outros/!
Finalmente e com grande satisfação, recebemos ordens para regressar à Mataca.
Na realidade é um paradoxo o que nos traduzia esta satisfação.
Era uma alegria regressar ao isolamento total, atravessar a fronteira do mediocremente aceitável para o extremo do péssimo.
 
Apesar de Macomia ser uma vila onde até podíamos escolher, num menu de caligrafia quase indecifrável, dois ou três pratos diferentes —frango, bife ou camarão— e beber uma bazuca na mesa de um café sem ser na mesa do bar do quartel, não era, fator suficiente para fazer esquecer o militarismo que nela existia.
Demasiados galões para o meu gosto!
Onde até eu tinha de ostentar as minhas magras três listas douradas, em forma de bico de seta, colocadas sobre um pequeno bocado de fazenda verde!
 
Coisa que não existia na Mataca, apesar de se sentir, mesmo assim e aí, algumas diferenças de tratamento como, num pequeno exemplo, no local onde dormíamos: os oficiais numa casa; os sargentos numa casota; os cabos e soldados num buraco!

paulo lopes

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

O arrear da Bandeira, pelo Gilberto Pereira

 
VOU CONTAR UMA HISTÓRIA AO PARDAL E AO DUARTE:
 
Um dia à hora de arrear a bandeira, eu estava de Sargento Dia e acho que o Cabo Dia era Silva e o pelotão sapadores e o "pelrec" estavam fora, logo os dois, que tinham essa missão.
 
Como não chegavam, eu disse ao cabo para arranjar aí uma malta para irmos arrear a bandeira.
 
Então apareceram escriturários, impedidos, cozinheiros, eu sei lá--- fiquei a olhar para aquilo, uns de farda nº 2 outros com a nº 3, uns de botas, outros de alpercatas enfim...
A corneta tocou e lá foi aquela "cowboiada" toda; esquerda, direita, esquerda. direita.
 
Quando á voz de alto, iam caindo em cima uns dos outros.
À voz de direita volver, uns ficaram virados para a bandeira, outros ao contrário.
Imaginem o que eu não lhes disse.
 
Nessa altura, já tinha visto o Comandante a espreitar da janela, logo vi que ia sobrar para mim...
Acenei ao clarim para dar o toque para arrear e depois na voz de direita volver, um que não me lembro quem era, até ficou virado pro Subtil e até lhe disse: estás com fome?
 
Começaram a marchar passos trocados...
 
Nisto o comandante abriu a janela, e á voz de ombro arma, um ficou com a arma que parecia que ia aos pardais...
Nisto só ouvi a voz do comandante: nosso furriel, depois venha ao meu gabinete.
E aquela escumalha, lá chegou ao portão todos contentes a pensar que tinham feito um figurão.
 
Destroçar.
Aí é que eu lhes disse, o que nem o diabo gostava de ouvir!!!! 
 
2ª parte
 
E agora falta o mais difícil, disso eu tinha consciência: que fazer? o que me vai acontecer?
 
Pensei rápido, puxei a culatra atrás e lá fui: Entrei no gabinete do Comandante com a performance dum militar de carreira.
Ele estava atrás da secretária, levantou-se e disse-me tanta barbaridade e cada uma eu respondia: sim meu Comandante.
Estava a ficar irritado com a minha resposta que era sempre a mesma, de repente saiu detrás da secretária e veio posicionar-se á minha frente, encostou o nariz dele, quase ao meu e nessa altura eu pensei em milésimos de segundo, se me tocas, um passo atrás e adeus meu Comandante.
 
Mantive-me firme e ele disse-me em voz alterada: Voçê é uma porcaria, vou mandá-lo para a chefina e despromovê-lo.
E eu respondi: sim meu Comandante.
E ele disse: desapareça.
E eu respondi: sim meu Comandante.
E saí porta fora.
 
Passados dias outra evacuação para Nampula:
Estadia de 6 meses.
FURRIEL SOFRE..............
 

Foto de Gilberto Pereira.
 

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Visita do Capelão, por Paulo Lopes

 
Paulo Lopes - 28 de Janeiro de 2014 16:29 

Nesta Quarta-feira, vindo no táxi aéreo, tivemos a visita de um companheiro de exército, mas julgo eu, fora do contexto de guerra: um capitão, mas de uma arma totalmente adversa a esta zona e mais propicia a outras paragens: o capelão!...
Vinha com uma missão deveras difícil de cumprir:

— Purificar os pecadores.
— Salvar as almas.
— Abençoar as armas (???).

Decerto que a ideia deste capitão capelão, não era de nos incutir mais eficácia nos combates ou frieza nos corações para matar, mas sim dar-nos algum conforto de espírito, pois, apesar de tudo, ainda havia quem acreditasse nas palavras deles —padres— e talvez, quase todos tivessem fé em qualquer coisa.
 
Só ele sabe qual a razão da sua primeira e única visita a este seu rebanho deixado ao acaso no meio do nada, para lá do fim da linha.
 
Infelizmente, para estas almas penadas, o capelão não trouxe o milagre do fim da guerra. 

Mal ficámos apresentados ao nosso pastor e já estávamos com outra mensagem em cima da mesa do capitão —este doutra Bíblia— a discutir os inevitáveis preparativos para mais uma operação.

Entretanto fomos dando dois dedos de conversa com o capitão capelão.
Dava perfeitamente para entender que era um homem de não tiranizar ninguém, nem tão pouco apresentar a força divina com a sua força de galões de capitão.
Tinha uma candura ingénua de jovem eclesiástico não tendo, no entanto, a boca constantemente cheia de milagres.

Sabia bem o que estava a fazer e qual a sua missão: era apenas um pastor de ovelhas fardadas e sabia que, naquele local de cheiro a guerra, nem todos acreditavam nas suas palavras.

Eu, pelo que me diz respeito, apenas ponho em causa o seguinte e que não consigo compreender muito bem: se do outro lado da guerra, dos que teimosamente tinham o cognome de turras, existe outro qualquer padre, pedindo ao mesmo Deus exatamente a mesma proteção para os seus homens, como é que o bom Deus iria resolver esta questão?
Que lado ele defenderá?
Que homens mereciam a sua salvação?
Será que conseguira terminar o conflito entre as partes terrestres?
Pelo menos, até agora, não conseguiu por termo à ganância dos poderosos que, aliás, a grande maioria deles, se não todos, são muito dados a essas bênçãos do Céu, quando mostram o lado falso da sua face oferecendo este mundo e o outro aos altos eclesiásticos!
 
Será que até ao bom Deus eles conseguem enganar?
E lá fomos conversando.
Laracha daqui, laracha dali, até que veio a ordem para inicio da festa.

paulo lopes
in"Memórias dos Anos Perdidos ou a Verdade dos Heróis"

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Sei que... por Duarte Pereira


NÃO ME LEMBRO !!! NÃO SEI !!! JÁ ESQUECI !!

SEI QUE TÍNHAMOS COLUNAS PARA FAZER.
SEI QUE TÍNHAMOS DE FAZER PROTEÇÃO ÀS OBRAS DA ESTRADA.
SEI QUE NOS PRIMEIROS TEMPOS VÍNHAMOS TODOS OS DIAS DORMIR A MACOMIA....
SEI QUE A PARTIR DE UMA CERTA ALTURA PASSAMOS A DORMIR NO MATO, JUNTO À ESTRADA.
SEI QUE A ESTRADA IA ANDANDO E A NOSSA VELOCIDADE NO REGRESSO AUMENTANDO.
SEI QUE SÓ PICÁVAMOS PARA LÁ. OS TURRAS PARA NÓS SÓ DEVERIAM TRABALHAR À NOITE.
SEI QUE NÃO ME LEMBRO DE ESTAR NO MATO ENQUANTO AS MÁQUINAS TRABALHAVAM.
SEI QUE NÃO SEI COMO PASSAVA O TEMPO NO ALTO DA PEDREIRA.
SEI QUE NÃO SEI O QUE FARIA NO ALTO DA PEDREIRA
SEI QUE QUANDO SAÍA DA PEDREIRA PARA MACOMIA OS CARROS DEVERIAM VIRAR À DIREITA E MUITAS VEZES " TEIMOSAMENTE" VIRAVAM À ESQUERDA PARA O MUCOJO.
SEI E CALCULO QUE TENHA FEITO ALGUMA COISA, MAS A MINHA MEMÓRIA NÃO ME AJUDA. NOS ALMOÇOS TENHO PEDIDO AOS ELEMENTOS DOS DOIS PELOTÕES POR ONDE PASSEI QUE ME CONTEM EPISÓDIOS, OFICIAIS OU NÃO . TENHO TIDO POUCO SUCESSO. JÁ PASSARAM QUASE QUARENTA ANOS.
SEI QUE O AMÉRICO COELHO SE DEVE LEMBRAR DE "UMAS COISAS," MAS JÁ DEVE TER APAGADO.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

A UM PRESSENTIMENTO, por Paulo Lopes



A UM PRESSENTIMENTO

A primavera aproxima-se
vestida de um pressentimento
negro
e dos olhos do amor
com medo de morrer
caíram lágrimas vivas
que não molharam
mas destruíram
as flores
mesmo antes de nascerem.

Felizmente
nem as flores
têm destino pré-marcado.

paulo lopes 1974 (em Cabo Delgado - Moçambique)