terça-feira, 1 de agosto de 2017

Quiterajo 1972 - Operação de dois dias..., por Duarte Pereira

Duarte Pereira partilhou uma memória no grupo: BATALHÃO DE CAVALARIA 3878.
23/04/2017
Quiterajo 1972 - Operação de dois dias.
4. Pelotão da 3509 sob o comando do capitão António Ferraz. 
Ataque a um aldeamento que daria abrigo ao I.N.

Não houve tiros, só na perseguição que nos moveram.
Houve resposta nossa com morteiro 60.

Na véspera do ataque toda a noite a chover e bem.
Recordo que tentei dormir , sentado e encostado a uma árvore.
Ao alvorecer, com a subida do leito de um riacho, a água quase me chegava ao umbigo (estava morninha).
Peço desculpa por ter recordado este episódio, mas no regresso (ao Mucojo), foram não sei quantas horas com o passo acelerado.
Não deu para esquecer.
Foto de Fernando Lourenço.
Nota : Aquele cantil pendurado, envolto num saco em pano, muito velho, acompanhou-me em algumas operações. 

Deveria ter capacidade para uns dois litros de água e ainda levava o normal .

terça-feira, 25 de julho de 2017

O Horácio Cunha relembra..., por Duarte Pereira


Horácio Cunha 
Gostei do que acima se refere, mas gostaria que o sr. Duarte fosse mais preciso e não passasse sempre a ideia de que a CCAV. 3509 só esteve a fazer a proteção da construção da Estrada Macomia- Mucojo, " boa comida e boa bebida" e banhos de mar. 

Eu, que escrevi a História da Companhia, dia a dia, acho que isso é muito pouco e faz transparecer uma deficiente noção da realidade e, de certo modo, distorcer os factos. 

Estou a lembrar-me das diversas operações OMO 1 B...AIO 13 e outras, operações conjuntas, a só e com a Companhia do Quiterajo, imensos patrulhamentos à volta de Macomia, Pedreira, etc. colunas ao Chai , Antadora e Porto Amélia e sei lá que mais. 


Depois..." aturamos " aqui as bocas do costume... ,baseadas nessa ideia. "O que é preciso para o mal triunfar, é que os homens bons não façam nada ".
Um abraço.

Velhas DE Estremoz Alentejanas 
É sempre um prazer ler os comentários do Sr. Horácio Cunha. 
O local onde vive consegue conservar e bem as suas memórias. 
O Sr. Duarte tenta pintar aqueles tempos com pinceladas leves e não fazer um cenário muito escuro. Em mais de dois anos houve "serviço" , melhor ou pior para alguns de vós. 
Aqui é mais uma página de "conhaque", !

Duarte Pereira 
Sempre atento o Horácio Cunha. 
Agradeço a crítica construtiva.

José Guedes 
Cá está o amigo Horácio a dizer muito em menos palavras, o Duarte só fala na parte boa, o mais difícil tenta esquecer, que vendo bem as coisas até nem será mal pensado,...

E a 09 também esquece a ida à Mataca, com mina detectada e emboscada. Dormida na picada, pelo menos um carro com problemas e por ter caído a noite. 
Manhã seguinte, ao arrancarmos emboscada na retaguarda ao 1.º pelotão da 09 e reacção, primeiro com o 60 a caírem à sua frente e depois entraram uns metros no mato. 
Operação na base da serra que não foi mais longe (motivos: travão de pé e também travão deitado) {esta é só para quem se lembra}.



Continuo e dizer e reafirmo. 
O 1º pelotão da 09 foi quem mais passou pelas "passas do Algarve". 
Respeito o silêncio do Silvestre Pires. 
Ele em Moçambique falava e muito. 
Agora está em estado de recolhimento.


sábado, 24 de junho de 2017

O Saco de Batatas, por LLP, no blog: http://alea.blogs.sapo.pt

Quase nada de um pouco de tudo.
blog: http://alea.blogs.sapo.pt
Segunda-feira, 06.05.13
Poucos dias depois da operação de Tartibo, fui visitar os trabalhos em Nangade.
Tartibo, pequeno estacionamento militar no alto das margens do Rovuma, fôra a minha última missão.
Cada vez que chegava a época das chuvas a companhia que estava estacionada lá em baixo a pouca distância das margens do rio, era literalmente submergida pela enorme cheia, obrigada a dormir no alto das árvores e a passar as rações de combate por um sistema de cordas. Era, compreende-se, uma situação insustentável e a exigir uma nova localização e um outro estacionamento para a desgraçada companhia que lá ia ficar.
Foi o que fez o meu pelotão.
Ainda me lembro da minha ânsia em me refrescar quando chegámos ao Rovuma, depois de um penoso, poeirento e  matagalento percurso desde Mueda. 
Precipitei-me, todo vestido, botas e tudo, para uma pequena lagoa no meio de descomplexadas gargalhadas dos “ mainatos “. 
“Porque é que te estás a rir, meu malandro ? 
“crocodili alferi, crocodili” e riam-se a bandeiras despregadas.
                                                
Na altura não achei piada, como também não achei piada à sessão de certeira morteirada com que foi brindada a partida da engenharia depois do trabalho concluído. 
O meu recente amigo, professor de filosofia na vida civil e então capitão miliciano da companhia de caçadores que lá ficou, também não.
Nangade só se parecia com Tartibo pela proximidade do grande rio. 
Aldeamento relativamente importante, no alto de um planalto, rodeado e semeado de cajueiros, era limpo, bem administrado e sede de um batalhão. 
Lá a guerra parecia longe e era quase como que um descanso para a tropa de engenharia ali destacada.
De Nangade só tenho boas recordações, começando pelo “meu“ comandante, grande senhor, oficial de cavalaria, culto, de invulgar competência e com particular simpatia pela engenharia.
“Ó António” dizia ele para o cozinheiro, com a sua careca vermelha e escorrendo suor “este caril não está suficientemente picante aqui para o nosso alferes...” e olhava para mim sorrindo amigavelmente. 
E (como posso esquecer?) aquela visita que um dia recebi de outro oficial superior de outra arma vindo de Nampula, que não percebia nada de nada e, ainda menos, as minhas reservas quanto à utilização da pista, por nós recém-construída, para aviões Noratlas. 
“Compactação? Compactação? Que não está em condições? Isto está bom, isto está bom”, exclamava ele convicto depois de bater com a bota no chão, como se aquele bater de bota fosse equivalente ao impacto de uma aterragem de mais de 15 toneladas...
Foi, pois, com prazer que um dia voltei a levantar vôo de Mueda em direcção a Nangade.
Ia com o meu  amigo de infância André, piloto da força aérea e que, depois de tantos perigos e missões arriscadas na fronteira Norte de Moçambique, morreu tragicamente num naufrágio aqui, perto de Peniche. 
“Olha” disse-me ele “hoje não vens ao meu lado. 
Isto está a abarrotar com tudo e mais alguma coisa. 
Vais atrás de mim, ali em cima dos sacos de batatas”.
           
                                           
“Está bem”.
E a DO levantou, mas não como era hábito, levantou em parafuso, na vertical. 
“Recebemos informações. 
Isto hoje não está bom, os gajos estão lá em baixo e mais vale nós irmos alto, muito alto”. 
“Está bem” e olhava lá para baixo para Mueda que, felizmente, se afastava cada vez mais. 
Ficava tudo o que eu conhecia estranhamente pequeníssimo. 
Era uma sensação algo desagradável, nada que se parecesse com os inebriantes vôos que tinha feito de heli escoltado por dois T6, quase lado a lado e a rasar a copa das árvores. 
E subimos, subimos na vertical até o André achar que já era seguro e, depois, rumo a Norte. 
Chegámos àquilo que para mim era um oásis.
 “Os gajos estavam lá” disse-me ele inspeccionando a fuselagem e ao meu olhar interrogativo respondeu apontando para um buraco de bala na barriga do nosso aviãozito. 
“Cá está” e riu-se. 
Eu menos, era mesmo por de baixo do saco de batatas onde eu viera sentado.
”Ó António, hoje o caril tem que estar muito picante... ver se animamos aqui o nosso alferes”, exclamou o "meu" comandante quando soube da ocorrência.
Pois.

quarta-feira, 14 de junho de 2017

RECORDAR A GUERRA (DOIS EPISÓDIOS)..., por José Capitão Pardal e Fernando Bernardes

RECORDAR A GUERRA (DOIS EPISÓDIOS)

Jose Capitao Pardal, 14 de Outubro de 2014 16:49
...
E eu agora conto outra história.


A de um militar que também foi evacuado para Nampula, quase a "bater a bota", que no hospital não se podia "desenfiar" porque não se podia pôr de pé (pelo menos nos 2 primeiros meses) e no dia em que tentou ir à casa de banho, mesmo segurado por dois ajudantes, foi-se abaixo das "canetas" e caiu no chão desamparado. 

Esse militar passados pouco mais 3 meses, "alguém" achou que já lá estava há muito tempo hospitalizado (sem estar totalmente recuperado), insistiu junto do Comando de Setor, para a sua devolução ao "resort" do Chai ou na sua substituição. 


O Comando de Setor através de Telex "pressionaram" o dito Hospital de Nampula para que lhe dessem rapidamente baixa.

Esta informação foi fornecida pelo tenente médico que assinou a "devolução". 

O dito militar ainda esteve 3 semanas na Ilha, mas com o braço ao peito. 

Assim que regressou a Nampula, sem qualquer inspeção ou fisioterapia (para a recuperação do membro superior esquerdo), com um buraco nas costas e um rim afetado foi despachado em grande velocidade para o dito "resort". 

Esse militar mesmo que quisesse ou tivesse o engenho do nosso amigo, não teria conseguido desenfiar-se...



Fernando Bernardes, 14 de Outubro de 2014 18:14

Pois a minha historia, que já relatei aqui é muito idêntica à do Pardal, mas com final, felizmente para mim, mais justo e mais humano.

Não sei como cheguei ao Hospital Militar de Nampula.
Despertei uma semana depois do acidente com uma mina anti carro, próximo do Cruzamento da Viúva.

Fui imediatamente transferido da UTI para a neuro cirurgia.

Era um pavilhão geminado com o da ortopedia.

Quando me vi deitado numa cama e na enfermaria quase sózinho, ao tentar levantar-me, dei conta que tudo me doía e que só conseguia mexer os braços pelos cotovelos.

Arrastei o corpo para fora da cama e quando tentei ficar de pé, caí redondo no chão.

Não adiantou chamar, berrar por auxílio, pois ninguém apareceu.

Mas como eu não era de desistir, tanto tentei que consegui ficar de pé.

Ao querer mover os pés voltei a cair, agora para cima da cama em frente.

Voltei de novo a por-me de pé e arrastando os pés, pois outra coisa não consegui fazer, lá fui até à casa de banho.
Lá me desenrasquei como pude, mal e porcamente.

No dia seguinte o médico ao fazer a visita aos doentes, como eu não estava na minha cama, deu-me alta.

Estava na enfermaria de ortopedia, pois estava lá alguém conhecido que não podia sair da cama.

Aí tive sorte, pois o maqueiro que era da minha terra, veio alertar-me para o sucedido.
Falando com o médico ele diz-me que não podia voltar atrás, mas mandou-me para a ilha de Moçambique.


E ainda bem, pois foi lá que vim a descobrir os meus verdadeiros problemas.


Quando regressei fui ao Hospital de Nampula, não saí de lá sem ser visto pelo médico.

Eu tirava chapas de RX, mas elas não apareciam, até que um dia não saí de lá sem as trazer na minha mão.

Quando o médico viu o RX, mandou marcar consulta para ortopedia.
E o médico de ortopedia disse logo... a tua guerra acabou.

Propôs a minha evacuação para o HMLisboa.

quinta-feira, 1 de junho de 2017

1° ferido em combate O Vellasco Martins, por José Leitão

José Leitão para PICADAS DO CABO DELGADO


Sao passados quase 47 anos...e este "filme" ainda me tira o sono!

1° ferido em combate O Vellasco Martins.

África…Serra do Mapé.... 
O cheiro cálido e acolhedor da floresta, o cheiro meio metálico, meio resinoso do trotil deflagrado e o cheiro fresco, acre e doce da carne dilacerada. 

É pedida evacuação urgente. 

Passados muitos minutos, cerca de 1 hora e 30 minutos...começamos a ouvir o som, este som sincopado e sibilante, do helicóptero que se avoluma abafando tudo e uma nuvem de poeira em rodopio que se adensa rapidamente, encobrindo de todos o mundo inteiro. 

Surge uma maca e é erguido do chão por mãos invisíveis e entra, planando, no helicóptero. 

Num impulso, que deverá permanecer para sempre completamente incompreensível, tenta agarrar-se ao capim para impedir que o levem. 

Nota: Isto aconteceu a 1 de Outubro de 1970…eram decorridos 21 dias de “inferno”!!!

Jose Leitão
CCAV 2752



segunda-feira, 8 de maio de 2017

Agradecimento do Sr. Duarte, por Duarte Pereira

Duarte Pereira
2014-
QUERO AGRADECER A TODOS OS AMIGOS QUE SE LEMBRARAM DE MIM NESTA DATA DO MEU ANIVERSÁRIO.

TAMBÉM NÃO É DIFICIL, COM A PUBLICIDADE QUE ESTÁ FEITA NA PÁGINA DO BATALHÃO.

É DIFICIL AGRADECER UM A UM .

ESTOU A PENSAR FAZÊ-LO LÁ MAIS PARA A NOITE.

NOTA: É CAPAZ DE TER HAVIDO UM POUCO DE EXAGERO NESTA MINHA COMEMORAÇÃO.

REALMENTE HOUVE SURPRESAS E NÃO ESTIVE METIDO NISSO.
OBG.

O QUE É QUE É ??
LEMOS NO NOSSO EMAIL OS COMENTÁRIOS QUE FORAM FEITOS NA NOSSA AUSÊNCIA.
...
SIM. FOMOS CONVIDADAS PARA O ALMOÇO DE FAMÍLIA DO SR DUARTE.

LEMOS PALAVRAS SIMPÁTICAS DE MUITOS DE VÓS.
DEPOIS LEMOS UM TEXTO SOBRE "AMIZADE".
NÃO IREMOS FAZER CONSIDERANDOS SOBRE O MESMO.
JÁ HOUVE MUITOS COMENTÁRIOS E OPINIÕES.

PARA NÓS "AMIZADE" É UMA PALAVRA MUITO ESPECIAL
DURANTE A NOSSA JUVENTUDE PODEMOS TER TIDO MUITOS AMIGOS, DEPOIS NO EMPREGO, (QUANDO HAVIA).

HOUVE O CASO ESPECIAL DOS EX-COMBATENTES.



PARA NÓS HÁ TRÊS INIMIGOS POTENCIAIS PARA UMA QUEBRA DE AMIZADE.
PARA OS HOMENS - MULHERES, FUTEBOL E POLÍTICA.
PARA AS MULHERES - AMIGAS, MULHERES E AMIGAS DO CORAÇÃO.

DEPOIS DOS NOSSOS QUARENTA ANOS AS AMIZADES JÁ DEVERIAM ESTAR SOLIDIFICADAS.

O SR DUARTE PERDEU OS AMIGOS DA SUA JUVENTUDE, ALGUNS JÁ FALECERAM.

PERDEU OS AMIGOS DO SEU EMPREGO.
FOI MORAR PARA LONGE E OS ANOS AFASTARAM-NOS.

GUARDA OS QUE LHE FIZERAM "COMPANHIA" EM MOÇAMBIQUE.
UNS MAIS, OUTROS MENOS.

AGORA A NOVIDADE QUE ACABA POR NÃO O SER.
FOI ESTA "COISA" DO GRUPO DO BATALHÃO QUE APROXIMOU O SR DUARTE DOS ALMOÇOS.

DESDE 2002 FEZ GAZETA ATÉ 2012.
AGORA FEZ TRÊS SEGUIDOS E ESTÁ MAIS OU MENOS COMPROMETIDO PARA 2015.

A AMIZADE CONSTRÓI-SE E CULTIVA-SE.

BEM HAJA QUEM CRIOU ESTE GRUPO, PORQUE O SR DUARTE E NÓS PODERÍAMOS ANDAR NA CLANDESTINIDADE.

BEIJINHOS A TODOS.

Uma Guerra Deprimente..., por José M. Dionísio

Uma Guerra Deprimente...

MOTE

D’uma guerra deprimente
No antigo território Colonial
Na minha geração era normal
Ser herói/mártir noutro Continente


1
Fazer a vida militar
era uma obrigação,
pois na minha geração
não havia volta a dar,
todo o jovem lá ia parar
e dizer estou presente,
fosse saudável ou doente
só livre da tropa ficava
se alguém influente o safava,
D’uma guerra deprimente

2
Não se tinha a percepção
em nossa plena juventude,
não víamos na plenitude
os perigos que à frente estão.
Às vezes não dávamos razão
ao que era substancial,
por vezes levávamos a mal
aos conselhos que nos davam,
sobre os perigos que grassavam
No antigo território Colonial

3
Todos temos na lembrança
do tempo que durou a guerra,
muitos, longe da sua terra
em África marcavam presença,
com receio e com esperança
para nada correr mal,
era essa a questão essencial
chegar ao “Puto” são e salvo,
ir à guerra e ser um alvo
Na minha geração era normal

4
Ao estadista falta sensibilidade
tanto hoje como outrora,
nesse aspeto não há melhora
essa é a pura realidade.
Há falta de sensibilidade
sem dar valor à “Gente”(1),
era assim que antigamente
acontecia aos jovens de então,
fosse fraco ou valentão
Ser herói/mártir noutro Continente

(1),- Jovens que no meu tempo,
lutaram em terras de África

José M.Dionísio, Ago._2004

domingo, 23 de abril de 2017

A arte do desenfianço, por Gilberto Pereira


" JORNAL DA CASERNA "

NA SUA EDIÇÃO DE HOJE PODEMOS LER UM PEQUENO TRECHO INTITULADO:
" O MILITAR DESENFIADO "



DECERTO TODOS O CONHECIAM, ODIADO POR UNS AMADO POR OUTROS.
(Gilberto Pereira?...)

NÃO TENDO RESISTIDO AO EXCESSO DE ALCÓOL A FIM DE ESQUECER A MATILHA MILITAR, FOI VITIMA DE FEBRES ALTAS, TENDO SIDO EVACUADO PARA HM MUEDA E POSTERIORMENTE TRANSFERIDO PARA O HM NAMPULA.

AÍ FOI INSTALADO NUMA SUITE MILITAR E TEVE OS CUIDADOS MÉDICOS DE ACORDO COM A SUA PATENTE.

FORAM SEIS MESES DE LUTA CONTRA A DOENÇA, MAS AO MESMO TEMPO SEIS DE DESCANSO E LAZER.


ESTES DIAS ERAM PASSADOS DO SEGUINTE MODO:

ÁS NOVE HORAS DA MANHÃ A FEBRE APARECIA E IA ATÉ AOS
41,5º FAZIA EXAMES E ANÁLISES ORA NO HM ORA NO HC.

Á TARDE POR VOLTA DAS 4/5 HORAS A FEBRE DESCIA ATÉ AO
NORMAL. 

DEPOIS UM DUCHE UM "LANCHITO" E A FUGA PELO ARAME FARPADO EM DIREÇÃO Á CIDADE NA COMPANHIA DE OUTROS CAMARADAS TAMBÉM MUITO DOENTES.

UMA VEZ CHEGADO À CIDADE UMA PEQUENA GULOSEIMA NO PORTUGAL, UNS MORANGOS COM CHANTILY VITAMINAS CONTRA OS ANTIBIÓTICOS QUE A SANITA ENGOLIA.

DEPOIS UMA VOLTINHA LÁ PARA BAIXO QUE VOCÊS CONHECEM BEM AFIM DE MANTER A FORMA FISICA. 

DEPOIS TÁXI PARA CIMA EM DIREÇÃO À "FLORESTA" UM JANTAR PARA RETEMPERAR FORÇAS. 

JÁ É NOITE UM CINEMA DE VEZ EM QUANDO E PARA FINDAR A NOITE NADA MELHOR QUE UNS CAMARÕES E UMAS BAZUCAS NA "MARISQUEIRA A TAL PONTO QUE O REGRESSO AO HM TERIA DE SER FEITO EM TÁXI E QUANTAS VEZES NELE ENTREI DE GATAS COMO SE FOSSE AINDA MENINO.

AGORA O PIOR ESTAVA PARA VIR: E COMO ENTRAR NAQUELE
ESTADO SE AO CIMO DA RAMPA NO PORTÃO ESTAVA UM CHECA? 

NÃO HAVIA DISPENSA NEM PAPEL NENHUM COMO FAZER? 

A CABEÇA QUADRADA, AS PERNAS NÃO AJUDAVAM MUITO E O DESEQUILÍBRIO ERA CONSTANTE A PONTOS DE A MEIA RAMPA VIRAR PARA BAIXO.

APÓS ALGUMAS TENTATIVAS E PERANTE O OLHAR ATERRORIZADOR DO CHECA LÁ CONSEGUIA CHEGAR AO PAU DO PORTÃO QUE ME SERVIA DE BENGALA, E AGORA?

O CHECA DE ARMA APONTADA DIZIA: A SUA DISPENSA? E EU RESPONDIA: QUAL DISPENSA QUAL ???..........., MOSTRAVA O CARTÃO MILITAR E PUXAVA DUM MAÇO DE NOTAS E ENTREGAVA UMA DIZENDO TENS AÍ A DISPENSA E AMANHÃ HÁ MAIS--------.
E ASSIM ENTRAVA ENQUANTO ELE SORRIA PARA A NOTINHA E DIZIA BOA NOITE.

TODOS OS DIAS A HISTÓRIA SE REPETIA ATÉ QUE AO FIM DE SEIS MESES ESTAVA TESO E FINALMENTE A DOENÇA ESTAVA DESCOBERTA. 

IAM-ME DAR ALTA E EU IA PARA OS ADIDOS. 
ENTRETANTO JÁ TINHA PEDIDO MAIS DINHEIRO QUE CHEGOU NA HORA CERTA. 

AO CHEGAR AOS ADIDOS Á ESPERA DE TRANSPORTE PARA MACOMIA, FUI INFORMADO PELO OFICIAL DE DIA QUE SÓ TINHA COLUNA PARA MUEDA NA PRÓXIMA SEMANA E QUE ESTARIA DE SERVIÇO NO OUTRO DIA, AO QUE RESPONDI: NÃO NÃO FAÇO SERVIÇO NENHUM, TIRE ESSA IDÉIA DA SUA CABEÇA E ELE RESPONDEU: ENTÃO NÃO VENHAS VER A ESCALA NÃO!

COM DINHEIRO NO BOLSO FUI COMPRAR PASSAGEM DE AVIÃO NO MESMO DIA VOEI PARA PORTO AMÉLIA E Á TARDE DE TÁXI AÉREO PARA MACOMIA. 

APRESENTEI-ME COM O PAPEL DA BAIXA E TUDO FICOU BEM. 
ESTAVA ENTÃO DE VOLTA Á CASA MATERNA. 

ESTÁVAMOS POR VOLTA DOS ANOS 73 CREIO NÃO SOU MUITO BOM EM DATAS, MAS PELO PAPEL QUE TINHA DEVIA SER ISSO.
TEMPOS QUE JAMAIS ESQUECEREI.....

AS SAUDADES FORAM TANTAS QUE MAIS TARDE VOLTEI LÁ (HMN).
DESTA VEZ POR MENOS TEMPO, A METRÓPOLE ESTAVA PERTO.

MUITA COISA FICOU POR DIZER, JÁ VAI LONGA A CONVERSA E O VOSSO TEMPO É PRECIOSO.

UM ABRAÇO A TODOS.

sexta-feira, 14 de abril de 2017

A minha música nos idos anos de 60/70, por Paulo Lopes


Paulo Lopes 


Boa tarde minha querida amiga Maria Faria.



A musica é e sempre será um universo de sensações dispares cujos gostos se alternam em extremidades que, ao contrário de outras, são impossíveis de se tocarem. 

Isto porque, quem adora num sentido extremo o rock, decerto detesta o pimba! 
Por isso ser-lhe-á muito complicado chegar a um consenso em relação à matéria que se propôs criar em trabalho. 

Mas lá vai a minha fraca e humilde participação: para mim será muito complicado afirmar que este ou aquele tema deste ou daquele grupo ou individuo me marcou a mente porque o que me marcou e marca é a própria musica. 

Em relação ao que se ouvia quando estávamos na guerra, também não lhe vou adiantar nada porque, na Mataca, completamente isolados, o que se ouvia era musica que passava na rádio e essa, muito sinceramente, se a ouvia era apenas som que entrava num lado e saía do outro sem ficar absolutamente nada porque, o que se ouvia, canção sim, canção não, era Roberto Carlos e outros iguais cujos nomes agora me escapam. 

Agora, se recuarmos um pouco o tempo, o antes da Mataca e ainda em Lisboa mas já numa fase de pré-guerra, aí poderei já, efectivamente dizer o que ouvia e o que ouvia baseava-se muito no rock; jazz; blues; country e baladas de intervenção (mas não significa que não ouvisse, com interesse, outras coisas). 
Dizia eu num pretenso livro que rascunhei e cujo conteúdo já foram passados aqui alguns (demasiados para alguns) trechos mas que este tema torna viável recordar mais este e que talvez sirva para a sua tese:
..................................
"E assim ia eu passando a minha certinha vida, pobrete mas alegrete, entre o escritório duma concessão de automóveisda marca Opel (onde o Eusébio, mítico jogador de futebol sobejamente conhecido, achado num clube desportivo de Moçambique e arrancado ao eminente pé descalço, foi comprar um carro ou disso fez intenção) e as aulas, intercaladas com
umas fitas nos cinemas Imperio; Imperial; Avis; Odeon; Politeama; Max e outros. 



Uns mais para a fineza outros mais para o piolho (nunca disso fazendo grande distinção), misturando pelo meio umas passagens na Portugália dando umas tacadas nas bolas de snooker ou, de estilo mais emproado, num bilhar às três tabelas, preocupando-me muito mais com a mesa onde permanecia uma travessa de batatas fritas com mostarda e na imperial que estava a perder a pressão, do que propriamente na pontuação que ia obtendo no combate bilharesco, nunca descurando, quando possível, uma paragem no Parque Mayer, colando os ouvidos a uma maquina de discos (invenção americana dos anos cinquenta, creio eu) metendo uma moedinha, percorrendo com os dedos e olhos o numero e letra que dava acesso ao que queríamos ouvir: Everly Brothers; Tremeloes; Chuck Berry; Kinks; Byrds; Crispian St. Peters; The Walker Brothers; Procol Harum; Jimi Hendrix; Scott Mackenzie; Manfred Man; The Move não esquecendo claro está, The Beatles ou, noutro estilo de rock, The Rolling Stones, não variando as composições porque os vinis eram inevitavelmente os mesmos, viro-disco-e-toco-mesmo, sempre com a esperança de um dia, com um pouco de sorte, pudesse chegar ao luxo de ter uma aparelhagem e discos próprios em casa (coisa que só alguns, muito poucos, a isso tinham acesso)."


......................................

Creio que este trecho já diz um pouco sobre a sua pergunta mas, ainda faltam muitos que me marcaram e que poderei mencionar como, por exemplo: Bob Dylan; Donovan; Tem Yerars After; Credence Clearwater Revival; Simon & Garfunkel; Steve Miller Band; Barclay James Harvest e muitos outros que a década dos nossos dourados anos criou.

Agora perguntará a Maria Faria: "E Portugueses?"

E eu repondo: o inevitável Zeca Afonso (que me desiludiu muito depois da revolução por se ter "vendido" ao partidarismo cego): Fernando Lopes-Graça; António Pinho Vargas; José Mário Branco e outros que, na altura da guerra pouco ou nada era ouvidos pelas razões óbvias.

E pronto. 


Desculpa esta longa resposta ao pedido mas o culpado foi o Luís Leote ao dizer que eu seria a pessoa indicada para tal informação o que, pelo descrito, é totalmente errado porque o que eu ouvia e gostava, não era, de forma alguma, o comum dos tempos de guerra! 

Mas, dos outros, eles que se prenunciem! Apenas falo por mim e pelos meus gostos musicais.

Um beijo.
Paulo Lopes

terça-feira, 11 de abril de 2017

OS CHEIROS OU ODORES, por Duarte Pereira


OUTRO TEXTO APANHADO AO SR DUARTE.

OS CHEIROS OU ODORES



QUEM PASSOU MAIS DE DOIS ANOS "NAQUELA TERRA" NÃO PODERÁ ESQUECER....


A CHUVA NO MATO, NOS CAMUFLADOS, O PEIXE SECO, DO SUOR, DA FALTA DE BANHO, DAS POPULAÇÕES RESIDENTES.
 
NÃO ESQUECENDO O DA GASOLINA E GASÓLEO DAS VIATURAS, DOS SORTUDOS, O DO SEXO.

QUEM TEVE A OPORTUNIDADE COMO EU, DE OUVIR, VER, CHEIRAR E BANHAR O OCEANO ÍNDICO.

NEM QUERO FALAR DO CHEIRO DO FRANGO À "CAFREAL", DO PEIXE E JAVALI, FRITOS OU ASSADOS.



DOS PETISCOS DO PRIMEIRO SARGENTO SILVA QUE FOI DE CASTIGO PARA O ALTO DA PEDREIRA. 

PENA O CASTIGO NÃO TER SIDO TODOS OS MESES DA COMISSÃO. 
SERIA BOM PARA ELE E PARA TODOS OS QUE FORAM "ABENÇOADOS" COM CASTIGO NA NOSSA COMPANHIA E COM A NOSSA COMPANHIA FORA DE PORTAS.
 
APANHEI UMA CHUVADA DAS GRANDES, ACHO QUE FIQUEI CONSTIPADO SEM CHEIRO OU ODOR.