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terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Faz hoje 42 anos (11/3/2016)..., por Livre Pensador

Boa noite.

Faz hoje 42 anos que a Ccav.3508 realizou pela 2ª. e última vez o trajecto Macomia - Ancuabe - Porto Amélia.


Após no dia anterior ter realizado o trajeto Chai-Macomia.


Faz hoje 42 anos que a Ccav.3508 se livrou definitivamente da guerra.





Faz hoje 42 anos que eu pude dizer (em Ancuabe) "PORRA ... DE GUERRA JÁ NÃO MORRO"!



Faz hoje 42 anos que eu vivi o dia mais feliz da minha vida.


sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Meti muitas vezes a pata na poça, por Duarte Pereira


DE FURRIEL A FURRIEL GRADUADO EM ALFERES.

OFEREÇO ESTE TEXTO AO GILBERTO PEREIRA.

EU ERA O FURRIEL MAIS ANTIGO DA COMPANHIA.


EM SANTARÉM NO CURSO DE JANEIRO DE 1971,..



FIQUEI EM SEGUNDO. 
O PRIMEIRO FOI PARA À GUINÉ.

ESTAVA DESCANSADINHO NO QUARTO PELOTÃO DA 3509. 

TIVE CONHECIMENTO QUE O FURRIEL REBELO DO 1º PELOTÃO TINHA SIDO GRADUADO. 

ACHEI ESTRANHO MAS NÃO ME PREOCUPEI.

DIZ NA MINHA CADERNETA MILITAR QUE FUI GRADUADO EM 1 DE NOVEMBRO DE 1972. 

NÃO SEI HOUVE PRELIMINARES OU SE FUI APANHADO DE SURPRESA. 
DEVO TER TOMADO POSSE MAIS TARDE. 
É TÃO BOM QUANDO TEMOS UM PATRÃO E ALGUMA COISA CORRE MAL, ELE É O PRINCIPAL RESPONSÁVEL. 

NO MEU EMPREGO. 
NUNCA CHEGUEI A NÚMERO UM DE AGÊNCIA. 

TU COMO TRABALHAS POR CONTA PRÓPRIA AGORA JÁ SABES O QUE É PÔR "A PATA NA POÇA". TER UM PELOTÃO, UNS TRINTA HOMENS E TENTAR LEVÁ-LOS E TRAZÊ-LOS, O MELHOR POSSÍVEL. 

FUI IRRESPONSÁVEL, MAIS DO QUE ISSO, AGORA CONSIGO SABER QUE ATÉ FUI PARVO. 

ANDAMOS POR CAMINHOS NÃO AUTORIZADOS PONDO EM RISCO A MINHA VIDA E DOS QUE ME ACOMPANHAVAM. 
MAS QUE DEU UM GOZO DO CARAÇAS, 
DEU !!!


AGORA QUE PASSOU NÃO ESTOU ARREPENDIDO.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

A CONVITE DO FILHO, UMA PRAIA NA "COMPORTA", por Duarte Pereira


OLÁ BOA TARDE OU BOA NOITE,
HOJE GOSTARÍAMOS DE CONTAR UMA HISTÓRIA PASSADA COM O SR DUARTE, MULHER, FILHO E NETOS.

ESTAVA COMBINADO PARA HOJE, A CONVITE DO FILHO DO CASAL, UMA PRAIA NA "COMPORTA".


COMO SABEM O SR DUARTE POUCO SAI DE CASA, MAS ACEITOU O DESAFIO. 
SEU FILHO TINHA PROMETIDO SURPRESAS NO PASSEIO.

LÁ CHEGARAM A SETÚBAL E PERDERAM O FERRY VERMELHO E TIVERAM DE APANHAR O VERDE. 

A "COISA" NÃO ESTAVA A COMEÇAR BEM. 
O FERRY EM VEZ DE IR PARA A SAÍDA À DIREITA PARA TRÓIA FOI PARA O LADO ESQUERDO PARA OUTRO LOCAL DE DESEMBARQUE.

QUANDO DESEMBARCARAM, AQUILO PARECIA A "QUINTA DO LAGO" QUE O SENHOR DUARTE NÃO CONHECE. 

A MÃE DOS NETOS ESTAVA EM COIMBRA EM SERVIÇO PROFISSIONAL.

ALGUMAS FOTOS FORAM TIRADAS E COM ALGUNS ENIGMAS. 

COMO O SR RUI BRIOTE FEZ, TERÃO DE DESCOBRIR OS PRATOS QUE FORAM PARA A MESA. 

DOIS SÃO FÁCEIS E SÃO IGUAIS E ESPECIALIDADE DAQUELA REGIÃO (SETÚBAL). 


A SURPRESA ERA DE NOVO O RESTAURANTE "O PESCADOR" EM "LAGAMEÇAS" E O SR DUARTE AINDA VIU UMA PLACA A DIZER "CAJADOS". 

ESTRANHO, O RESTAURANTE SÓ ABRE À HORA DO ALMOÇO. 

FICA NO "CU DE JUDAS". 
TEM UMA PARTICULARIDADE, NUM PATAMAR MAIS ACIMA TEM TRÊS MESAS GRANDES SÓ PARA "VIPS". VIPS ??? ( VENS INSPIRADO @ PASSA POR SESIMBRA). 

IRÃO VER ALGUMAS FOTOS NO FILME QUE VAMOS FAZER QUE NADA FICAM A DEVER AOS TRABALHOS PROFISSIONAIS DO SR FERNANDO LOURENÇO. 

JOVENS DE TRÊS E SEIS ANOS FIZERAM A SUA REPORTAGEM POSSÍVEL.

À VOLTA O FILHO DO SR DUARTE DISSE QUE IA DAR DOIS BEIJINHOS A UMA SENHORA PARA OS SESSENTA ANOS. 

PASSAMOS POR TERRAS DE FERNANDO PÓ, MUITAS VIDEIRAS. 
FOMOS PARAR À HERDADE DE "D ERMELINDA. 
MÃE DA ACTUAL PROPRIETÁRIA, QUE POR ACASO ESTAVA NO BRASIL. 

LÁ SAIU O "FILHOTE" COM DUAS GARRAFAS DE TINTO NUMA EMBALAGEM QUE OFERECEU AO PAI.

DIA ESTAVA A FICAR CANSATIVO, MAS NÃO COM FALTA DE LÍQUIDOS.

sábado, 26 de novembro de 2016

A minha G3..., por Duarte Pereira


NOTA PRÉVIA.
ESTE ARTIGO "A G-3", NÃO É PARA TENTAR DIMINUIR OS OUTROS EX-COMBATENTES, QUE LUTAVAM COM OUTRAS ARMAS PARA O BEM COMUM.

UNS ESTARIAM MAIS EXPOSTOS.
PODERÁ TER SIDO O "DESTINO", OS QUE, ACREDITAM E ACREDITARAM NELE, QUE TERÁ MUDADO AS NOSSAS VIDAS.

A MINHA G-3



EM SANTARÉM ANDAVA COM UMA G-3 QUE PASSOU MAL...
CHUVA, ESGOTOS, RIACHOS, POEIRA, CALOR DE VERÃO.

DISSERAM-ME QUE A G-3 TERIA DE SER TRATADA COMO UMA MULHER.

HAVIA INSPEÇÕES PERMANENTES À SUA MANUTENÇÃO.
MUITO ÓLEO E ESCOVILHÕES PASSARAM POR ELA.

A QUE ME FOI DISTRIBUÍDA NUNCA RECUSOU UM TIRO.

FUI MOBILIZADO. 
NÃO SEI SE LEVEI A MESMA.
ERA VELHINHA. 
JÁ DEVERIA TER FEITO UMAS COMISSÕES.

EM SANTA MARGARIDA OU JÁ EM MOÇAMBIQUE FIZ UM CONCURSO DE TIRO AO ALVO.
CLARO QUE GANHEI. 
FIQUEI EM TERCEIRO. 
GANHOU O AMÉRICO COELHO QUE JÁ USAVA ÓCULOS. 
EM SEGUNDO O FERNANDO LOURENÇO. 

A CORONHA DA G-3 DO AMÉRICO COELHO ACHO QUE ERA PRETA.

EM MOÇAMBIQUE CONTINUEI A TRATÁ-LA COM CARINHO, ASSIM COMO AS MINHAS BOTAS.

NOS LONGOS DIAS DA OPERAÇÃO OMO1 NA SERRA DO MAPÉ, CHEGUEI AO FIM COM CANSAÇO MAS OS PÉS ESTAVAM BEM.



SEMPRE INCUTI NOS SOLDADOS A MEU CARGO A MINHA EXPERIÊNCIA.
MUDEM OU NÃO MUDEM DE CUECAS. 
TENHAM CARINHO COM A VOSSA ARMA.
ANDAVA TRISTE COM O MEU 3º LUGAR NO CONCURSO DE TIRO AO ALVO.

A CONSTRUÇÃO DA ESTRADA MACOMIA/MUCOJO ABRIA CLAREIRAS DONDE TIRAVAM A TERRA PARA A NOVA ESTRADA.

NÃO ME LEMBRO, MAS PENSO QUE DE TRÊS EM TRÊS MESES RENOVÁVAMOS AS MUNIÇÕES DOS CARREGADORES.

AVISÁVAMOS MACOMIA QUE IRÍAMOS FAZER FOGO.



UM DIA SOZINHO "COMO EU ERA CORAJOSO" FUI PARA O ALTO DE UMA TERRAPLANAGEM E COLOQUEI UMAS LATAS DE CERVEJA LÁ NO MEIO.
NÃO POSSO CONFIRMAR SE ERAM 50 M. OU 100 M OU MAIS...
COLOQUEI A ALÇA DE TIRO NO BURAQUINHO DOIS. 
FIQUEI FELIZ. 
AS LATAS VOAVAM. 
PODIA ATÉ NÃO ACERTAR. 
COM O IMPACTO NA TERRA, ELAS ABANAVAM E CAIAM. 
O MEU AMOR PRÓPRIO TINHA VOLTADO DEPOIS DAQUELE VEXAME DO CONCURSO DE TIRO.

QUANDO ENTREGUEI A G-3 NA BEIRA, TIVE DE A ATIRAR PARA UMA MOLHADA. 
CONFESSO QUE NA ALTURA NÃO CHOREI E NEM SEQUER FIQUEI COMOVIDO.
MAS É O QUE ME ACONTECE AGORA QUANDO LEMBRO AQUELA CENA.
NÃO SEI SE ELA ME DEFENDEU? EU DEFENDI-A.

ALGUÉM QUE A SEGUIR A MIM A APANHASSE PODERIA TER A CERTEZA QUE ESTARIA EM BOAS CONDIÇÕES.

NÃO FOI UM "DIVÓRCIO", GOSTARIA DE A TER TRAZIDO PARA CASA E FICAR AO LADO DE UM STICK DE HÓQUEI EM PATINS QUE GUARDO RELIGIOSAMENTE.
VOU COM ESSE STICK À PORTA QUANDO ALGUÉM BATE À PORTA A PARTIR DA 1 HORA DA MANHÃ.

MORAL DA HISTÓRIA: PROCUREM TRATAR BEM OS DE QUE POSSAM VIR A DEPENDER ( OU NÃO ).

Paulo Lopes Até acredito que tenhas tratado bem da tua "G3" mas, de forma alguma posso acreditar que tenhas tratado da mesma forma o teu "stick" de hóquei já que apenas te serviste dele para andar à "marretada" numa bola!!
Pois eu também, em ocasiões espaçadas, gostaria de ter a G3 em meu poder (apesar de ser só garganta e provavelmente só mesmo em casos de extremo instinto de defesa é que a utilizaria! 
Mas que existem alguns que bem precisavam de experimentar, lá isso há!). 
Mas, foi um enorme prazer abandonar essa amante do ultramar!
Quanto à pontaria com a G3 e em semi-automático, estariam os alvos à vontade comigo até porque, salvo erro, o cano era de estrias o que originava uma saída de bala aos círculos! 
E não posso colocar de parte que eu era da secção de dilagramas! 
A arma que segundo afirmavam os "canhanhos lá de Tavira" que eu fiquei muito bem classificado, foi a HK21.
Moral da "minha" história: não sirvo para militar!

Américo Condeço A minha história com a G3 já foi contada há muito tempo atrás, mais propriamente com a coronha da dita cuja, mas a minha guerra era outra e a menina só servia para fazer aquele fogo na carreira de tiro para desenferrujar o cano e queimar munições que não estariam em condições, como disse a minha Guerra era outra a SAÚDE de todo o pessoal, VACINAÇÃO trimestral de toda a gente contra a cólera , distribuição semanal de antipalúdicos e a assistência médica e medicamentosa aos enfermos que aparecessem, lembro-me que por força da minha especialidade assisti a alguns partos efectuados no hospital civil que existia em Macomia, e de um em especial pois implicou uma evacuação quase ao anoitecer de uma parturiente negra que estava há já dois dias para ter a criança e já não tinha forças para ajudar a mesma a nascer, avião na pista parturiente lá dentro e avião no ar, imediatamente o piloto informou que a criança tinha nascido ainda o avião não tinha acabado de subir, ordens dadas pelo Dr. voltem para trás nós tratamos do resto, o rapaz era bem grandão creio que com 3K e 900 Gramas e tudo acabou em bem.

Luís Leote Tive uma má experiência com a minha G3 a disparar um dilagrama.
Coloquei a minha mão esquerda no guarda mato mas de forma imprópria. A membrana que liga o polegar ao indicador, ficou entalada entre o guarda mato e a estrutura da arma, e no momento do disparo, rasgou a m.... da membrana.
Ao princípio ñ senti nada, mas depois senti a mão molhada e pegajosa.

Luís Leote A minha Companhia teve alguns percalços na campanha, mas tivemos muita sorte em não escrever nenhum nome na nossa pedra

Gilberto Pereira NÃO POSSO COMENTAR PORQUE NÃO SEI O QUE É "G3".

Livre Pensador Infelizmente a minha companhia deixou 6 nomes escritos numa qualquer pedra!

Luís Leote Livre Pensador, Ribeiro infelizmente, não posso gostar do que disseste mais acima.

Gilberto Pereira OBG QUEM É QUE IRIA GOSTAR, SÓ UM LOUCO

Livre Pensador Eu também não amigo Leote, até porque alguns deles gravaram o seu nome nessa pedra quando estavam ao meu lado e, portanto, podia até ter sido o meu nome a ser gravado. Ribeiro.

Luís Leote Podia ter sido o teu nome a ser gravado, mas, ficou-te gravado na memória até hoje!!!

Gilberto Pereira É PÁ DEIXEM-SE DESSAS MERDAS QUE ATÉ PODE DAR AZAR !


Fernando Bernardes eu lembro que recebemos a G 3 completamente nova dentro de um saco plástico na Beira.

Armando Guterres mas sem balas ... essas chegaram em Porto Amélia antes de subirmos para os carros de (gado) no meu caso.

Fernando Bernardes É verdade Armando Guterres recebemos as munições em Porto Amélia e fomos sempre a fazer fogo até Macomia e depois até ao Chai.


terça-feira, 15 de novembro de 2016

Recordo na minha infância..., por Marília Dis Savtos

Recordo na minha infância, de ir lavar as roupas com a minha mãe, nas ribeiras ou albufeiras (estes espelhos de água puras e cristalinas, reflectiam as sombras ...das árvores).

Um grupo mulheres cantava, ao desafio, enquanto iam ensaboando roupa nas pedras, que metiam a corar, nos pastos do chão, para branquear.
 

Depois de lavados, os panos, eram por ali estendidos ao sol nos arbustos e árvores, pareciam, bandeiras hasteadas ao vento, davam um ambiente colorido ao campo...
 

Estas albufeiras, contrastam, com as zonas de grande secura (zona dos montados e olivais, parecem pequenos oásis), onde a vida parece florescer….
Lugares mágicos, que ficam nas bordas das ribeiras e albufeiras.


Quando era pequena gostava de brincar, nos campos com as outras crianças….
Ah, nestes tempos não havia perigos de nada, para as crianças, havia respeito entre os seres humanos.
Nem existiam medos de coisa alguma, Deus protegia os inocentes.
Também não existia poluição, nem nas águas nem nos lençóis freáticos, eram águas puras e cristalinas das fontes.
Que delicia poder saboreá-las!

Sabia-me, bem escutar o silêncio da noite nos campos do Alentejo.
Sentia paz interior.


Agora recordo tudo isto no palco das recordações da minha infância.
O Alentejo genuíno da imensidão das planícies….

domingo, 13 de novembro de 2016

Estás mobilizado Lopes..., por Paulo Lopes


a
Comentários



E no meio desses azares todos, longe, muito longe, estava eu descansado, como quase sempre:

...Foi num dos momentos de lazer, quando esperávamos quórum suficiente para mais uma tarde de jogo de futebol de 5, que o Comandante da Companhia, também ele apreciador de um bom jogo de futebol ou de qualquer outra actividade desportiva que metesse bola, chegou para aumentar o numero que fosse o ideal para iniciar a partida e me informou, com simples palavras calmas e duma frieza extrema sem transparecer qualquer hesitação no discurso de parcas palavras e sem nenhuns rodeios, colocando o braço sobre o meu ombro, num semi-abraço:
— Estás mobilizado Lopes. Vais para Moçambique...

Formou-se um silêncio longo e escuro que me abraçou suavemente. 

Um abraço com a duração de um instante parecendo-me uma vida. Vida que nesse momento me colocou em solidão, adormecido no tempo e no local, esquecido do presente, transportando-me para outro mundo, desconhecido no meu horizonte. 

Acordou-me a bola que bateu perto de mim...
Por estranho que pareça, não deixei de, briosamente, defender a baliza que estava à minha guarda e creio que nem o capitão o autorizaria e afinal, nada estava a acontecer que estivesse a fugir à normalidade. 

Apenas mais um seguiria para o Ultramar. 
Mais um número para informar o quartel de Adidos, em Lisboa, na Ajuda, para prepararem a partida. 

Afinal, o que perdiam ali no quartel de Beja era apenas o guarda-redes da equipa de futebol de 5 e não havia outro. 

Tinham de pensar em arranjar. 
Que chatice... 

Depois da missão desportiva cumprida e banho tomado, vestido como um militar, lá fui eu à secretaria saber mais pormenorizadamente do meu futuro, militarmente falando.
...
In "Memórias dos Anos Perdidos ou a Verdade dos Heróis"
paulo lopes

domingo, 6 de novembro de 2016

Mataca, onde é que isso fica..., por Paulo Lopes





Aproveito para dizer que a única parte que jeito tenha do texto que o amigo Jose Capitao Pardal relembrou aqui, é o que não existia: as fotos!

Obrigado Pardal só que, com isso e ao ver o campo de futebol de Porto Amélia, fez com que volte a incomodar a
s hostes com mais umas palavrinhas do dito livro (que o não é):

Na Beira, depois daquelas burocracias habituais e extremamente aborrecidas de fazer, soube quando partiria para Porto Amelia, no distrito de Cabo Delgado.



Para mim, completamente desinformado da geografia Africana, tal nome nada me dizia, mas como o mal logo se sabe, fiquei esclarecido e para que constasse, Cabo Delgado era um dos principais distritos do norte de Moçambique onde a guerra estava bem implantada.
Começava a acordar de vez!
Mas que poderia esperar um atirador?

Três dias depois, aterrava no Aeroporto de Porto Amelia, capital do distrito de Cabo Delgado.

Entre apresentações e avisos do que havia a fazer, depressa fiquei conhecedor do meu pouso definitivo: — MATACA, junto à Serra do Mapé.



Restava-me saber quando e como iria.
Ninguém me deu agradáveis noticias de tal paradeiro: Uns não conheciam tão pouco Mataca mas da dita Serra, não me auguravam nada de aceitável.
Outros diziam que era no meio do nada e simplesmente faziam uma careta expelindo dos seus lábios um enorme "chiiiiiiii", alguns, os mais conformados, diziam que era igual a tantos outros aquartelamentos espalhados pelas matas de Cabo Delgado.
Fiquei a saber o que já sabia...nada!

Vinha munido da morada de uma amiga que morava em Lisboa precisamente na minha rua e que tinha vindo procurar vida nova exactamente para Porto Amélia.
E então, assim que me vi livre dos meus deveres militares, tal provinciano chegado a uma grande cidade, sem conhecer nada nem ninguém, ai fui eu a procura do paradeiro da minha amiga de infância.

Felizmente para mim, Porto Amélia não era nenhuma grande cidade (até bem pequena) e foi fácil localizar o destino a que me propus.

Ela era professora no liceu de Porto Amélia e ele, o marido, além de trabalhar na fabrica de cerveja, treinava a equipa de basquetebol da terra e, talvez por isso, estava bem relacionado com civis e algumas altas patentes militares a quem me foi apresentando aos poucos.

Através dele, fui fazer um treino de captação na equipa de futebol de Porto Amelia, com o alento despoletado por falsa esperança vinda do marido da minha amiga, que isso me levasse a ficar por lá.



De todo impossível!
As cunhas não funcionaram, o que não era de estranhar, e como eu não apresentava assim tanto jeito para dar uns pontapés na bola que desse uma mais-valia a equipa da terra... tinha mesmo de ir para as trincheiras da guerra.





........
In "Memórias dos Anos Perdidos ou a Verdade dos Heróis"
paulo lopes

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

História do Chai XIII (1972/1974), por Livre Pensador


HISTÓRIAS DO CHAI (última)

Foi há 43 anos, no dia 14 de outubro de 1973, que o aquartelamento do Chai sofreu o maior ataque, cujos pormenores já aqui descrevi numa história anterior.
 





Esse ataque teve como reflexo imediato nos militares da Ccav. 3508, o despertar para o espírito de sobrevivência inerente a qualquer ser humano.
 
 
 
Todos nós tínhamos passado por imensos sacrifícios à custa de sangue, suor e lágrimas nos 20 meses de comissão cumpridos até essa altura.
 
 
Após tanto sof...rimento era nosso direito usar de todos os meios possíveis para sair vivo daquele inferno.
 
E foi com esse desejo que se enveredou por uma estratégia de defesa e segurança absolutas até ao dia em que fossemos rendidos.
 
 
Todos os dias, pelas 16,30h e até ser noite cerrada, eram ocupadas as posições de defesa do quartel.
O mesmo sucedia desde as 4,00h da manhã até ao nascer do sol.
E assim fomos vivendo em completo stress até ao dia 10 de março de 1974.
 
Foi esse o dia em que deixámos o Chai entregue à 2ª. Ccav. do Batalhão de Cavalaria 8422.
 
 
 
Os 40km que nos separavam de Macomia foram feitos passo a passo, com a observação atenta e minuciosa de todos os pontos ou locais que pudessem originar surpresas.
Felizmente chegámos ao destino sem qualquer contratempo.
 
Foi em Macomia que a Ccav. 3508 dormiu a noite de 10 para 11 de março de 1974, sendo por isso a última em zona de guerra.
 
Ao raiar do dia 11 partimos de Macomia com destino a Porto Amélia escoltados pelo Esquadrão de Cavalaria.
 
 
 
Chegados a Ancuabe (zona considerada sem guerra) as explosões de alegria não se fizeram esperar. 
 
Eu vi militares a gritar, a saltar, a chorar, a rezar, abraçados, etc, etc.
 
Por mim, apenas consegui pensar "PORRA DE GUERRA JÁ NÃO MORRO"!
 
 
 
Por isso mesmo ainda hoje considero o 11 de março de 1974 como sendo o dia mais feliz da minha vida!
 
Naquele momento todos passámos a ser heróis, apenas e tão só por termos saído vivos (mas não incólumes) dum inferno que nos arrasou durante cerca de 25 meses!
A FELICIDADE E A ESPERANÇA RENASCIAM PARA SEMPRE!


 
José Guedes Livre Pensador, ( Ribeiro ) é sempre bom recordar os bons e maus momentos que por lá se passaram, mas o mais importante deve ser o dia em que deixa-mos o local de guerra para trás e chegamos a locais mais confortáveis e sabermos que o dia do regresso estava para breve e como é bom que depois de tantos momentos difíceis que por lá se passaram ainda hoje podemos estar aqui a compartilhar isto uns com os outros,.. um abraço
 

 
Fernando José Alves Costa Livre Pensador ( Ribeiro) fizeste-me chorar de alegria, senti e vivi o grande alivio que todos vós sentiram o mesmo acontecendo com quase todos nós que por Ancuabe passaram. Abraço
 

 
Armando Guterres E a Mataca tão longe do Chai.
Depois de entrar numa viatura em Macomia - entrei em férias até umas boas horas em Porto Amélia ...
O caminho até lá !!!!
 

 
Rui Briote Esse sentimento de alegria infelizmente não o tive, mas imagino o estado de Alma de todos os que regressaram bem. Mais não digo, pois a minha vida foi e continua a ser um reflexo duma guerra inútil ...abraço a todos
 

 
Paulo Lopes Inútil (e não só) para nós meu amigo Rui Briote, porque alguém se governou bem com essa guerra, antes e até depois dela ter terminado.
Muitos andam por aí com grandes vidas à conta de outras perdidas!
 
 
Paulo Lopes Finalmente chegou! Finalmente a ansiosa mensagem que estava em nosso poder.
As datas confirmavam-se: chegada à Mataca da nova companhia a 2 de Março.
Saída da nossa companhia para Macomia e desta para Porto Amélia, a 12 de Março.
Viagem de Porto Amélia para a Beira a 16 de Março.
Partida da Beira para Lisboa, a 20 de Março.
Difícil descrever a alegria derramada quando a notícia, inevitável e trasbordantemente foi espalhada por aquele tão pequeno espaço que nos oprimia.
Nem mesmo, para nós tão preciosa como a vida, a chegada do correio nas quartas-feiras se sobrepunha a tamanho contentamento.
Nada que tivesse acontecido nestes meses infinitamente longos que, ocasionalmente, nos trouxesse um pouco de alegria, se aproximava de tanto mar de regozijo.
Estava perto o dia de voltar a abraçar os pais, filhos, esposas, amigos e eu sei lá o quê...
 
Estava perto o fim do pesadelo !
Sabia de antemão que eu, o capitão S....... e um dos primeiros-sargentos não embarcaríamos para a Metrópole na data que agora estava prevista, mas a nossa alegria, pelo menos naquele inesquecível momento, tinha o mesmo sentir e sabor da restante companhia.


Não seguiria na mesma data porque cheguei a este inferno de almas perdidas um pouco mais tarde que os restantes e havia que fazer todo um processo liquidatário e como tal, como seria lógico, caberia a mim, como sargento mais novo, auxiliar a essa tarefa burocrática.
Processo esse em que nem eu nem o capitão sabíamos bem qual a nossa missão, mas para nos dizer o que era preciso fazer estava lá o tal primeiro-sargento.


Pois que venha lá essa coisa de processo liquidatário!
O importante, para já, é que estávamos de partida.
Havia o alferes e os dois furriéis que tinham chegado ainda mais tarde, muito mais tarde, mas esses ainda não tinham cumprido nem metade da comissão e por isso iriam ficar integrados na companhia que nos viria render.
 
Uma triste e má notícia para eles mas, sem dúvida, uma mais-valia para os próximos e infelizes guerrilheiros que, tal como nós, chegariam de olhos completamente tapados e desprovidos de qualquer conhecimento do que os esperava, das aflições com que esta selvagem floresta de terrenos sinuosos os iria atormentar e que decerto lhes iria provocar um sentimento de revolta e ódio a quem os mandou para ali!
 
Os que iriam ficar poderiam proporcionar-lhes, sem dúvida, uma melhor condição do saber estar e de como agir mas, de forma alguma, lhes garantiriam uma fácil estadia nem poderiam transformar Mataca na cidade ou vila de onde foram arrancados e muito menos devolver-lhes os intermináveis meses de vida de que estavam a ser espoliados!


Ainda faltava tempo.
Tempo esse que apesar de ser mais animoso, continuava a ser imensamente difícil de passar se não talvez, ainda mais complicado: cada minuto era uma eternidade, mas havia no ar um calor diferente.
 
As situações difíceis tornavam-se mais fáceis.
A tolerância e compreensão eram mais notórias.
Assistia-se a uma transformação, a uma fuga à saturação!
Todos os rios de conversas desaguavam no mesmo mar: a chegada dos checas e a nossa partida.
 
Todos nós inventávamos o já anteriormente inventado pelos antecessores dos antecessores, as patranhas para pregar aos coitados, qual praxes estudantis.
 
As nossas mentes, os nossos olhos cerrados, já os viam caminhar pela picada que os faria entrar pelo velho portão de arame farpado!

in "Memórias dos Anos Perdidos ou a Verdade dos Heróis"
paulo lopes.
 

 
Livre Pensador Amigo Paulo, uma vez mais obrigado por este belo excerto das tuas memórias. Abraço.
 

 
Paulo Lopes Abraço amigo mas não se comparam com as tuas que são bem melhores! Bom fim de semana amigo!
 
 
Manuel Cabral Paulo Lopes a propósito desta parte do texto "Havia o alferes e os dois furriéis que tinham chegado ainda mais tarde, muito mais tarde, mas esses ainda não tinham cumprido nem metade da comissão e por isso iriam ficar integrados na companhia que nos viria render.
Uma triste e má notícia para eles mas, sem dúvida, uma mais-valia para os próximos e infelizes guerrilheiros que, tal como nós, chegariam de olhos completamente tapados "
 

 
Manuel Cabral Eu fui um dos que ficaram na nova companhia, e juro que nunca sofri tanto como nesses primeiros dias da companhia checa...
 

 
Manuel Cabral A primeira coluna que fiz com eles foi de Macomia para o Alto da Pedreira.
Pois toda a coluna saiu do cruzamento de Macomia aos tiros, e quando chegámos a um pequeno povoado, logo ali à saída, só eu e os dois soldados que iam ao meu lado (porque eu não os deixei ir na onda!) tínhamos balas no carregador... todos os outros tiveram que proceder a sua substituição...
 

 
Manuel Cabral foram uns meses muito complicados, até conseguir ir de férias... mas já contei essas aventuras noutro lado...
 

 
Paulo Lopes Compreendo-te perfeitamente amigo Manuel Cabral.
 
 
Duarte Pereira Mais um bom texto do Ribeiro.  
Pena eu não ter tomado umas notas.
Deve ter sido matéria dos aerogramas, para a Isabel, mas queimei-os todos.
 

 
Duarte Pereira O artigo do dia .
 

 
Jose Capitao Pardal Livre Pensador, já na cidade da Beira ouvi uma história de que eventualmente não iriamos partir para a Metrópole na data marcada, porque tínhamos de ir ainda para qualquer lado, mas só o Jose Ribeiro (alferes que nesse local estava à frente da companhia) e o Fernando Carvalho (o outro graduado do meu pelotão) é que poderão esclarecer o que se passou realmente, fruto da lamentação do primeiro para nós os dois...