Duarte Pereira (As comadres alentejanas)
PARA AGRADECER OS BLOGS AO COMPADRE PARDAL, FOMOS "ROUBAR" UM TEXTO AO SR LUIS LEOTE.
CHEGÁMOS À CONCLUSÃO QUE TER AMIGOS DÁ PARA "DESVIAR UMAS COISAS", SE O COMPADRE JÁ LEU EM TEMPOS, RELEIA.
TRIBUTO AOS ALENTEJANOS
(Para ler com tempo)
Alentejo
Palavra mágica que começa no além e acaba no Tejo
O rio da Portugalidade
O rio que divide e une Portugal e que à semelhança do homem português, fugiu de Espanha à procuro de mar.
O Alentejo molda o caráter de um homem.
A solidão e a quietude da planície dão-lhe espiritualidade, a tranquilidade e a paciência dum monge.
As amplitudes térmicas e a agressividade da charneca dão-lhe resistência física, a rusticidade, a coragem e o temperamento do guerreiro.
Não é Alentejano quem quer.
Ser Alentejano não é um dote é um dom.
Não se nasce Alentejano, é-se Alentejano.
Não foi por acaso que D. João II se teve de se refugiar em Évora para descobrir a Índia.
No meio das montanhas e das serras um homem tem as vistas curtas; só no coração do Alentejo um homem consegue ver ao longe.
Mas foi preciso Bartolomeu Dias regressar ao reino depois de dobrar o Cabo das Tormentas sem conseguir chegar à Índia, para D. João II perceber que só o costado dum Alentejano conseguia suportar o peso dum empreendimento daquele vulto.
Aquilo que para um homem comum fica muito longe, para um Alentejano fica já ali.
Para um Alentejano não há longe nem distância, porque só um Alentejano percebe intuitivamente que a vida não é uma corrida de velocidade, mas uma corrida de resistência onde a tartaruga leva sempre a melhor sobre a lebre.
Foi, por esta razão, que D. Manuel decidiu entregar a chefia da armada decisiva a Vasco da Gama. Mais de dois anos no mar…
Para um Alentejano. o caminho faz-se caminhando e só é longe o sítio onde não se chega sem para de andar.
E Vasco da Gama limitou-se a continuar a andar onde Bartolomeu Dias tinha parado.
O problema de Portugal é precisamente este:
Muitos Bartolomeu Dias e poucos Vasco da Gama.
Demasiada gente que não consegue terminar o que começa, desiste quando a glória está perto e o mais difícil já foi feito.
Ou seja muitos portugueses e poucos Alentejanos.
D. Nuno Álvares Pereira, aliás, já tinha percebido isso, caso contrário, não tinha partido tão confiante para Aljubarrota.
D. Nuno sabia bem que uma batalha não se decide pela quantidade mas pela qualidade dos combatentes.
É certo que o rei de Castela contava com um poderoso exército, composto por espanhóis e portugueses, mas o Mestre de Avis contava com meia dúzia de Alentejanos.
Não se estranha, assim, a resposta de D. Nuno aos seus irmãos, quando o tentaram convencer a mudar de campo com o argumento da desproporção numérica: -Vocês são muitos?
O que é que isso interessa se os Alentejanos estão do nosso lado?
Mas os Alentejanos não servem só as grandes causas, nem servem só para as grandes guerras.
Não há como um Alentejano para desfrutar plenamente dos mais simples prazeres da vida.
Por isso se diz que Deus fez a mulher para ser a companheira do homem.
Mas, depois teve de fazer os Alentejanos para que as mulheres também tivessem algum prazer.
Na cama e na mesa, um Alentejano nunca tem pressa.
Daí a resposta da Eva a Adão quando este intrigado lhe pergunta o que é que o Alentejano tinha que ele não tinha: -Tem tempo e tu tens pressa!
Quem anda sempre a correr, não chega a lado nenhum.
E muito menos ao coração duma mulher.
Andar a correr é um problema que os Alentejanos, graças a Deus, não têm.
Até porque os Alentejanos e o Alentejo, foram feitos ao sétimo dia, precisamente o dia que Deus tirou para descansar.
E até nas anedotas, os Alentejanos revelam a sua superioridade humana e intelectual.
Os brancos contam histórias dos pretos, os brasileiros dos portugueses, os franceses dos argelinos, só os Alentejanos contam e inventam anedotas sobre si próprios.
E divertem-se imenso, ao mesmo tempo que servem de espelho a quem as ouve.
Mas para que uma pessoa se ria de si própria, não basta ser ridícula porque ridículos todos somos.
É necessário ter sentido de humor.
Só que isso só é um extra só disponível nos seres humanos topo de gama.
Não se confunda, no entanto, o sentido de humor com alarvice.
O sentido de humor é um dom da inteligência, a alarvice é o tique da gente bronca e mesquinha. Enquanto o alarve se diverte com as desgraças alheias, quem tem sentido de humor ri-se de si próprio. Não há maior honra do que ser objeto duma boa gargalhada.
O sentido de humor humaniza as pessoas, enquanto a alarvice diminui-as.
Se os grandes ditadores se rissem de si próprios nunca teriam sido as bestas que foram.
As anedotas Alentejanas são autênticas pérolas de humor: curtas, incisivas, inteligentes e desconcertantes, revelando um sentido de observação, um sentido crítico e um poder de síntese notáveis.
Não resisto a contar a minha anedota preferida:
Num dia em que chovia muito, o revisor do comboio entrou numa carruagem onde só havia um passageiro.
Por sinal um Alentejano que estava todo molhado em virtude de estar sentado num lugar junto a uma janela aberta:
- Ó amigo, porque é que não fecha a janela? (Perguntou o revisor).
– Isso queria eu, mas a janela está estragada (respondeu o Alentejano).
– Então porque é que não troca de lugar?
– Eu trocar trocava, mas com quem?
Como bom Alentejano, que me prezo de ser, deixei o melhor para o fim.
O Alentejo, como todos sabemos, é o único sítio do mundo onde não é castigo uma pessoa ficar a pão e água.
Água é aquilo que qualquer Alentejano anseia, e o pão…
Mas há melhor iguaria que o pão Alentejano?
O pão Alentejano come-se com tudo e com nada.
É aperitivo, refeição e sobremesa.
É tão bom no primeiro dia, no dia seguinte ou no fim da semana.
Só quem come o pão Alentejano está habilitado para entender o mistério da fé.
Comê-lo, faz-nos subir ao céu.
Por tudo isto, que sempre que passeio pela charneca numa noite quente de verão, ou sinto no rosto o frio cortante das manhãs de inverno.
Dou graças a Deus por ser Alentejano.
Que maior bênção poderia um homem almejar?
Dum Alentejano
Desconheço o autor