quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

BRINDEMOS À VERDADE DOS HERÓIS, por Paulo Lopes



Foi o Duarte Pereira que pediu! Não me culpem de mais estas páginas.

BRINDEMOS À VERDADE DOS HERÓIS
(que souberam dizer, não)
 
O esquecimento de quem viveu tempos difíceis é impossível.
 
Não de dificuldades materiais.
Falo de dificuldades mentais absorvidas pelo conteúdo de medos complementados por apertos de alma e escassez de esperanças.
E por isso as recordações, levam-me a pensar que muitos homens embarcaram para o Ultramar.
 
Alguns sofreram apenas a distância que os separava da família.
Outros sofreram até à morte.
Outros ainda, perderam pernas, braços e a vontade de viver.
 
Houve, decerto, alguns a quem a sorte bafejou a vida (ainda bem para eles), que passaram toda a campanha numa cidade, dentro de um qualquer quartel, como se apenas tivessem ido cumprir o seu serviço militar um pouco mais longe da sua terra natal.
Mas também a esses, lhes apertou no peito as saudades e a falta dos seus familiares.
Dirão, por desconhecimento, por estupidez ou simplesmente, por total ignorância, que não foi assim tão mau, que o Vietname foi bem pior, que...
 
Nunca souberam o que era sentir saudades de tudo, até duma simples bica, como toda a minha Companhia e outras que, talvez pelo isolamento, talvez devido ao constante jogo de vida e de morte, talvez por todo um conjunto de fatores de desmoralização, talvez por termos visto o nosso próprio sangue e o sangue do inimigo, talvez por termos vivido no centro da guerra, talvez por os nossos ouvidos se ensurdecerem com o estalar de bombas e tiros, talvez por termos brincado com a morte, talvez por termos passado fome e sede, talvez, por tudo ou por nada disto, deveríamos ser todos compensados pelo destino.
Todos nós, cuja juventude ficou perdida, mas que tivemos a sorte de regressar, viemos cansados, dinamicamente falidos.
Haverá os que nunca mais vão recuperar!
 
Por mim, vou novamente lutar, mas agora, contra a minha própria memória, contra toda e qualquer forma do passado.
 
Vou recuperar!
Agora sim, agora sei qual a razão da minha luta.
Conheço definitivamente as causas.
Vou acabar em mim com todo o ódio gerado na guerra.
Apagar todas as fogueiras que fiz arder.
No entanto, hoje e já alguns anos distantes do que passei, sinto um constrangimento: existe um intervalo, um vazio no tempo e no espaço.
Uma linha indefinível e inexplicável que separa o eu de ontem e o eu presente.
Ainda hoje conservo um sentimento de revolta que me obriga a não perdoar e desconfiar de todo e qualquer politico ou governante.
 
Jamais esquecerei que, à custa do sangue, do medo sofrido, da deterioração cerebral, do desgaste psíquico e até da própria vida de muitos jovens, andam hoje, a ser aplaudidos, levados em ombros e até adorados, nomes que foram potenciais causadores de todo um quadro degradante, de todos estes anos perdidos, de tantas vidas desfeitas.
 
Nomes que voam por cima.
Que aparecem nas primeiras páginas dos jornais, revistas e noticiários como grandes heróis, salvadores de um povo, lavradores de uma independência!...
 
Gentalha podre de rica à conta de "cambalachos" e corrupções, de esmagamento de vidas alheias, de prepotências desmedidas, que ironicamente, hoje são, grandes comunistas, socialistas, sociais-democratas, revolucionários, esquerdistas, direitistas e do que mais estará para vir, que eles mesmo — sempre os mesmos— inventaram.
 
Enfim, grandes e fervorosos defensores da democracia, dos direitos dum povo, da paz dos portugueses e do mundo!...
Filhos da p...!
 
Contudo, o que me faz ainda doer mais, é que estes senhores, civis ou ainda militares, aproveitadores duma falsa libertação dum povo oprimido durante séculos, donos do mundo e da vida, continuam e continuarão a ser sustentados e levantados aos céus por aqueles que outrora perderam a juventude servindo os interesses de quem nunca se interessou por eles.

Portugal viu partir muitos soldados.
Uns nunca mais voltaram.
Outros regressaram como grandes heróis que nunca foram.
Grandes combatentes de batalhas que nunca sentiram.
Expoentes máximos no conhecimento de guerrilha que heroicamente travaram nos cafés e esplanadas das diversas cidades Moçambicanas.
 
Muitos, que realmente foram verdadeiros heróis, com todo o seu medo de combater, com todo o seu receio de ter que disparar a sua arma, com todos os sentidos em pleno desespero, com toda a sua virtude de voltar costas à guerra, passam despercebidos no meio da multidão que corre loucamente, não para acarinhar os jovens que já esqueceram que foram jovens, mas sim, para aplaudir e dar vivas a uma qualquer miss de Portugal ou uma qualquer equipa de futebol que, algures, nesse mundo, que transborda paz e alegria, obtiveram um lugar de destaque.
 
Multidão que corre a aplaudir e festejar vitórias de todos esses partidos políticos, que existem no nosso Pais à beira-mar plantado, comandados por senhores tão democráticos como os de outrora.
 
Tudo o que para trás ficou escrito serve apenas para homenagear todos aqueles desventurados que, sem saberem a razão, tombaram na defesa da mentira dos poderosos.
 
Também não passa dum forte abraço a todos os heróis sem medalhas, que, perdidos no tempo e na memória, passam despercebidos, sem histórias mal contadas para dizer.
 
Quero aplaudir todos aqueles que determinados e convictos, conseguiram fugir a muitas ordens dadas por desmedidos animais ao serviço do poder.
Quero coroar todos os que, à maneira de cada um, foram suficientemente heróis para dizer NÃO a muitas operações, fugindo delas como podiam, não acatando ordens daqueles que nunca estavam no local para as poder fazer cumprir.
 
Não peço desculpa dos erros cometidos ao longo da minha campanha porque, tenho o instinto do animal homem e o ódio recalcando as feridas que constantemente se abriam na minha alma e no meu ser, feitas pelas horas de angústia e receios, que me obrigavam a ter atitudes de fera ferida.
 
A minha arma só disparou quando defendia a minha integridade física e a dos meus companheiros e nunca com o pensamento de matar, apenas por matar, apesar de muitas vezes o meu pensamento se ter deixado desviar par um sentimento de ódio contra os que não eram, de modo nenhum, os verdadeiros responsáveis daqueles miseráveis tempos perdidos.
 
Gostava também de deixar uma palavra aqueles que, por opção ou por fuga à vida de difícil passagem, foram tentar uma vida melhor nas Províncias Ultramarinas e que por lá ficaram formando as suas famílias, dando o seu melhor, trabalhando honestamente sem fazer fortunas, à custa do suor dos nativos e que, por culpa desses tais políticos defensores e salvadores dum povo, tiveram de fugir deixando para trás toda uma vida construída com suor que foi vendida por esses ─ ainda estes ─ falsos salvadores que, estes sim, à custa da “venda” abruptamente concretizada entre malfeitores das duas partes envolvidas e do trabalho alheio continuam a viver uma vida regaladamente despreocupada.
 
Quero, por fim, desejar que não existam mais "ultramares" mas, se guerras existirem, que obriguem os jovens a ir para a frente da batalha, que seja por causas verdadeiramente justas e que definam uma vida de esperança convertida em realidade num mundo onde as próximas gerações tenham o prazer de viver em paz.
 
Mas... não me parece que assim seja.
Não o foi.
Não o é.
Duvido que o venha a ser.
 
Apesar de ser o FIM desta minha rebusca às memórias dos tempos perdidos, a vida prossegue e os homens continuam a destruir-se uns aos outros, em cadeia, como uma bola de neve... os poderosos continuam a existir.
 
Os malfeitores continuam a mandar e comandar!
Apenas os nomes mudam.
Mas a historia, a democracia por estes inventada, essa... tudo como dantes. Quartel-general em Abrantes...

paulo lopes
in "Memórias dos Anos Perdidos ou a Verdade dos Heróis"

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Duplamente Triste..., por José Guedes


Hoje, dia 06-01-2014...

Um dia triste pelo Adeus a um Homem que entristeceu o país, porque foi um grande jogador do Benfica e da Seleção, mas também pela sua postura de uma pessoa simples, um bom exemplo, eu também não fiquei indiferente a tudo isto... mas não me posso esquecer que no mesmo dia também houve um funeral de um colega nosso o que me deixou duplamente triste...
Este amigo que tal como eu era motorista da CCS.
Em pouco tempo partiram dois amigos, que sempre recordarei por uma situação que se passou em Macomia.
Estava preparado para uma coluna para o Chai e já tinha o Unimog 404, carregado de mantimentos e estacionei junto á porta de armas.
A partida estava atrasada, quando apareceu o falecido David (analista), a pedir um condutor para ir buscar um tanque de água. Como não estava mais ninguém por ali, o meu alferes mandou-me a mim.
Entretanto a coluna teve que avançar e eu ainda não tinha chegado teve que avançar outro, que foi precisamente o Vassalo, que hoje se enterrou.
Passado algum tempo depois de terem partido tivemos conhecimento de uma mina que tinha rebentado no Monte dos Oliveiras, precisamente no Unimog, que ele conduzia, quando devia de ter sido eu a ir...
Felizmente não sofreu nada, mas a viatura ficou com a frente bem desfeita.
A seguir acabei por ser eu e o Major de operações (Fernandes), só os dois a fazer aquela viagem até ao local da mina, mas nada nos aconteceu.
Eu tinha os Anjinhos do meu lado, porque tive mais situações idênticas.
Em espaço de pouco tempo faleceram os dois quando nada o fazia prever.
Um dia ainda nos vamos encontrar e falar novamente deste episódio.
Para eles que partiram um abraço de saudade...
e que estejam em paz,...



sábado, 11 de janeiro de 2014

Inutéis e Descartáveis..., por João Novo

João Novo BATALHÃO DE CAVALARIA 3878

Este artigo, é para todos aqueles que vivem da sua reforma, e que achei por bem publicar, para ler e meditar, foi-me enviado por um amigo.

O Escritor, Jornalista e meu Amigo Joaquim Vieira, dispensou-me amavelmente este seu Artigo, que ontem foi por ele lido na ANTENA 1:

Há um país onde a lei diz que todos são iguais, mas onde há uns menos iguais do que os outros...

Estes ajudaram a erguer o país, e muitos até foram à guerra em nome desse mesmo país.
Mas agora são gente pacífica, de físico debilitado e cujas vozes não chegam ao céu.
Não ameaçam ninguém, não paralisam o trabalho e já não cumprem os padrões de produtividade exigidos.
Adoecem mais do que os outros, e são considerados um fardo para a sociedade pelo que custam em tratamentos.
Não trabalham para pagar o que gastam, embora já antes tivessem trabalhado para pagar o que recebem.
O poder político desse país entende que vivem acima das suas possibilidades e que por isso são uma dor de cabeça.
 

Acha mesmo que seria mais fácil governar se eles não existissem.
Conclui assim pela sua inutilidade, que estão a mais, que são descartáveis.
Não se importa de lhes dificultar o acesso à saúde, porque é indiferente que morram mais cedo.
Talvez seja até preferível, porque morrendo mais cedo ajudam a melhorar o exercício orçamental.
 

Sendo alvos fáceis e dóceis, sem capacidade contestatária e sem instrumentos de pressão, nada custa retirar-lhes direitos e regalias antes julgados vitalícios.
Sendo solidários e ajudando os familiares mais carenciados, não recebem em troca a solidariedade do poderes públicos.
 

Pelo contrário, são os primeiros na linha de fogo, e quando o poder sente alguma aflição financeira é a eles, e muitas vezes só a eles, que começa por retirar as verbas necessárias.
 

Mesmo que a suprema autoridade judicial se interponha, declarando ilegal tal prática, os governantes não se sentem na obrigação de acatar a restrição, antes a contornam e insistem no mesmo.
E insistem retirando-lhes ainda mais verbas, e retirando a mais vítimas do que antes tinham feito.
 

Não dizem que aumentam o confisco, mas que estão a recalibrar.
Dizem também que não é um imposto, quando tem toda a forma de um imposto – e um imposto agravado.
Um imposto que se aplica apenas ao tal grupo e não a todos os contribuintes do país.
 

Esse grupo são os velhos, e o país, onde não há lugar para velhos, chama-se Portugal.
 

É um país descalibrado, onde manda muita gente sem calibre.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Enfermeiras para quedistas..., por Horácio Cunha

 
 
Li com alguma emoção este texto.
Há tempos, já aqui falei, um pouco detalhadamente, destas mulheres enfermeiras e do seu importante papel em prol dos nossos feridos e estropiados daquela guerra.
Conheci o seu humanismo e o seu sangue frio.
 
Na C Cav.3509, à qual pertenci, como é sabido, atuaram duas vezes, em circunstâncias difíceis, em plena picada e em risco iminente, com os nossos camaradas condutores feridos - Manuel Lopes e Reis.
 
Numa dessas evacuações, uma ainda vinha com as botas (que eram iguais às nossas) por atacar e segundo me confidenciou, enquanto ambos socorria-mos o nosso ferido, estava a descansar um pouco, após grande cansaço, quando foi de novo chamada de emergência para aquele serviço e teve de calçar as botas rapidamente e correr para o hélio que já a esperava, não lhe dando tempo de as atacar.
 
Como nota direi que esta jovem que evacuou o Lopes na picada, por coincidência, foi a mesma que, dias mais tarde, o acompanhou no avião dos feridos que o trouxe para a Metrópole.
E, muito embora o tempo decorrido, reconheceu-o, ficando estupefacta, segundo ele, por lhe terem amputado a perna.
 
Estas jovens enfermeiras para-quedistas caíram, tal como nós, no esquecimento de muita gente, que não reconheceram o seu alto valor altruísta de desempenho, que então realizaram.
 
Deixo aqui, mais uma vez, a minha enorme gratidão e homenagem a essas mulheres, hoje de proba idade e que tão bem são personalizadas, no texto acima apresentado pelo nosso amigo Luís Leote.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Se eu fosse poeta, por Paulo Lopes


Se eu fosse poeta
e viesse a compor
um poema perfeito
seria para ti.

Se esse poema fixasse minhas horas
mostraria que em tudo te encontro:
nas palavras o teu nome
nos meus olhos fechados a tua imagem
nas pessoas a tua presença
nas crianças o teu sorriso.

E nesse poema perfeito
se o desfiasses palavra por palavra
verias nele luz vida e cor
porque o poema eras tu.

paulo lopes (1975)




 

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Serei pretensioso?..., por Fernando Lourenço

Fernando Lourenço
Fernando Lourenço 2013/12/13

Dei comigo a pensar se não seria achado de um pouco pretensioso a minha colocação de certos artigos.

Estas chamadas de novas tecnologias são na verdade fantásticas, viciantes nalguns casos mas proporcionam uma comunicação entre pares que deverão ser aproveitadas.

Não é fantástico que um "gajo" que já não vejo há perto de 40 anos, que foi para o Brasil deixar crescer a barriga, vem comunicar connosco porque nos encontrou na net?

Se nos víssemos na rua de certeza que não nos falávamos pois não nos reconheceríamos.

Utilizo imenso a net por motivos profissionais e também como lazer, e o único grupo a que pertenço é este.

Deu-me imenso prazer e gozo colocar perto de duas centenas de fotos da nossa guerra e comentar algumas e agora que já não tenho mais para colocar dá-me prazer colocar algumas... curiosidades e ler outras que outros "postam" que só vem enriquecer-me.

E a página é uma continuação do que nós fomos, camaradas solidários, respeitosos, aprendemos muito uns com os outros, muitas vezes sem distinção entre oficiais, sargentos e praças.

Pelo menos quando a "xicalhada" não estava por perto.

Claro que não há rosas sem espinhos e esta "modernice" não é exceção.

Há sempre quem se queira aproveitar e a coberto duma impunidade por enquanto não legislada, seja insultuoso para com outros, mentir sobre si mesmo dando a entender serem o que não são, e em alguns casos extremos com consequências gravosas.

Que o digam alguns pais.

Mas voltando á frase como comecei, serei pretensioso?

As anedotas aqui colocadas 99% já as conheço.

Participar em conversas que não me dizem nada não sou capaz.

Ainda me recordo duma fase que a página passou em que se contava os comentários, todos sem nexo, só para chegar aos: "é pá já vamos em trezentos e quarenta e nove comentários".

Mas ficar a saber que a formiga cai sempre para o mesmo lado para mim desculpem lá é fascinante.

Obrigado Luís Leote.

As minhas desculpas pelo tempo que vos tomei.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

RESENHA, QUASE DO FIM DO ANO..., por Duarte Pereira

Duarte Pereira
Duarte Pereira BATALHÃO DE CAVALARIA 3878
2013/12/14
RESENHA, QUASE DO FIM DO ANO...

O FERNANDO LOURENÇO FEZ À SUA MANEIRA, UM APANHADO DE CERTOS EPISÓDIOS DA FOLHA E OUTROS CONSIDERANDOS, COM INTERESSE, UM BOM ARTIGO.
CADA UM ESCREVE À SUA MANEIRA E COM A QUEDA QUE TEM.
AO PRINCÍPIO QUANDO A FOLHA NASCEU OU FOI "PARIDA", ERA TUDO UMA NOVIDADE.
HAVIA A FEBRE DE "GATAFUNHAR" BATER RECORDES, VER AS FOTOS NOVAS, RECORDAR E TENTAR UMA MAIOR APROXIMAÇÃO. LEVEI MUITO "NAS ORELHAS", POR APRESENTAR TEMAS "DESVIANTES", "BONECADA", COI...SAS QUE EU PENSEI E AINDA PENSO. "LEVITAR" UM POUCO O PESO DAQUELES MAIS DE DOIS ANOS EM MOÇAMBIQUE.
CADA UM NA ALTURA PROCUROU O MELHOR PARA SI.
MAS OUTROS LEVAVAM COMO MISSÃO.
"TAMBÉM PARA OS OUTROS", FOI GRATIFICANTE PARA MIM E SÓ POSSO FALAR POR MIM E NÃO GOSTO DE FALAR DE MIM, ACHO QUE CONTRIBUÍ UM POUCO, PARA A SEGURANÇA, BEM ESTAR E ALIMENTAÇÃO DOS QUE ESTAVAM COMIGO.
FIZ PORCARIA? 
FIZ !!!...
MAS NUNCA MANDEI NINGUÉM PARA A FRENTE, SEM EU IR UM POUCO MAIS ATRÁS. 
AGORA UM LOUVOR PARA MIM.
"ANDEI SEMPRE NAS OPERAÇÕES COM SACO ÀS COSTAS, COMO OS OUTROS QUE ME ACOMPANHAVAM".

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Boas Festas, por João Marcelino

"BOAS FESTAS"
 
Sendo a Saúde a Pérola mais Preciosa que se pode adquirir na vida de cada um de nós, desejo pois que ela faça parte da vossa Ceia de Natal e com um excelente acompanhamento de Fraternidade, Paz, Alegria e muito Amor e que essencialmente nunca vos falte nada.
 
Estes são os meus votos muito sinceros para todos os amigos, camaradas e seus familiares de dentro ou fora desta "página".
 
Quero Prestar Aqui a Minha homenagem a todos os Militares que fizeram parte deste Grande Grupo de Homens que formaram o Batalhão 3878.
 
Em Que Arriscaram Muitas Vezes as Suas Vidas em Prol Sabes lá de Quê !..
 
Não Esquecendo Tambem Todos os Camaradas Que Já Perecêram e Que Por Isso Já Não Estão Entre Nós, Para Esses Vai o Meu Grande Abraço de Enorme Saudade Onde Quer Que Eles Estejam e que Descansem em Paz...
 
UM SANTO E FELIZ NATAL PARA TODOS e LEMBRAI-VOS QUE O NATAL É QUANDO UM HOMEM QUIZER !..
 
 

Foto de João Marcelino.

 

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

O "Treme, Treme"..., por Fernando Bento

Foto Google

29 de Julho de 2013 22:12
Quando os Sapadores chegaram a Stª Margarida para integrar o I.A.O. (vínhamos de Bragança de dar uma especialidade de sapador), já todas as companhias se encontravam espalhadas pelas matas de Stª Margarida.
Ao chegarmos ao RC 4, fomos informados dessa situação e conduzidos de imediato, para o local onde estaria a C.C.S..
Depois de nos termos apresentado, tentamos arranjar sítio para dormir.
Sitio para dormir arranjamos, mas não havia colchões disponíveis, então fomos falar com o alferes Antunes, que era o Comandante de Companhia (depois tenente), para nos arranjar uma viatura para irmos buscar colchões.
Quando estávamos a falar com ele reparamos que o homem não parava de abanar a cabeça em sinal negativo, então o António com a sua perspicácia toda retorquiu: mas meu alferes, chegamos agora, não temos colchões, onde é que dormimos?...
O alferes, sempre a abanar a cabeça, respondeu: 
Ó homem, quem é que lhe está a dizer que não!
Vão lá buscar os colchões.
O homem ficou então conhecido pelo "treme, treme".

domingo, 22 de dezembro de 2013

1º DIA DE LIBERDADE LABORAL (ou talvez não), por Paulo Lopes


1º DIA DE LIBERDADE LABORAL
(ou talvez não)

O mar estava calmo como sempre, ou quase sempre, porque o sempre nem sempre é sempre, e entrava suavemente pela areia normalmente fina da belíssima praia da Vila de Sesimbra e que, estranhamente, ou não, tem o nome de Califórnia.
Da esplanada ouve-se o inconfundível ruído das suaves ondas a deslizar areia dentro areia fora, numa lentidão apaziguadora de males espirituais.
Não consigo ver fisicamente todo este encontro e desencontro entre o mar e o areal seco porque estou num nível um pouco mais elevado e recolhido desse espetáculo, mas nem necessito de fechar as pálpebras para sentir o mar a entrar, deslizar e novamente ser empurrado pelo leve ondear para dentro da praia num vai e vem constante e melancólico, dando-me uma sensação de paz e bem-estar.


E ainda houve alguém que me tenha dito, dias atrás: vais-te arrepender! Vais ter saudades!
Outros avisavam em tom acusatório: no início tudo bem, mas depois aborreces-te!


A todos eles eu respondi com relativa calma: aborrecido ando eu de estar aqui oprimido e pressionado por engenheiros que não o são e por “putos” que têm a mania que sabem tudo e mais que todos, desejosos que o mundo gire à sua volta convencidos que tudo pararia se eles não existissem.
Aborrecido ando eu aqui no meio desta gente que coloca os cifrões acima das pessoas e se pisam uns aos outros para obterem um pouco mais de poder.
Aborrecido ando eu de ver, constantemente, pavões a abrir as suas coloridas asas e rebolarem as suas penas pelo focinho dos camelos que os sustentam.
Aborrecido ando eu de andar aborrecido! Disto é que eu ando aborrecido e farto!...


E aqui estou eu, relaxadamente a beber uma bica, a deixar entrar no meu interior toda esta calma que o mar me proporciona, pensando no que me diziam e também numa auto pergunta: será que eu também fui como estes “putos” de que agora “fugi” e não teria afugentado também alguém que, nesse tempo, pensaria de mim o que eu agora penso dos que falo?
Será que quando me colocaram à frente de pessoas mais velhas e a chefiá-las, eu também lhes dei a sensação de querer o poder à custa do rebaixamento, do acalcar repressivo, em detrimento e exclusão do principal e do que eu sempre segui e coloquei à frente: as pessoas?...
Até me arrepio…

Mas deixemos para trás as constantes e repetidas palestras, os mesmos avisos de quem, muito provavelmente, estaria com vontade também de ir embora, mas que lhes ia faltando coragem para isso.
Amanhã, ou depois, nem desses avisos me vou recordar e se por qualquer razão ocasional me vierem à memória tais palestras, apenas dará para me colocar sorrisos no meu semblante.


Estamos em Outubro, ou melhor, ainda bem que estamos em Outubro porque, com um pouco de egoísmo, tenho a praia quase exclusiva para mim o que, deixemos nos de falsos pensamentos, é ótimo: o areal é meu, as ondas são minhas, a praia é minha e até a esplanada, não tem quem tente olhar para os meus movimentos!
E então pensei: que estou eu a fazer aqui sentado no café se posso estar ali, um pouco mais a baixo, dentro daquela maravilhosa água?
E ainda não estava a pergunta totalmente completa e já me levantava a caminho de um mergulho.

Afinal, apesar de estarmos em Outubro, o sol ainda aquece suavemente o nosso corpo e por isso, a praia não estava deserta, o mar não era só meu e as ondas tinham que ser repartidas: aqui e ali, como salpicos na areia, encontravam-se pessoas isoladas e uns dois ou três casais.
Mais ao longe, um pescador tentava a sua sorte ou talvez apenas matava o tempo, enterrando na areia as suas canas de pesca que, reparei depois, serem umas quantas e espalhadas pelo areal da praia.

Um dia destes tenho de ir pescar!
Pensei eu enquanto seguia os movimentos do pescador avarento, que queria a praia totalmente para seu uso exclusivo de serviço piscatório.
Provavelmente também pensou que em Outubro, ninguém teria no seu horizonte perder o seu tempo na praia!

por Paulo Lopes
Paulo Lopes

No dia em que o inimigo fugiu de mim... e eu dele..., por Manuel Cabral


Foto de Duarte Pereira.
Manuel Cabral
Duarte Pereira
Duarte e Lourenço,

Pois é, meus amigos, já passaram 40 anos desde a minha chegada a Macomia, para me juntar à CCAV 3509 e à vossa companhia!

Vocês regressaram nos princípios de 1974 e só nessa altura - com a chegada do Batalhão de checas, é que eu entendi o que era essa raça medonha de recém chegados da Metrópole!
Uma cambada de ignorantes, que diariamente punham a si e aos seus em eminente perigo!...

Lembro-me de uma das primeiras colunas que fiz com eles, subi na Berliet em frente ao quartel e o gajo arranca por ali abaixo, passa o cruzamento (da estrada para o Chai) e lá vai ele em direcção ao Alto da Pedreira, a todo o gás!
Como imaginam fui a viagem toda com o credo na boca!
 
Louvei por diversas vezes a sorte que tinha tido em apanhar uns gajos já tarimbados, o que facilitou a minha integração na realidade do local e do momento!
 
Lembro-me de ser assediado - já não me lembro por quem! - para trocar as minhas divisas novinhas de furriel por umas já usadas!
 
Enfim, os tempos que passei na vossa companhia nem foram assim tão maus!
 
Como o Duarte dizia no outro dia, havia ainda as escapadas ao Mucojo para uns banhos de praia, umas lagostas e ainda umas pequenas pérolas de que trouxe oito exemplares com que fiz um anel que ofereci à minha mãe!
 
E havia o Benfica e o Sporting, dois bairros do Mucojo, onde havia umas nativas sempre disponíveis para acalmar os ânimos...
 
Nas "protecções" que fazíamos às obras da estrada, ainda me lembro de levar uma daquelas camas de lona de praia, azul petróleo, e dormir até à hora do regresso...
 
Só uma vez tive contacto com o "inimigo", mas já não me lembro se foi ainda no vosso tempo, ou se terá sido depois.
Tinha ido numa patrulha rotineira - éramos largados num dia e recolhidos no outro, na nossa estrada - e ao final do dia caiu uma chuvada do "caraças".
Abrigámo-nos debaixo de uma árvore a aguardámos o amanhecer.
Durante a noite ouvimos umas explosões ao longe, mas com o temporal nem tivemos a certeza do que seria.
De manhã. com o clarear do dia e sem chuva, qual o nosso espanto ao vermos que aí a uns 150 metros estavam uns gajos a levantar-se também! Era o "inimigo"!
Não sei quem apanhou o maior susto - se nós (uns 10 heróicos defensores da Pátria!) se eles, um pequeno grupo de guerrilheiros!
 
Nós pensámos que eles tinham ido atrás de nós, a partir duma daquelas bases que tinham na região, e eles - soubemos depois que tinha havido um ataque a um aquartelamento, talvez o Chai, já não me recordo - devem ter pensado que nós éramos ou páras ou comando, lançados em sua perseguição!
 
Lembro-me que nós nos espalhámos numa linha e começámos a andar na direcção da "nossa" estrada, e eles, espalharam-se em linha e foram andando para o outro lado!
 
Dois grupos sensatos de inimigos!
 
Mas isto foi quatro décadas atrás!

Abraço

Manuel Cabral (2013-2-10)

domingo, 15 de dezembro de 2013

Tocam os sinos, por Luís Leote


Tocam os sinos
 
 
Quando andava na instrução primária, a professora pediu aos meninos que fizessem um verso alusivo ao Natal.
 
 O verso teria de começar assim:
Meia noite, tocam os sinos.
Ainda hoje me lembro do verso que fiz e sem ajuda

"Meia noite, tocam os sinos
e as mães guardam segredos
de manhã, os pequeninos
correm, a ver os brinquedos"


 

sábado, 14 de dezembro de 2013

O dia vinte e cinco de Dezembro chegou..., por Paulo Lopes

Da direita para a esquerda: Paulo Lopes, José Capitão Pardal e João Novo
Paulo Lopes

O dia vinte e cinco de Dezembro chegou trazendo consigo o Natal que foi passado sem árvore (das de Natal porque das outras, havia muitas!!!...), sem prendas, sem o calor da família, sem o prazer de dar e receber, sem a presença dum sorriso de criança, sem o bacalhau com couves ou as filhós amassadas e fritas, na véspera até altas horas da madrugada, para que estivessem "fresquinhas" e postas nas mesas para uma noite de consoada passada em família.

Nada.

Enfim, sem Natal.

Nem tão pouco o habitual frio existia neste dia de Natal, que caracteriza de forma inconfundível esta época do ano para os lados do Continente!...

Mas como diz o povo: Natal é quando o homem quiser.
Bonitas palavras!!!...

Foi uma noite e um dia, que se passou e era esse o meu (continuo a pensar que nosso) grande objetivo: passar os dias e as noites, um de cada vez, sem que os minutos parassem, nem a luz do radiante sol do próximo dia, nos deixasse de iluminar os olhos, o corpo e a alma.

A única novidade desse dia, pelo raro que era, resumia-se ao facto de nenhum grupo de combate estar fora do estacionamento.



 paulo lopes
in "Memórias dos Anos Perdidos ou a Verdade dos Heróis"

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Natal, por Paulo Lopes

Paulo Lopes


PRESENTES DE NATAL

Não sabem os homens
que o sonho da criança
ultrapassa a barreira da ilusão
voam mais alto que as nuvens
criam fortalezas de esperança
onde nasce a sua confusão.

paulo lopes


NATAL

E eis que os focinhos
se elevam para o humano
arrebitam orelhas
para ouvirem os sinos

Levantam os olhos
para enxergarem luzes
vestem-se de bondade
constroem o presépio

Inventam os minutos
e olham curiosos
o rodar dos ponteiros

Mascaram-se...

paulo lopes (Moçambique / Mataca (1973)

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Armando Guterres, por Duarte Pereira

Armando Guterres - Foto Duarte Pereira
 
CONTO "QUASE DE NATAL"
 
NASCEU PARA OS LADOS DA SOALHEIRA, DEVE TER TIDO UMA JUVENTUDE MUITO DIFERENTE DA NOSSA.
 
FREQUENTOU O SEMINÁRIO ONDE OBTEVE A ARGÚCIA NO SEU COMENTÁRIO.
 
PASSOU NA TROPA POR LOCAIS ONDE ALGUNS DE NÓS PASSÁMOS, MAS SEM "LEVANTAR ONDAS".
 
NÃO SE ESCONDIA NA "SOMBRA", MAS ANDAVA NA "PENUMBRA".
 
FOI MOBILIZADO E ANDOU NAS "TREVAS", MAS POUCOS DE NÓS O NÃO CONHECEM.
 
O "CABEDAL" NÃO É GRANDE, MAS CONSIDERO-O UM GRANDE HOMEM.
 
FOI UM PRAZER TER ALMOÇADO E CONVIVIDO CONTIGO NO SÁBADO PASSADO, 30 DE NOVEMBRO E ESPERO QUE OS OUTROS ELEMENTOS QUE COMPARECERAM PARTILHEM DA MINHA OPINIÃO.
 
OBRIGADO ARMANDO GUTERRES.
 
GOSTO DE PESSOAS SIMPLES "SEM PENEIRAS" . !!!!